Guerra no Médio Oriente. Aumento de antissemitismo na Europa preocupa comunidade judaica

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Perto de uma ponte com a inscrição "Palestina Livre" pintada, em Golders Green, na capital londrina, um restaurante kosher foi vandalizado. Londres, Reino Unido, a 9 de outubro Anna Gordon - Reuters

Desde o início do conflito no Médio Oriente que o número de incidentes antissemitas tem vindo a aumentar na Europa, levando a um reforço da proteção da comunidade judaica. À medida que se intensificam os ataques de Israel a Gaza, cresce a tensão nas ruas das cidades europeias. Milhares de pessoas participam em manifestações de apoio ao povo palestiniano e contra a política de Israel.

A Sinagoga do Porto, a maior da Península Ibérica, foi vandalizada na semana passada com frases contra a política de Israel, poucas horas depois de uma manifestação pró-Israel na cidade. No portão e nos muros da Sinagoga Mekor Haim Kadoorie podia ler-se: “Libertem a Palestina” e “Acabem com o “apartheid” de Israel”.
A Comunidade Israelita do Porto condenou este ato de vandalismo e afirmou tratar-se de uma manifestação de ódio.

"Qual é a razão que a Sinagoga do Porto é grafitada com "Free Palestine" ("Libertem a Palestina" em inglês)? O que tem a ver a Sinagoga do Porto e o judaísmo com o "Free Palestine"?, disse Isaac Assor, operador turístico israelita em Portugal, à RTP.

Também a israelita Esther Boudara, dona de um restaurante no Porto, contou à RTP ser "triste que, desde o início, tenhamos sido alvo de vandalismo, desde o início desta guerra".

No entanto, a sinagoga do Porto não foi a única a ser alvo de vandalismo na Península Ibérica. Também no centro da capital espanhola uma Sinagoga - cuja localização exata não foi revelada por questões de segurança - foi vandalizada com grafitis com mensagens antissemitas, onde se podia ler “Libertem a Palestina” junto de uma estrela de David riscada.

"Estes têm sido dias muito difíceis, cheios de medo e de profunda incerteza. É uma situação de cortar o coração e estamos em contacto permanente com os nossos familiares em Israel", contou Estrella Bengio, presidente da comunidade judaica de Madrid, à Euronews. As autoridades espanholas têm vindo a reforçar os meios de segurança nas sinagogas, escolas e jardins-de-infância judaicos para proteger a comunidade em Espanha.

Segundo a imprensa espanhola, na semana passada, o Ministério espanhol do Interior elevou o  alerta antiterrorista para o nível 4, o segundo mais intenso numa escala de 5, depois do apelo a uma "sexta-feira de raiva" e do ataque a um liceu em Arras, no norte de França, onde um professor foi morto com uma faca por um indivídio enquanto gritava "Allahu Akbar", "Deus é Grande" em árabe.
Tensão em França, "terra" de muitos judaicos e muçulmanos
À medida que se intensificam os ataques de Israel a Gaza, cresce a tensão nas ruas das grandes cidades europeias, marcadas por manifestações pacíficas que apelam ao fim da violência em Gaza mas também por atos de vandalismo antissemitas e ameaças terroristas.

A França tem sido um dos principais países europeus afetados pelo conflito entre Israel e o Hamas, uma vez que alberga a maior comunidade judaica da Europa, mas também a maior comunidade muçulmana.
Segundo o ministro francês do Interior, Gérald Darmanin, desde o ataque surpresa do Hamas a Israel, no dia 7 de outubro, que França registou cerca de 102 interpelações por atos antissemitas ou por apologia do terrorismo, dados revelados esta segunda-feira. O conflito no Médio Oriente tem tido repercussões diretas no território francês que entrou em alerta de emergência na passada sexta-feira. 

Nos últimos dias, um ataque terrorista a uma escola secundária, no norte do França, matou um professor e deixou feridas outras duas pessoas. Também dois monumentos históricos da capital francesa, o Museu do Louvre e o Palácio de Versalhes, foram evacuados e encerrados por ameaça de bomba este fim de semana.

Desde o início do conflito na semana passada que o dispositivo de segurança foi reforçado em França. Segundo o ministério francês do Interior, cerca de dez mil agentes da polícia estão atualmente a vigiar mais de 500 locais considerados "sensíveis", como sinagogas e escolas. "Há pessoas em frente às sinagogas, em grande número, a gritar ameaças", disse o ministro francês do Interior, Gérald Darmanin, numa entrevista a um programa de televisão na semana passada.


Apesar de o presidente francês, Emmanuel Macron, e do Governo terem condenado o ataque do Hamas, o líder da esquerda radical da França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, comparou o ataque do grupo islâmico à ocupação israelita. O político francês defendeu a “resistência” do povo palestiniano sem nunca condenar o ataque do Hamas e está atualmente a ser investigado por apologia do terrorismo.

Neste sentido a polícia francesa proibiu, na quinta-feira, a manifestação de apoio ao povo palestiniano por ser “suscetível de causar desordem pública”, utilizando gás lacrimogéneo para dispersar os protestantes. Isto, depois de ter permitido uma manifestação de apoio a Israel na segunda-feira em Paris.

Também em outras cidades europeias - como Londres ou Berlim - com uma forte presença da comunidade judaica, as autoridades reforçaram a segurança de escolas e dos templos judaicos. Segundo a imprensa britânica, a comunidade judaica relata um aumento de incidentes antissemitas em Londres, onde devido ao receio de uma escalada de tensões algumas escolas suspenderam as aulas esta semana.  No Reino Unido, "registaram-se 105 incidentes anti-semitas e 75 delitos" entre 30 de setembro e 13 de outubro, segundo dados da BBC.

O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, considerou estes atos "repugnantes" e prometeu investir três milhões de libras, quase três milhões e meio de euros, no reforço da segurança de instituições judaicas, como escolas e sinagogas.
"Do rio ao mar, a Palestina será livre"
Já a ministra britânica do Interior, Suella Braverman, que tinha apelado ao uso de “toda a força da lei” para reprimir as manifestações de apoio ao Hamas na semana passada, condenou a manifestação de ódio através do slogan utilizado pelos manifestantes este fim de semana na capital londrina.


O slogan “From the river to the sea, Palestine will be free" foi adotado pelos islamistas, incluindo o Hamas, e continua a ser um elemento básico do discurso antissemita. Ouvi-lo gritado em público causa alarme não só aos judeus mas a todas as pessoas decentes. Aqueles que promovem o ódio nas ruas da Grã-Bretanha devem perceber que a nossa tolerância tem limites" escreveu Suella Braverman, esta segunda-feira, na sua conta X, ex-Twitter.

c /agências
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