Guiné-Bissau. Crise institucional agrava-se entre acusações de "golpe de estado"
Sexta-feira ficou marcada por horas de tensão em Bissau, com movimentações militares e a eleição de um segundo Presidente, menos de 24 horas depois de Umaro Sissoco Embaló, dado como vencedor das presidenciais, ter assumido simbolicamente o cargo.
Embaló foi indigitado por Nuno Nabian enquanto o líder da Assembleia do Povo Unido - Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), que fazia parte da coligação do Governo, mas que apoiou Sissoco Embaló na segunda volta das presidenciais.
Nabian é também primeiro vice-presidente da Assembleia Nacional Popular e foi nessa qualidade que indigitou simbolicamente Sissoco Embaló.
A cerimónia terminou com a assinatura do termo de passagem de poderes entre o Presidente cessante, José Mário Vaz, e Umaro Sissoco Embaló.
"Apelo à sublevação"
O Governo da Guiné-Bissau considerou o ato como um "golpe de Estado" e "uma atitude de guerra" e acusou o Presidente cessante de se auto-destituir e as Forças Armadas de "cumplicidade".
O primeiro-ministro Aristides Gomes convocou o corpo diplomático presente no país e aconselhou-o a não comparecer da tomada de posse.
Ao início da noite desta sexta-feira, a confusão agravou-se, quando Sissoco Embaló demitiu o primeiro-ministro, Aristides Gomes e nomeou Nuno Nabian para o substituir, num decreto presidencial divulgado à imprensa.
O texto de Embaló referia que a demissão se justificava pela "atuação grave e inapropriada" do primeiro ministro, ao ter convocado o corpo diplomático e ter apelado à guerra e sublevação, em caso da investidura do novo chefe de Estado.
No documento explicava-se também que a demissão do primeiro-ministro teve em conta a "crise artificial pós-eleitoral criada pelo partido PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde) e o seu candidato às eleições presidenciais, que põe em causa o normal funcionamento das instituições da República".
Uma situação de crise, acrescenta o decreto, "consubstanciada nas declarações públicas de desacato e não reconhecimento da legitimidade e autoridade" do chefe de Estado "eleito democraticamente, por sufrágio livre, universal, secreto, considerado pelo conjunto de observadores internacionais livre, justo e transparente e confirmado quatro vezes pela Comissão Nacional de Eleições".
A posse foi conferida pela deputada Dan Ialá, primeira secretária da mesa do Parlamento, invocando o n.º 2 do artigo 71 da Constituição guineense, que prevê que, havendo vacatura na chefia do Estado, o cargo é ocupado pelo presidente da Assembleia Nacional Popular, segunda figura do Estado.
"Sendo eu um deputado e tendo pedido a demissão do cargo de ministro da Presidência do Conselho de Ministros reassumo o lugar de deputado e os deputados indigitaram-me primeiro vice-presidente da assembleia", afirmou Armando Mango, eleito deputado pela Assembleia do Povo Unido - Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB).
Armando Mango vai assumir interinamente a presidência do Parlamento.
Em declarações à agência Lusa por telefone, o candidato e líder do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) reagia à mais recente crise política na Guiné-Bissau, com a tomada de posse simbólica do seu adversário nas eleições, Umaro Sissoco Embaló, como Presidente na quinta-feira e que hoje já demitiu o primeiro-ministro.
"Lamento tudo o que está a acontecer e espero que sejamos capazes de encontrar as soluções que se impõem" porque a atual situação "não dignifica o processo democrático" na Guiné-Bissau, disse.
O chefe da diplomacia portuguesa reiterou a necessidade de evitar "qualquer confrontação e quaisquer atos de violência" na Guiné-Bissau.
O governante acrescentou que "todos os interessados" deveriam pautar "o seu comportamento pelo respeito pela lei e no princípio de comportamentos pacíficos" para resolver "litígios e conflitos".
Questionado também sobre se Portugal reconhece Umaro Sissoco Embaló como Presidente da República guineense, Santos Silva referiu que ainda não se queria pronunciar "sobre esse ponto".
Segundo dados do Governo português vivem na Guiné-Bissau cerca de 2.500 portugueses.
A posição do chefe da diplomacia de Portugal vai ao encontro do apelo feito pela embaixada de Portugal em Bissau, que aconselhou hoje os portugueses que vivem na Guiné-Bissau a restringirem a circulação devido a "um eventual aumento da tensão, com possíveis reflexos ao nível da segurança".
Na mensagem, a embaixada acrescenta que "continuará a acompanhar a situação", referindo que em caso de urgência os portugueses poderão contactar o Gabinete de Emergência Consular através dos números 961 706 472 e 217 929 714 e dos endereços de e-mail gec@mne.pt e bissau@mne.pt.