Greve geral paralisa Argentina em protesto contra a austeridade de Milei

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Agustin Marcarian - Reuters

A Argentina amanheceu esta quinta-feira praticamente paralisada com comboios, aviões e portos inativos, devido a uma greve geral de 24 horas convocada pelos principais sindicatos de trabalhadores do país contra as medidas de austeridade do presidente argentino. O Governo de Javier Milei desconsiderou o impacto da greve dos funcionários públicos e considerou a paralisação "um ataque à República".

Os maiores sindicatos de trabalhadores da Argentina iniciaram às 00h00 (04h00 em Lisboa) desta quinta-feira uma greve geral de 24 horas, a terceira desde que Javier Milei assumiu o poder há 16 meses, provocando constrangimentos na maioria dos serviços públicos em protesto contra as medidas austeras do novo Governo

Segundo relatos das agências internacionais, a capital Buenos Aires está a ser fortemente impactada pela forte adesão à greve dos funcionários públicos, o que levou ao encerramento de escolas, bancos e ao funcionamento com capacidade mínima de hospitais públicos e agências governamentais. 

A paralisia foi ainda mais expressiva nos transportes públicos de longo curso à exceção dos autocarros: tendo a movimentação do porto Rosário sido completamente suspensa, a principal estação ferroviária da cidade, Constitución, sido encerrada, e o aeroporto central Jorge Newberry ficado deserto, após o cancelamento de mais de duas centenas de voos da Aerolinias Argentinas, a companhia aérea estatal visada por planos de privatização do presidente argentino.

Segundo o sindicato da aviaçao APA, a forte adesão à greve deve-se à "onda de despedimentos em todas as agências estatais, taxas de pobreza mais altas e dívidas internacionais, que são a maior fraude da história da Argentina".

A forte adesão à greve do sertor público reflete um crescente mal-estar social face ao que os sindicatos consideram ser um "ajuste brutal" que recai sobre os trabalhadores, pensionistas e setores mais vulneráveis.
Argentinos saíram à rua para protestar na véspera

Na véspera da paralisação, milhares de funcionários públicos e pensionistas juntaram-se em frente ao Congresso Nacional para protestar contra os cortes infligidos pela "motosserra" de Javier Milei, nomeadamente nas pensões que sofreram cortes severos nos últimos meses.

"Depois desta greve, eles têm que desligar a motosserra", afirmou Rodolfo Aguiar, secretário-geral do sindicato ATE, em referência à retórica de Milei de cortar gastos públicos com uma "motosserra fiscal". “Acabou, não há mais espaço para cortes”, completou.

A Confederação Geral do Trabalho (CGT) e outros sindicatos que organizaram a greve, como a Associação de Trabalhadores do Estado (ATE) e a Associação do Pessoal Aeronáutico (APA), protestam contra os cortes orçamentais, despedimentos no setor público, congelamento de negociações salariais e os planos de privatizaçao de empresas públicas.
"Um atentado contra a República"

O Governo desconsiderou o impacto da greve dos funcionários públicos e publicou fotografias do presidente Javier Milei reunido com ministros nas redes sociais. O presidente da Câmara dos Deputados, Martin Menem, escreveu numa publicação com a fotografia partilhada por Javier Milei: "Hoje trabalha-se.".


Além disso, o Governo lançou uma campanha oficial exibida nas estações de transporte, criticando a paralisação e considerando-a "um atentado contra a República", incentivando os funcionários a denunciarem os sindicatos por coação, através de um número de telefone gratuito.

O presidente da Câmara dos Deputados denunciou também a "casta sindical" por detrás da greve: "A casta sindical está a atacar milhões de argentinos que querem trabalhar", ironizou. 

c/agências

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