"Guerra de informação". Escalada de tensão entre Moscovo e Berlim após divulgação de conversa do exército alemão

por Joana Raposo Santos - RTP
O embaixador alemão em Moscovo, Alexander Graf Lambsdorff, foi convocado esta segunda-feira para se apresentar no Ministério russo dos Negócios Estrangeiros. Maxim Shemetov - Reuters

O ministro alemão da Defesa acusou a Rússia de levar a cabo uma "guerra de informação" com o objetivo de criar divisões dentro da Alemanha. A declaração surge depois de meios de comunicação russos terem publicado uma gravação de 38 minutos de uma chamada telefónica entre oficiais do exército germânico, durante a qual discutiram assuntos confidenciais relacionados com a guerra na Ucrânia. O Kremlin já convocou o embaixador alemão em Moscovo.

“O incidente é muito mais do que apenas a interceção e publicação de uma conversa… É parte de uma guerra de informação que [Vladimir] Putin está a promover”, declarou o ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius.

“É um ataque hibrido de desinformação. É sobre causar divisão. É sobre prejudicar a nossa união”, acrescentou o governante, adiantando que o país já está a investigar o caso.

Na chamada divulgada por Moscovo, uma série de membros do exército alemão discutiram temas como a atribuição de armas à Ucrânia, a hipótese de um ataque de Kiev a uma ponte na Crimeia e o treino de soldados ucranianos. Entretanto, o embaixador alemão em Moscovo, Alexander Graf Lambsdorff, foi convocado esta segunda-feira para se apresentar no Ministério russo dos Negócios Estrangeiros.

Dentro do tema do armamento, foi debatida a entrega de mísseis de cruzeiro Taurus às tropas ucranianas, algo que o chanceler Olaf Scholz tem rejeitado firmemente. Há muito que Kiev tem solicitado a Berlim estes mísseis, capazes de atingir alvos a 500 quilómetros de distância.

A divulgação do conteúdo da chamada levou a que o Kremlin viesse pedir justificações a Berlim. “Exigimos uma explicação da Alemanha”, disse nas redes sociais um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia.
Rússia acusa Alemanha de envolvimento na guerra
Já esta segunda-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, reforçou que "a própria gravação diz que a Bundeswehr (Forças Armadas alemãs) está a discutir substancial e concretamente planos para lançar ataques em território russo".

"Isto não requer qualquer interpretação legal. Tudo aqui é mais do que óbvio", frisou. "Temos de descobrir se a Bundeswehr está a fazer isso por iniciativa própria. A questão é: quão controlável é a Bundeswehr e que controlo exerce Scholz sobre a situação? Ou é parte da política do Governo alemão?", questionou.

"Ambos os cenários são muito maus. Ambos enfatizam mais uma vez o envolvimento direto dos países do Ocidente coletivo no conflito em torno da Ucrânia".

Também o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, criticou no domingo o que considera “planos engenhosos da Bundeswehr, que se tornaram evidentes devido à publicação desta gravação áudio” e que demonstram “uma autoexposição flagrante”.

Já o antigo presidente russo Dmitry Medvedev, atualmente vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, defendeu que a chamada telefónica mostra que Berlin está a preparar-se para lutar contra Moscovo.
Berlim confirmou veracidade da chamada
De acordo com fontes do semanário Spiegel, o Ministério alemão da Defesa assumiu que o áudio divulgado é real e não foi manipulado com ferramentas de inteligência artificial.

Aparentemente, a conversa - que, de acordo com a russa RT, decorreu a 19 de janeiro - não foi feita através de uma linha segura, mas sim via plataforma de videoconferência WebEx, enquanto um dos participantes se ligava por telemóvel.

"Se esta história se confirmar, será um acontecimento muito problemático", afirmou o presidente do grupo de controlo parlamentar do Bundestag (câmara baixa do Parlamento), o verde Konstantin von Notz.

A publicação da conversa surge num momento particularmente sensível para o Governo do chanceler Olaf Scholz, que esta semana causou controvérsia ao afirmar que Berlim não pode entregar mísseis Taurus à Ucrânia, sob o risco de se tornar um participante direto no conflito.

c/ agências
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