Guineenses na Mauritânia denunciam detenções e deportações ilegais

por Lusa

Emigrantes guineenses na Mauritânia queixam-se de estar a ser vítimas de detenções e deportações nos últimos dias por alegada falta de documentação, denunciaram hoje à Lusa dois membros da comunidade guineense naquele país.

 Aladje Tcham e Augusta da Silva disseram à Lusa, em entrevista telefónica, que os emigrantes guineenses na Mauritânia "receiam sair de casa" e que muitos deixaram de ir trabalhar ou mandar os filhos para a escola, "com medo de serem deportados".

Tcham é um conhecido membro da associação dos emigrantes guineenses na Mauritânia e nos últimos dias tem sido o elo daqueles que foram deportados para países como o Senegal ou o Mali.

As autoridades mauritanas justificam a operação com alegada falta de documentação em dia, nomeadamente o Cartão de Residência, referiu Aladje Tcham.

"A polícia da Mauritânia apanha qualquer emigrante na rua e pede-lhe esse Cartão de Residência. Se a pessoa não tiver, é imediatamente detida e levada para a fronteira do Senegal ou do Mali, deportada", afirmou Aladje Tcham.

A maioria de guineenses do sexo masculino emigrantes na Mauritânia trabalha na construção civil, mas, nas últimas três semanas, quase ninguém tem ido trabalhar, explicou Tcham, corroborado por Augusta da Silva.

Tcham destacou que 90% dos emigrantes guineenses na Mauritânia estão com passaporte fora de prazo de validade, o que dificulta na obtenção do Cartão de Residência, cujo processo agora envolve "muita burocracia".

"O Cartão de Residência antigamente era feito com 50 mil francos CFA [76 euros], mas era só levar o passaporte ou bilhete de identidade, mas agora pedem o passaporte válido, a seguir pedem o visto de entrada na Mauritânia, depois pedem o certificado do casamento, depois pedem a fatura da eletricidade, a seguir pedem ainda fatura das telecomunicações", contou Tcham.

Se o emigrante apresentar toda esta documentação, as autoridades da Mauritânia pedem-lhe que traga dois cidadãos nacionais que possam comprovar que vive e trabalha legalmente no país, reforçou Tcham.

"Caso contrário, a pessoa é imediatamente detida e deportada", enfatizou.

Aladje Tcham apelou às autoridades guineenses para mandarem uma equipa de técnicos para a renovação dos passaportes dos emigrantes na Mauritânia, "como fazem nos outros países".

Fonte da secretaria de Estado das Comunidades, na tutela do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Guiné-Bissau, disse à Lusa que o secretário de Estado, Nelson Pereira, deslocou-se, na terça-feira, à Mauritânia para se inteirar da situação.

Aladje Tcham disse ter sido informado pela embaixada do país da chegada do responsável político guineense, mas lamentou que aquele se encontre primeiro com as autoridades mauritanas quando, antes, se devia encontrar com os emigrantes.

"Assim ele não vai saber de concreto o que estamos a passar aqui", considerou.

A maioria das mulheres guineenses emigrantes na Mauritânia são lavadeiras, cozinheiras ou empregadas domésticas.

Augusta da Silva, lavadeira, disse à Lusa que muitas mulheres foram apanhadas no mercado e levadas para parte incerta.

"Apanham as mulheres até no mercado, levam-nas para a polícia e de lá não se sabe para onde", lamentou Augusta da Silva, que vive e trabalha na Mauritânia há um ano.

Augusta da Silva deixou um apelo ao Governo guineense: "Pedimos ao nosso Estado que mande para cá a máquina de tirar passaporte, porque não temos como ir até à Guiné para tirar o passaporte".

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