Grupo armado pró-iraniano do Iraque anuncia suspensão de ataques contra EUA

por Cristina Sambado - RTP
Thaier al-Sudani - Reuters

As brigadas do Kataib Hezbollah, movimento apoiado pelo Irão suspeito do ataque com drones, na Jordânia, que matou três soldados norte-americanos, garante ter suspendido as operações contra forças dos Estados Unidos.

“Anunciamos a suspensão das nossas operações militares e de segurança contra as forças de ocupação, a fim de evitar qualquer constrangimento ao Governo iraquiano”, anunciou o movimento no seu site.

Continuaremos a defender o nosso povo na Faixa de Gaza de outras formas”, acrescentou, segundo o portal de notícias Shafaq.

Os três soldados norte-americanos foram mortos numa base junto à fronteira entre a Jordânia e a Síria por “tipo de drone Shahed”, de origem unidirecional, que o Irão tem fornecido à Rússia.
O movimento xiita recomendou também aos seus milicianos uma “defesa passiva” temporária, em caso de “qualquer ação hostil” por parte do lado norte-americano.

As Brigadas do Hezbollah, grupo apoiado pelo Irão, são uma das milícias que faz parte da Resistência Islâmica no Iraque, que reivindicou o ataque contra a base norte-americana e que têm realizado ofensivas em apoio ao movimento islamita palestiniano Hamas que está em guerra na Faixa de Gaza com Israel, país apoiado por Washington.

O grupo foi designado organização terrorista pelos Estados Unidos há mais de uma década, devido aos seus ataques contra alvos norte-americanos durante a invasão do país árabe.

Washington já bombardeou várias posições da Brigadas do Hezbollah no Iraque e, no final de novembro, as forças dos EUA mataram pelo menos oito dos seus membros, num outro ataque aéreo em resposta às ações deste grupo.
Retaliação com múltiplas ações
John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional norte-americano, afirmou na terça-feira que os Estados Unidos estão a considerar uma retaliação com "múltiplas ações" pelo ataque de domingo. “É muito possível que venhamos a assistir a uma resposta gradual, não uma única ação, mas potencialmente múltiplas ações", afirmou Kirby a bordo do avião em que o presidente Joe Biden viajou para a Florida.

Na segunda-feira, o Pentágono apontou para a potencial responsabilidade das Brigadas do Hezbollah pelo ataque mortal de domingo à Torre 22, uma base logística norte-americana perto da fronteira com o Iraque e a Síria, que matou três soldados dos Estados Unidos e fez cerca de 40 feridos.

Os Estados Unidos culparam os grupos apoiados pelo Irão e ainda não determinaram de forma conclusiva que o Kataib Hezbollah tenha estado na origem do ataque.O Kataib Hezbollah, grupo que colaborou indiretamente com os norte-americanos na luta contra o Estado Islâmico entre 2014 e 2017, também fazem parte Forças de Mobilização Popular, um grupo de milícias pró-Governo de facto integrado nas Forças Armadas iraquianas, embora também tenha um braço político com forte presença no Parlamento iraquiano.

No entanto, uma porta-voz do Pentágono afirmou que o ataque tinha "as pegadas" do grupo. "As ações falam mais alto do que as palavras", disse Pat Ryder aos jornalistas depois de o grupo ter divulgado a sua declaração. "Haverá consequências", acrescentou.

Entretanto, os Estados Unidos estão a tomar medidas para reforçar a segurança na Torre 22, onde cerca de 350 soldados norte-americanos estão estacionados em missão contra o Estado Islâmico.

Estão a ser enviadas defesas aéreas adicionais para a base, disse um funcionário dos EUA na terça-feira, incluindo um sistema concebido para intercetar drones.

O presidente do Comité dos Serviços de Informações da Câmara dos Representantes, Mike Turner, afirmou à BBC que todos os caminhos de responsabilidade levam ao Irão, ligando também o país aos ataques do movimento Houthi do Iémen, apoiado pelo Irão, contra navios no Mar Vermelho e no Golfo de Aden.

Para Mike Turner, este ataque tem de merecer uma resposta, para que percebam que os EUA “não vão continuar a jogar na defensiva”, acrescentando que a reação de Washington obrigaria o Irão a "compreender que este é um conflito que vai chegar à sua porta".

O presidente Joe Biden tem estado a ponderar uma série de opções de retaliação, incluindo ataques a bases e comandantes de milícias alinhadas com o Irão. Biden defende que não deve haver uma “guerra mais ampla” no Médio Oriente, depois de as tensões terem aumentado após o início do conflito entre Israel e o Hamas. “Não é isso o que procuro”, garantiu o Presidente norte-americano.Os Estados Unidos poderiam também visar comandantes de topo do Corpo de Guardas da Revolução Islâmica (IRGC) do Irão no Iraque ou na Síria.

É também possível que os EUA ataquem dentro das fronteiras do Irão, uma medida que é considerada a maior escalada possível que Biden poderia tomar.
Acusações infundadas

No entanto, o Irão demarcou-se do ataque na Jordânia e afirma que são “acusações infundadas”. O porta-voz do Ministério iraniano dos Negócios Estrangeiros, Naser Kanani, garantiu que “os grupos de resistência na região não recebem ordens do Irão para as suas decisões e ações”.

Em Nova Iorque, o enviado iraniano à ONU, Amir Saeed Iravani, avisou que o seu país "responderá decisivamente a qualquer ataque ao país, aos seus interesses e aos seus cidadãos, sob quaisquer pretextos", informou a agência noticiosa estatal iraniana Irna.

Saeed Iravani negou as informações segundo as quais teriam sido trocadas várias mensagens entre os EUA e o Irão através de intermediários nos últimos dois dias.

O Irão construiu uma vasta rede de grupos armados aliados e de representantes que operam em países do Médio Oriente. Todos eles se opõem a Israel e aos EUA, e por vezes referem-se a si próprios como o "Eixo da Resistência", embora não seja clara a extensão da influência de Teerão sobre eles.

Segundo os EUA, a coordenação é supervisionada pelo IRGC e pelo seu braço de operações no estrangeiro, a Força Quds. Ambas designadas pelos EUA como organizações terroristas, tal como o são vários grupos armados regionais, incluindo o Kataib Hezbollah.

Desde o início da guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza, em outubro, os grupos intensificaram drasticamente os seus ataques contra Israel, as forças norte-americanas e outros alvos associados, numa demonstração da sua solidariedade para com o povo palestiniano.Alguns dos 165 ataques com drones, foguetes e mísseis a bases americanas no Iraque e na Síria, ou a instalações que albergam tropas americanas, desde 17 de outubro, foram reivindicados por um grupo de milícias apoiadas pelo Irão que se intitula Resistência Islâmica no Iraque.

Em resposta, os EUA afirmam ter atingido alvos pertencentes ao IRGC e a milícias que se crê terem fortes ligações a esta força, incluindo o Kataib Hezbollah, o Harakat al-Nujaba e o Asaib Ahl al-Haq.

As Brigadas do Hezbollah, grupo apoiado pelo Irão, é uma das milícias que faz parte da Resistência Islâmica no Iraque, que reivindicou o ataque contra a base norte-americana e que têm realizado ofensivas em apoio ao movimento islamita palestiniano Hamas que está em guerra na Faixa de Gaza com Israel, país apoiado por Washington.
No mês passado, os EUA afirmaram ter efetuado ataques aéreos contra grupos afiliados ao Irão, depois de três militares norte-americanos terem ficado feridos, um em estado crítico, num ataque com um drone a uma base no norte do Iraque.


No início de janeiro, um ataque norte-americano em Bagdade matou um líder do Harakat al-Nujaba, acusado de estar por detrás de ataques contra pessoal dos EUA.

Na semana passada, o Secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, afirmou que os ataques a três instalações no Iraque pertencentes ao Kataib Hezbollah e a outros grupos foram "uma resposta direta a uma série de ataques em escalada" contra as forças norte-americanas e outras forças internacionais no Iraque e na Síria.
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