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Guerra no Sudão provocou a maior crise humanitária no mundo mas carece de debate sobre impactos

por Lusa

A guerra no Sudão, que começou faz terça-feira dois anos, causou a "maior crise humanitária e de deslocados do mundo", mas não existe um debate sobre o seu impacto generalizado, declarou à Lusa uma investigadora.

Para Maram Mahdi, investigadora do Instituto de Estudos de Segurança (ISS, na sigla em inglês), este conflito "é absolutamente importante para os sudaneses, para os países vizinhos e tem implicações mais vastas para os países do Médio Oriente". No entanto, não "existe qualquer debate sobre" o seu "impacto generalizado", que se "traduz na catástrofe humanitária que se desenrolou", nomeadamente para países vizinhos e comunidade internacional.

Assim, de acordo com Mahdi, o "Sudão é atualmente a maior crise humanitária e de deslocação do mundo, o que suscita preocupações quanto à responsabilidade da comunidade internacional em matéria de proteção". 

Para Mahdi e para o também investigador do ISS Moses Chrispus Okello, é "evidente que o conflito não tem merecido, nem de perto, nem de longe, a atenção e a cobertura necessárias", porque o mundo está centrado noutros temas, como os conflitos na Ucrânia e em Gaza e as tarifas de Trump.

Okello acrescentou que essa abordagem em relação a África não é nova e citou, como exemplo, o conflito na República Democrática do Congo (RDCongo), nação vizinha de Angola, onde a região leste enfrenta conflitos há 30 anos.

"O que estamos a ver com o Sudão é a repetição de um padrão que vimos acontecer em muitas partes diferentes do continente [africano], que normalmente começa com um pouco de atenção, seguida por níveis alarmistas da `pior crise do mundo`. E isso permanece durante um curto período de tempo, depois o mundo segue em frente", indicou.

Para a investigadora do ISS, "a geopolítica e o impasse no Conselho de Segurança das Nações Unidas também fizeram com que o conflito no Sudão não fosse suficientemente abordado e há poucos mecanismos e intervenções que a ONU ou qualquer um dos atores regionais possam fazer para resolver este conflito de forma significativa". 

Segundo Mahdi, a mediação do conflito nos últimos dois anos tem falhado principalmente porque as partes beligerantes - Forças Armadas Sudanesas (SAF, na sigla em inglês) e Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) - "não estão prontas nem dispostas a sentar-se à mesa das negociações" e ambas "acreditam numa solução militar".

Já Okello frisou que o Sudão "tem muitos recursos, mas pouca influência política" e isso faz com que nações como a Rússia, os Estados Unidos da América, os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita usufruam dos seus recursos.

Consequentemente, os civis sofrem e todas as infraestruturas do país são marginalizadas.

Pelas estimativas de Mahdi, as necessidades humanitárias do Sudão foram financiadas em 50% desde 2023 e, de facto, existem disparidades significativas entre as necessidades da população e a ajuda humanitária oferecida e disponível, o que só se irá agravar com os cortes da ajuda internacional.

Okello crê não ser possível estimar o impacto económico deste conflito, mas o Produto Interno Bruto (PIB) do país "caiu drasticamente". 

As infraestruturas do país, desde refinarias de petróleo, a bancos, a serviços básicos, foram "maciçamente destruídas", alertou.

"Também sabemos que algum do património do Sudão, nomeadamente o museu, foi saqueado. Assim, não se pode dizer que o Sudão tenha um museu neste momento", lamentou.

"Portanto, o impacto é grande a nível económico, cultural e político", concluiu.

Segundo dados das Nações Unidas, o conflito que eclodiu em 15 de abril de 2023 entre o exército, comandado pelo general Abdel Fattah al-Burhane, governante de facto do país desde um golpe de Estado em 2021, e o seu antigo adjunto, o general Mohamed Hamdan Dagalo, chefe das RSF, já colocou cerca de 30 milhões de sudaneses a necessitarem de ajuda humanitária.

Também a Organização Mundial da Saúde alertou que 3,7 milhões de sudaneses estão afetados pela desnutrição.

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