O secretário-geral da ONU, António Guterres, exige que as agências humanitárias possam entrar de imediato em Ghouta Oriental, o enclave às portas de Damasco bombardeado de forma quase contínua pelo Governo sírio desde dia 18 de fevereiro.
A ofensiva terrestre permitiu ao exército sírio recuperar grande parte da área nos últimos dias. Damasco afirma que está a combater grupos "terroristas" que ameaçam os cidadãos da capital.
Os combates centram-se agora nos núcleos urbanos de Douma e de Harasta, onde se entrincheiraram os grupos armados islamitas que se opõem ao Presidente Basah al-Assad e que se recusam a abandonar as duas zonas.
Situação "catastrófica"
Milhares de pessoas estarão a dormir ao relento em ruas juncadas de destroços, por já não haver lugar sob o chão para escapar aos bombardeamentos, afirma o conselho local, controlado pela oposição.
A situação tornou-se "catastrófica", classificou à Reuters.
Afirma também que haverá dezenas de pessoas sepultadas nos escombros dos edifícios destruídos nos bombardeamentos, sem que seja possível socorrê-las.
Pelo menos 70 corpos terão sido enterrados num parque de estacionamento por falta de segurança no caminho até ao cemitério, acrescentam as autoridades em Douma.
O Observatório sírio dos Direitos Humanos, OSDH, baseado em Londres, afirma que a ofensiva já fez, desde dia 18, mais de 1.160 mortos civis.
Parar o "banho de sangue"
Esta tarde, pouco antes de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre as tréguas não aplicadas na Síria, os Estados Unidos entregaram uma resolução na qual pedem um cessar-fogo de 30 dias em Ghouta Oriental.
Apelam ainda a Antonio Guterres para "desenvolver urgentemente propostas para monitorizae a implementação do cessar das hostilidades e qualque movimento de civis".
A França apelou por seu lado à Rússia, aliada de Bashar al-Assad, para "parar o banho de sangue".
"A Rússia pode fazer parar o banho de sangue", disse aos jornalistas em Nova Iorque o embaixador francês na ONU, François Delattre.
"Sabemos que a Rússia, tendo em conta a sua influência sobre o regime, tendo também em conta a sua participação nas operações, tem a capacidade de convencer o regime por todas as pressões necessárias de deter esta ofensiva terrestre e aérea", contra Ghouta oriental, acrescentou.
O apelo francês esbarrou na resposta do embaixador russo no início da reunião do Conselho de Segurança.
Vassily Nebenzia afirmou que o Governo sírio tem "todo o direito de remover a ameaça à segurança dos seus cidadãos" e descreveu os subúrbios de Damasco como um "antro de terrorismo".
Nebenzia, como representante russo, foi o alvo de todos os restantes embaixadores nas acusações à falta de respeito pelo cessar fogo decidido por unanimidade em 24 de fevereiro.
Deixem "as críticas sem fim à Rússia", respondeu friamente o embaixador.
Exército avança
As forças sírias reconquistaram para Damasco mais de metade do enclave e desde o fim de semana que cercam completamente Douma e a cidade de Harasta, isolando-as uma da outra e das áreas circundantes.
O OSDH diz ainda que milhares de pessoas protestaram na cidade de Kafr Batna, exigindo ao grupo armado local, o Failaq al-Rahman, um acordo que permita acabar com a ofensiva. Desconhecidos dispararam contra a multidão e pelo menos uma pessoa morreu, acrescenta.
O Jaish al-Islam, um dos grupos islamitas anti-Assad, disse esta segunda-feira que chegou a acordo com a Rússia, através da ONU, para retirar feridos em Ghouta Oriental. Um porta-voz humanitário ligado à ONU, disse que as Nações Unidas não estavam incluídas no acordo.
Imagens de dentro do enclave, difundidas pela televisão estatal síria a partir das zonas controladas pelo Governo na frente da ofensiva, mostram nuvens negras ao longo de uma linha de horizonte juncada de escombros de edifícios, enquanto se ouve o ruído de explosões e de carros armados a passar.
C/agências
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