Grupo de céticos do clima financiado por indústrias dos combustíveis fósseis

por RTP
Vasily Fedosenko - Reuters

Um influente grupo de céticos das mudanças climáticas no Reino Unido tem recebido financiamento de grupos ligados aos combustíveis fósseis. Estes são grupos que têm como objetivo questionar os custos da neutralidade carbónica. A investigação foi promovida pelo Guardian e o grupo OpenDemocracy.

O grupo Global Warming Policy Foundation tem dito nos últimos anos ser independente das indústrias dos combustíveis fósseis, mas uma investigação do Guardian vem agora mostrar documentação que prova que muitos grupos americanos que negam as mudanças climáticas são seus financiadores.

Uma revelação que surge depois de o grupo GWPF ter recusado divulgar a lista dos seus financiadores. O Global Warming Policy Foundation tem um grupo afiliado nos Estados Unidos e muito do financiamento da filial americana acaba por ser canalizada para o grupo britânico. De resto, desde 2017 que perto de 45 por cento do seu financiamento tem origem nos Estados Unidos.

Em 2018 e 2020, o grupo recebeu mais de 200 mil dólares da Fundação Sarah Scaife, liderado por um bilionário ligado aos interesses do petróleo. A filial americana tem muitos grupos que financiam a sua atividade, especialmente a Exxon e a Chevron.

Também os irmãos Koch - das Koch Industries, uma das maiores empresas privadas dos Estados Unidos - estão ligados a este grupo, tendo doado mais 600 mil dólares ao GWPF entre 2016 e 2020. Os irmãos Koch, herdeiros de um império ligado ao petróleo, já investiram milhares de dólares para financiar campanhas de negação das mudanças climáticas.

“É perturbador que o grupo Global Warming Policy Foundation atue com um canal através do qual grupos americanos estão a tentar interferir na democracia britânica”, afirmou Bob Ward, do Instituto de Pesquisa LSE Grantham, que estuda o ambiente e as mudanças climáticas.
Grupo formado por conservadores
O Global Warming Policy Foundation foi formado em 2009, tendo como objetivo inicial questionar e lutar contra o custo das medidas tomadas pelo Governo britânico para atingir a neutralidade carbónica. Este é um grupo que tem cada vez mais influência na política britânica, contando com vários conservadores e outros apoiantes.

Craig Mackinlay, do grupo Net Zero Scrutiny, um comité de 20 parlamentares, apoia de viva voz o GWPF, sendo que dois assessores do grupo acabaram por ser contratados como investigadores. O grupo diz não questionar a ciência climática mas que é preciso questionar os custos para alcançar carbono zero no Reino Unido.

Após uma campanha do Global Warming Policy Foundation, o governo britânico anunciou que as empresas que trabalham com fraturamento hidráulico (fracking) podiam continuar a trabalhar no Reino Unido. Estas empresas ganharam nova vida depois das palavras de Mackinlay e outros apoiantes do grupo.

O Guardian falou com Mackinlay e Steve Baker, outro parlamentar apoiante do GWPF, e pediu um comentário sobre o financiamento do grupo. Mackinlay disse que tudo o que grupo representa é transparência e Baker falou em alegações “ridículas” de um meio de comunicação que perde tempo com assuntos que não são do interesse público.

“Seria melhor se o mundo político focasse a sua atenção na maneira como a estratégia atual de energia tem levado ao aumento dos preços da mesma e como contribuiu para o aumento terrível do custo de vida de muitas pessoas”, acrescentou Baker.
Medos com a importação política
Este financiamento americano está a levantar questões e muitos receios na política britânica. Ed Miliband, o secretário para o Clima no governo sombra trabalhista, aponta o poder do dinheiro americano na estratégia britânica contra as mudanças climáticas.

“Os grupos americanos de extrema-direita com ligações ao petróleo estão desesperados para travar qualquer ação contra a crise climática. Agora tentam aumentar a sua influência no debate político do Reino Unido”.

Um porta-voz do grupo Global Warming Policy Foundation declarou porém que não são aceites contribuições monetárias de todos os grupos, muito menos de pessoas ligadas às indústrias energéticas. “Recusamos muitas ofertas de financiamento de pessoas com interesses obscuros, não tenho a certeza que qualquer outro grupo do outro lado do debate possa dizer isto”.
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