Telavive anunciou esta quinta-feira o bombardeamento de alvos no sul do Líbano e também que frustrou um plano de assassinato apoiado pelo Irão. Estes ataques israelitas surgem após dois dias de explosões de vários dispositivos utilizados por membros do Hezbollah. Pelo menos 32 pessoas morreram e quase três mil ficaram feridas.
Citadas pela agência Reuters, as forças israelitas indicaram que atingidos alvos do Hezbollah em Chihine, Taybeh, Blida, Meiss El Jabal, Aitaroun e Kfarkela, no sul do Líbano.As tropas israelitas adiantam ainda que também atingiram um depósito de armas na zona de Khiam.
Na quarta-feira, o Hezbollah tinha disparado cerca de 20 projéteis contra Israel, sendo que a maioria foi intercetada por sistemas de defesa aérea. Estes ataques não provocaram feridos entre os civis israelitas.
Entretanto, os serviços de segurança israelitas anunciaram na quinta-feira que detiveram um cidadão israelita por suspeita de envolvimento num plano de assassinato apoiado pelo Irão.
Trata-se de um empresário com ligações à Turquia que terá participado em pelo menos duas reuniões com autoridades iranianas para discutir o assassinato do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, do ministro israelita da Defesa, Yoav Gallant, ou do chefe da agência de espionagem Shin Bet, Ronen Bar.
Israel e o Hezbollah têm estado em constante conflito junto à fronteira entre Israel e o Líbano, ao mesmo tempo que Telavive prossegue o ataque contra o Hamas em Gaza desde o ataque do grupo palestiniano a 7 de outubro. Tal obrigou à retirada de dezenas de milhares de pessoas dos dois lados da fronteira nos últimos meses.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, prometeu na quarta-feira que os israelitas que residiam no norte do país, junto à fronteira com o Líbano, voltarão em breve às suas casas “em segurança”.
Por seu lado, o ministro israelita da Defesa, Yoav Gallant, sublinhou que a guerra na região estava a entrar numa “nova fase”, ao prometer deslocar mais recursos para a fronteira norte.
“Cavalo de Tróia” dos tempos modernos
A possibilidade de um novo conflito de larga escala entre a milícia xiita e as tropas israelitas ganhou força esta semana com as súbitas explosões de pagers e walkie-talkies do Hezbollah em território libanês que semearam o caos e o pânico no país vizinho.
Tudo começou na terça-feira, quando centenas de pagers começaram a apitar pelas 15h30 (hora local) para explodirem minutos depois. Estes dispositivos são utilizados pelo Hezbollah para fugir à maior vigilância de meios mais sofisticados, como os telemóveis.
O jornal New York Times, que qualifica estes ataques como um “cavalo de Tróia dos tempos modernos”, relata: “As explosões fizeram com que homens adultos voassem de motas e embatessem em paredes, de acordo com testemunhas e imagens de vídeo. Pessoas que faziam compras caíram no chão, contorcendo-se em agonia, com fumo a sair dos bolsos”.
Pelo menos 12 pessoas morreram na sequência destas explosões, incluindo duas crianças, e mais de 2.700 pessoas ficaram feridas. Com tantos feridos em simultâneo, as ambulâncias e os hospitais ficaram sobrecarregados em vários pontos do país.
Na terça-feira, mais de 4.000 pagers explodiram. Na quarta-feira, explodiram dispositivos como walkie-talkies, telemóveis, computadores portáteis e até mesmo painéis solares. No total, pelo menos 32 pessoas morreram e milhares ficaram feridas, disse esta quinta-feira o ministro libanês da Saúde.
No dia seguinte, mais 20 pessoas morreram e centenas ficaram feridas após a explosão misteriosa, desta vez de walkie-talkies. Vários membros do Hezbollah morreram na sequência destas explosões. Há também registo de quatro crianças entre as vítimas mortais.
Israel não comentou diretamente estes ataques nem assumiu a autoria dos mesmos, mas várias fontes de segurança afirmaram que foram levados a cabo pela sua agência israelita de espionagem, a Mossad.
De acordo com o New York Times, 12 atuais e antigos funcionários da defesa e dos serviços secretos israelitas que foram informados sobre o ataque dizem que houve envolvimento de Telavive.
Descrevendo a operação como “complexa e demorada”, estes responsáveis indicam que Israel estabeleceu empresas de fachada que se fizeram passar por produtoras internacionais de pagers.
Uma delas, a B.A.C. Consulting, era aparentemente uma empresa baseada na Hungria que estava sob contrato para produzir dispositivos em nome de uma empresa de Taiwan, a Gold Apollo.
No entanto, os pagers foram na realidade produzidos por autoridades israelitas de acordo com três responsáveis que falaram ao jornal norte-americano sob anonimato. De acordo com esses responsáveis, os pagers foram vendidos com material explosivo nas baterias e começaram a ser vendidos no Líbano no verão de 2022.
A jornalista Zeina Khodrm da Al Jazeera, assinalava esta quinta-feira que a onda de
explosões nos últimos dias traz de volta as memórias da explosão no
porto de Beirute, em 2020. Entre os milhares de pessoas “muitas pessoas
sofreram amputações”, tendo perdido pernas ou braços. Várias têm
ferimentos no rosto ou nos olhos e muitas “estão agora cegas”, relata a
repórter.
Entretanto, o primeiro-ministro do Líbano exigiu esta quinta-feira à ONU para que faça parar a guerra "tecnológica" de Israel contra o país.