O encarregado de Negócios da Embaixada de Israel em Lisboa, Yotam Kreiman, defendeu hoje que o Irão é o "líder da ofensiva" com sete frentes de combate contra Israel e o principal fator de desestabilização no Médio Oriente.
Numa conferência de imprensa um ano depois dos ataques do Hamas a Israel - em que o novo embaixador israelita em Portugal não esteve presente devido a questões burocráticas --, Kreiman sublinhou que o Irão tem tentado criar "uma espécie de anel de fogo" em redor de Israel, "usando os diferentes representantes".
"O Irão está a tentar cercar Israel de todas as direções. E é por isso que arma, treina e utiliza o Hamas em Gaza da forma como fez a 07 de outubro [de 2023]. O Hezbollah, no Líbano, é um dos outros. Os Huthis no Iémen, que controlam atualmente 40% do país, são outro. E ainda há as milícias xiitas no Iraque e na Síria que dispararam vários drones contra Israel", afirmou o "número dois" da missão diplomática israelita em Lisboa.
"Temos diferentes frentes que Israel está a enfrentar. Há uma tentativa por parte dessas organizações de encorajar o terrorismo no seio da população árabe que vive em Israel e nos territórios palestinianos, incluindo a Cisjordânia", acrescentou.
Segundo Kreiman, "acreditar na paz faz parte do ADN de Israel" e isso não vai mudar "por mais que o Irão tente, por mais organizações terroristas que criem e financiem, apoiem e treinem".
Questionado sobre por quanto tempo poderá a guerra continuar, o diplomata israelita afirmou desconhecer o que vem a seguir, mas sublinhou que existem "muitas opiniões diferentes" sobre a forma de se conseguir criar dois Estados independentes.
"Se houvesse um caminho claro para o conseguir, esse caminho já teria sido percorrido. Penso que foram feitas já muitas tentativas em diferentes processos para encontrar o caminho certo. Israel assinou os Acordos de Oslo, que foram violados no dia da assinatura pela outra parte", argumentou.
"Israel continua a acreditar que deve haver um caminho a seguir. Se tiverem alguma ideia melhor gostaria muito de a ouvir, de a sugerir e de a aplicar", acrescentou.
Questionado sobre se as tentativas para erradicar o Hamas (em Gaza), o Hezbollah (Líbano) e os Huthis (Iémen), não poderão, a médio longo prazos criar maior radicalização e ódio, Kreiman considerou que as tentativas de aniquilar o povo e o Estado judeu "são uma abordagem muito pessimista".
"Esperamos algo melhor do que isso. E não pensamos que os cidadãos do Médio Oriente estejam interessados em ser governados por organizações terroristas e grupos terroristas. [...] A luta contra o terrorismo não é apenas de Israel. É a luta do mundo ocidental, de todas as democracias dos países que partilham valores com Israel, como Portugal", respondeu.
"Sim, queremos um cessar-fogo. Sim, queremos acabar com a guerra. Sim, queremos acabar com o domínio do Hamas em Gaza e o domínio do Hezbollah no Líbano. E, pessoalmente, penso que o mundo deveria esforçar-se por acabar com o domínio dos Huthis sobre 40% do Iémen. O Irão é um fator desestabilizador. Está a tentar manter a região como refém. E quanto mais cedo o mundo atuar para impedir que o Irão seja capaz de fazer isso, mais depressa regressaremos à estabilidade", disse.
Questionado pela Lusa sobre as palavras do ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, que defendeu um ataque às infraestruturas nucleares iranianas, Kreiman sublinhou que a decisão de como Telavive retaliar aos ataques do Irão está por tomar.
"Assim que for tomada, Israel responderá. Israel terá de responder. Israel, ao não responder duramente ao ataque iraniano, está a abrir a porta e a convidar esta entidade muito perigosa a continuar a sua conduta. Não estamos a falar do povo do Irão, mas sim do Corpo da Guarda Revolucionária Iraniana, da República Islâmica específica do Irão, da administração que assumiu o controlo do país e que também mantém o povo do Irão como refém", afirmou.
"Esta administração no Irão não é perigosa apenas para o Irão. É perigosa para a Ucrânia, para a Europa, para Israel, para o Médio Oriente. Pergunta-me se é perigoso limitar esse perigo. Não, devemos limitar esse perigo. Devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para limitar o perigo. Mesmo depois de o Irão ter declarado várias vezes que espera usar todos os meios de que dispõe contra Israel. O facto de, neste momento, ainda não terem utilizado uma energia nuclear contra Israel, a menos que façamos alguma coisa, poderá ser uma questão de tempo", concluiu.
Sobre o facto de Israel ter considerado o secretário-geral da ONU, António Guterres, `persona non grata`, Kreiman salientou que não é a nacionalidade de quem ocupa o cargo que está em causa, mas sim a atuação da organização, "que tem sido insuficiente".
"[Para Israel, a ONU] não fez o suficiente no seu papel, na sua capacidade, para falar e agir contra o terrorismo, contra a desestabilização do Médio Oriente. Deveria ter sido feito mais. Exemplo é o dia do ataque iraniano com 188 mísseis de cruzeiro e mísseis balísticos, que não são foguetes do Hamas. [Guterres] não condenou o ataque iraniano. Esperamos que as Nações Unidas, como organização, criem a possibilidade de paz e estabilidade. Em Israel, neste momento, há o sentimento de que o secretário-geral das Nações Unidas não teve sucesso no seu papel de fazê-lo", concluiu.