Guiné-Bissau. Líder do MADEM diz ter sido acusado pelo presidente da República guineense de incentivar um golpe de Estado

por Lusa

O coordenador do Movimento para a Alternância Democrática (MADEM G-15), da Guiné-Bissau, afirmou esta segunda-feira que foi acusado pelo Presidente do país de ser o mentor da tentativa de golpe de Estado de 1 de fevereiro de 2022.

Braima Camará falava aos jornalistas à saída de uma audiência com o ministro do Interior e Ordem Pública, Botche Candé, a quem disse ter dado conta de alegadas ameaças e atos de intimidação aos militantes e dirigentes do MADEM, por parte de forças da ordem.

O líder do partido fundado pelo Presidente da República aproveitou a ocasião para denunciar aos jornalistas a acusação de que terá sido alvo por parte do chefe de Estado guineense, Umaro Sissoco Embaló.

De acordo com Braima Camará, a acusação de Sissoco Embaló à sua pessoa teria acontecido numa reunião com elementos da comunidade islâmica.

"Ontem (domingo) fomos confrontados com uma acusação de que eu, Braima Camará, sou o autor número um da tentativa de golpe de Estado de 01 de fevereiro de 2022", afirmou Camará.

No dia 01 de fevereiro de 2022, elementos das forças armadas guineenses atacaram o palácio do Governo, onde Umaro Sissoco Embaló estava a presidir ao Conselho de Ministros.

Na ação, morreram 11 pessoas, na sua maioria elementos do corpo de segurança presidencial.

Braima Camará desafiou a quem tiver provas do seu envolvimento no caso que as apresente publicamente, salientando que, nesse dia, estava fora do país.

"O caso 01 de fevereiro aconteceu numa altura em que eu me encontrava em Toulouse, na França. Ontem (domingo) disseram-me que estou a ser perseguido por ser o mentor da tentativa de golpe de Estado", declarou Camará.

Umaro Sissoco Embaló é um dos membros fundadores do partido MADEM, criado em 2018, do qual se desvinculou ao chegar à presidência guineense, em fevereiro de 2020.

Divergências entre os responsáveis do MADEM tornaram-se públicas a partir do momento em que o líder do partido, Braima Camará, assumiu a sua intenção de se aliar a outras formações políticas para, entre outros propósitos, "repor a democracia" no país.

Camará assegurou que não é violento e considerou que as alegações contra a sua pessoa não passam de tentativas de o afastar do debate político.

"Nós, no nosso partido MADEM, chegamos à conclusão de que é uma forma de nos silenciar, de nos intimidar, de nos calar. Mas não nos vamos calar, simplesmente fazemos essa denúncia para que se saiba que, se um dia encontrarem o meu cadáver dentro da minha casa, então saibam que é por motivações políticas", declarou Braima Camará.

O dirigente político disse que só faz a denúncia para que "o mundo saiba o que se passa".

Camará questionou o facto de só agora a questão estar a ser levantada, quando fez a campanha eleitoral para as legislativas de 2023 sem que o assunto fosse falado.

"É mentira. Nunca tive relações com nenhum militar, nunca fui à casa de nenhum militar. Tenho militares com os quais tratamos como irmãos, mas só isso, só nesse fórum", afirmou.

O Madem G-15 foi o segundo partido mais votado nas legislativas de junho de 2023, a seguir à Plataforma Aliança Inclusiva (PAI) Terra- Ranka, liderada pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que conseguiu maioria absoluta.

O Presidente da República dissolveu o parlamento, em dezembro, alegando outra tentativa de golpe de Estado com os acontecimentos ligados à prisão do ministro das Finanças e do secretário de Estado do Tesouro por suspeita de corrupção e ao tiroteio entre forças de segurança e militares, de que resultaram dois mortos.

A Lusa tentou obter uma reação da Presidência da República da Guiné-Bissau, sem sucesso até ao momento.

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