O secretário-geral da ONU exortou nas últimas horas Estados Unidos e Rússia a retomarem a plena implementação do Novo Tratado Estratégico de Redução de Armas (New START), após o presidente russo anunciar a suspensão da participação de Moscovo. Para Vladimir Putin, "as elites do Ocidente" devem entender que "é impossível derrotar a Rússia no campo de batalha".
"Os Estados Unidos e a Rússia devem retomar sem demora a plena implementação do New START. O New START trouxe paz não só aos Estados Unidos e à Rússia, mas também a toda a comunidade internacional", disse à imprensa Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres.
De acordo com o porta-voz de Guterres, "um mundo sem controlo de armas nucleares é muito mais perigoso e instável, com consequências potencialmente catastróficas", razão pela qual reiterou a necessidade de não poupar esforços para regressar ao diálogo.
"É vital que o compromisso de alto nível entre as duas potências nucleares mais poderosas do mundo continue e é por isso que apelamos a um reatamento da plena implementação do Tratado New START por todas as partes", disse Dujarric aos meios de comunicação social.
O presidente russo anunciou na terça-feira, durante o discurso anual do estado da nação, em Moscovo, a suspensão do tratado sobre armas nucleares assinado com os EUA, dizendo que não se tratava de um "abandono" do acordo e argumentando que o país "deve estar preparado para realizar testes nucleares se os Estados Unidos os realizarem primeiro"."É impossível derrotar a Rússia", diz Putin
O anúncio de Putin chegou na mesma semana em que o presidente norte-americano, Joe Biden, realizou uma visita surpresa à Ucrânia, onde prometeu continuar a apoiar e defender esse país numa altura em que se aproxima o primeiro aniversário da guerra.O Parlamento da Rússia aprovou já esta quarta-feira a suspensão do tratado.
Para Putin, "as elites do Ocidente não escondem a sua intenção; mas também não podem deixar de perceber que é impossível derrotar a Rússia no campo de batalha".
"Pretendem transformar um conflito local num confronto global", acrescentou. "É exatamente assim que entendemos tudo isto, e vamos reagir da forma necessária, porque neste caso estamos a falar da existência do nosso país".
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia garantiu entretanto que pretende continuar a cumprir as restrições delineadas no tratado sobre o número de bombas nucleares que alegadamente poderia ter implantado."Decisão foi-nos imposta pelos EUA e NATO"
As autoridades russas já culparam os Estados Unidos e o Ocidente pela decisão do presidente Putin de suspender a participação de Moscovo no New START. O ex-presidente Dmitry Medvedev, que é agora vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, considerou a medida uma resposta "há muito esperada" aos Estados Unidos e à NATO.
"Esta decisão foi-nos imposta pela guerra declarada pelos Estados Unidos e outros países da NATO contra o nosso país. Terá uma enorme ressonância no mundo em geral e nos Estados Unidos em particular", escreveu Medvedev na plataforma Telegram.
O responsável pediu ainda que os arsenais nucleares do Reino Unido e da França sejam incluídos em futuros acordos de controlo de armas entre a Rússia e o Ocidente.
O presidente da Duma, a câmara baixa do Parlamento russo, também culpou os Estados Unidos pela suspensão do acordo. "Ao deixar de cumprir as suas obrigações e rejeitar as propostas do nosso país sobre questões de segurança global, os Estados Unidos destruíram a arquitetura da estabilidade internacional", disse Vyacheslav Volodin em comunicado.
A decisão de Moscovo suscitou rapidamente críticas internacionais, incluindo das autoridades ucranianas, que instaram a comunidade internacional a tomar "medidas conjuntas urgentes para prevenir e combater qualquer forma de chantagem nuclear por parte do Estado terrorista".
c/ agências