Guiné Equatorial disposta a negociar com russos para investir em África 

por Lusa

O ministro do Petróleo da Guiné Equatorial, Gabriel Mbaga Obiang Lima, defendeu hoje durante um evento em Londres que os países africanos devem negociar com chineses e russos se os ocidentais recusarem investir na exploração de combustíveis fósseis em África.  

Numa intervenção durante o encontro "Investir na Energia Africana", organizado pela Câmara de Energia Africana, Obiang Lima disse que se deslocou à capital britânica "atrás do dinheiro", porque é onde estão concentradas muitas instituições financeiras. 

"Há projetos em África muito lucrativos (...) e se não aproveitarem esta oportunidade, da próxima vez vou a Xangai e Pequim. E depois vou a Moscovo - mas vou esperar um pouco até as coisas acalmarem", avisou.

Presidente do Fórum dos Países Exportadores de Gás (GECF) e da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) durante 2023, o ministro das Minas e Hidrocarbonetos guiné-equatoriano disse que "antes sou africano". 

Obiang Lima defendeu que é preciso "erradicar a pobreza energética no continente" e "garantir que os africanos tem eletricidade, venha do petróleo, gás, renováveis, nuclear, do que seja".

Cerca de 600 milhões de africanos não têm acesso a eletricidade, cerca de 40% do total da população. 

"Quando as pessoas vêm a África e dizem: sabemos que têm petróleo, gás e carvão, mas por causa das alterações climáticas devem abandoná-los eu digo - é porque não querem que nos desenvolvamos. Na capacidade de presidente da OPEP, vou encorajar todos os países africanos a usar petróleo, gás e carvão, porque o mais importante é produzir eletricidade em África", argumentou.

O ministro defendeu também uma maioria autonomia na exploração dos campos petrolíferos, com a liderança de companhias nacionais, a adoção de normas comuns ao continente e o desenvolvimento de capacidade de refinação e de produção de eletricidade. 

"O desenvolvimento regional de África é muito importante", vincou. 

Obiang Lima admitiu que os países africanos precisam "dos banqueiros, dos perfuradores, das empresas" ocidentais, mas que também precisam de "saber se as empresas querem África" porque chineses, russos e turcos estão interessados. 

No evento, realizado num hotel no centro de Londres, estavam cerca de 400 pessoas, o dobro do inicialmente previsto, incluindo investidores, representantes de governos africanos e diversos profissionais do setor da energia. 

Além de Obiang Lima, falaram responsáveis do Senegal, Serra Leoa, Nigéria e Namíbia sobre oportunidades de negócio nos respetivos países. 

Segundo a Câmara de Energia Africana, o continente tem reservas de 125.300 milhões de barris de petróleo bruto, 620 triliões de pés cúbicos de gás e um potencial energético renovável por explorar que interessa aos países ocidentais, sobretudos europeus, em busca de fontes de energia alternativas em relação ao petróleo e gás russos. 

No exterior do hotel, uma dezena de manifestantes denunciou com palavras de ordem e cartazes a violação dos direitos humanos na Guiné Equatorial, exigindo "justiça" para os opositores detidos. 

Aos críticos do regime liderado pelo pai, o presidente Teodoro Obiang, que está no poder há 44 anos, o ministro das Minas e Hidrocarbonetos, desvalorizou as acusações de corrupção.

"Em 20 anos é incrível [o que foi feito no país] em termos de eletricidade, estradas, construção e infraestruturas. Não foi feito pelo Banco Mundial ou Fundo Monetário Internacional, foi feito pelo petróleo e gás", alegou.

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