Gronelândia, Canadá, Golfo do México e Canal do Panamá. O que valem as ambições de Trump?

Em novembro, Donald Trump foi reeleito presidente dos Estados Unidos para cumprir um segundo mandato. Desde então, tem demonstrado a ambição de somar algumas regiões à soberania norte-americana - Gronelândia, Canadá, Golfo do México e Canal do Panamá. Porquê?

Ao longo da história, os Estados Unidos adquiriram várias regiões. São exemplos o Alasca, o Arizona e o Novo México.

Apesar de Donald Trump ter expressado o interesse em expandir o território norte-americano, o Direito Internacional não permite a compra ou a aquisição de territórios soberanos. Contudo, em recentes declarações, o presidente eleito não deixou dúvidas sobre o desejo de controlar territórios terrestres e marítimos adicionais.
Gronelândia
A Gronelândia é a maior ilha do mundo e é rica em diversos recursos naturais. Em 2019, Donald Trump expressou a intenção de adquirir o território, que tem uma posição geográfica estratégica no Ártico.

Até 1953, a Gronelândia foi uma colónia dinamarquesa. Contudo, durante a II Guerra Mundial, foi ocupada pelos EUA, num período em que a Dinamarca esteve sob a ocupação da Alemanha nazi. Embora os Estados Unidos tenham devolvido a Gronelândia à Dinamarca em 1945, mantiveram uma base militar no noroeste do país, evidenciando a sua relevância estratégica.Na passada terça-feira, Trump Jr., filho do presidente eleito dos Estados Unidos, visitou a Gronelândia.

Após a reeleição, Trump voltou a demonstrar o interesse em adquirir a ilha, referindo esse objetivo como sendo “essencialmente um acordo imobiliário”. Com o intuito de o alcançar, não excluiu pressionar a Dinamarca com uma demonstração de força militar. Tal ação poderia resultar num conflito com os aliados da NATO e ter repercussões negativas para a União Europeia.

Esta proposta de compra da Gronelândia foi prontamente rejeitada pela Dinamarca. A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, afirmou que “a Groenlândia não está à venda” e que o futuro do território deve ser decidido pelos seus habitantes.

Telejornal | 11 de janeiro de 2025

Atualmente, os EUA consideram que a Groenlândia é um território estratégico, sendo que a ilha poderia ter sistemas de defesa antimísseis e deteção de submarinos russos.
Canadá

O Canadá é um dos principais parceiros comerciais dos Estados Unidos. Os diversos recursos naturais disponíveis, como petróleo, gás natural, minerais e florestas, tornam o país atrativo.

Os dois países vizinhos partilham uma extensa fronteira com cerca de 8.800 quilómetros e, por isso, colaboram em questões de segurança e defesa.

Na última terça-feira, Donald Trump mencionou a intenção de tornar o Canadá o “51.º Estado” norte-americano. Contudo, neste caso, o presidente eleito rejeitou a possibilidade do uso da “força militar”, mencionando que poderia usar a “força económica” para tornar o país vizinho parte dos EUA.

As declarações de Donald Trump podem aumentar a turbulência política que o Canadá enfrenta, após o primeiro-ministro, Justin Trudeau, ter anunciado a intenção de renunciar ao cargo nos próximos meses.

Em resposta às palavras de Trump, Trudeau escreveu na rede social X que “nunca, mas nunca, o Canadá fará parte dos Estados Unidos”. E a ministra canadiana dos Negócios Estangeiros, Mélanie Joly, também se manifestou, afirmando que o país “nunca recuará diante de ameaças”.
Golfo do México
Outra das ideias aventadas por Donald Trump passaria por rebatizar o Golfo do México como “Golfo da América”. Esta declaração mereceu também uma resposta de Claudia Sheinbaum, presidente do mexicana, que propôs, em alternativa, chamar a América do Norte de “América Mexicana”, dado que um documento de 1814, que precedeu a constituição do México, referia-se à região norte-americana dessa forma.

O Golfo do México, rico em recursos naturais, especialmente petróleo e gás, representa uma oportunidade de os Estados Unidos reduzirem a dependência de fontes externas e fortalecerem a segurança energética.Em vigor está agora um acordo entre Estados Unidos, México e Canadá (USMCA) que substituiu o NAFTA, realçando a importância das relações económicas entre estes países.


Em 2024, o México tornou-se, pela primeira vez em 20 anos, o país que mais exporta para os EUA. Esta evolução deve-se ao facto de Donald Trump ter agravado, durante o primeiro mandato na Casa Branca, as taxas sobre os produtos chineses, medida que foi conservada pelo sucessor, Joe Biden.

Nas declarações da última semana, Trump afirmou que o México era controlado por cartéis e que precisava de parar de permitir que milhões de pessoas invadissem os Estados Unidos. A presidente do México contrapôs, afirmando que, “no México, quem manda são as pessoas”. Todavia, não negou a necessidade de “resolver um problema de segurança”. Jornal da Tarde | 26 de novembro de 2024

Sheinbaum referiu que, caso Trump decida aplicar 25 por cento sobre as importações mexicanas, irá responder com medidas semelhantes.
Canal do Panamá
Em 1999, a hidrovia que interliga o Oceano Atlântico ao Pacífico, responsável pela circulação de seis por cento do comércio global, passou a ser administrada pelo Panamá. Apesar da longa gestão, Trump já manifestou o desejo de que o Canal do Panamá fosse controlado pelos norte-americanos.A inauguração de Donald Trump para a segunda passagem pela Casa Branca acontece no próximo dia 20 de janeiro.

No final do ano passado, o magnata republicano criticou o Panamá por cobrar taxas “ridículas” aos navios dos Estados Unidos, alegando que tal política prejudica a economia deste país. Telejornal | 8 de janeiro de 2025

Trump não descartou a possibilidade de usar força militar para retomar o controlo do Canal do Panamá, caso as negociações não resultem em taxas mais baixas.

O ministro panamiano dos Negócios Estrangeiros, Javier Martinez-Acha, reagiu às declarações de Trump, afirmando que "a soberania do canal não é negociável" e que é "uma conquista irreversível" do país.