Greve geral paralisa a Grécia e culmina quatro dias de motins

por Carlos Santos Neves, RTP
A greve geral desta quarta-feira é a última de uma série de acções contra a política de privatizações, a reforma da Segurança Social e o aumento do custo de vida Simela Pantzartzi, EPA

Voos cancelados, bancos e escolas de portas fechadas e serviços hospitalares condicionados são os primeiros reflexos de uma greve geral que está a paralisar a Grécia. Após quatro dias de violência nas ruas das principais cidades do país, o Governo conservador de Costas Karamanlis enfrenta hoje a contestação das centrais sindicais gregas.

Consolida-se o cerco em torno do Executivo de Costas Karamanlis. Quatro dias de confrontos entre polícia e jovens amotinados são agora uma arma política nas mãos da Oposição socialista, que pede a convocação de eleições legislativas antecipadas para derrubar uma solução de poder “sem a confiança do povo”.

As despesas da pressão sobre a ponte de comando governativa são também assumidas pelas duas grandes centrais sindicais da Grécia, que encontram munições nos escândalos financeiros e políticos e nos elevados níveis de pobreza e desemprego.

Imunes a sucessivos apelos do primeiro-ministro, a Confederação Geral dos Trabalhadores Gregos (GSEE) e o Supremo Conselho Administrativo dos Funcionários Públicos (ADEDY) mantiveram a greve geral marcada para esta quarta-feira, embora tenham cancelado um desfile nas ruas da capital.

Ambas as estruturas, que representam cerca de 2,5 milhões de pessoas, metade da força de trabalho do país, decidiram apelar a uma concentração “pacífica” perante o Parlamento, na Praça da Constituição, em Atenas.

Perto de cinco mil trabalhadores estão já concentrados no centro da cidade. Por entre a multidão, sobressaem faixas e cartazes com palavras de ordem contra o Governo.

“Os ricos devem pagar pela sua crise”, lia-se num dos cartazes.

Karamanlis debaixo de fogo

Na noite de terça-feira, Costas Karamanlis dirigia-se ao país para tentar apartar a luta dos sindicatos gregos dos motins motivados pela morte de Alexandros Grigoropoulos, um adolescente de 15 anos abatido a tiro pela polícia.

Ao mesmo tempo procurava congregar as forças políticas na condenação da violência: “Devemos ter uma posição unida contra as acções ilegais, para condenar claramente a violência, a pilhagem e o vandalismo”.

Sem sinais de pretender dar descanso ao Governo, ou ao Partido da Nova Democracia, cuja maioria parlamentar não vai além de um único assento, os socialistas gregos, liderados por George Papandreou, apostam tudo no objectivo de levar o país às urnas em eleições antecipadas.

Foi a inabilidade do Governo de Karamanlis, atira o Partido Socialista, que criou as condições para os acontecimentos dos últimos dias, que deixaram cidades como Atenas e Tessalónica a ferro e fogo.

“Ele e o seu Governo são responsáveis pela crise generalizada no país, que a sociedade grega está a viver”, afirmava ontem George Papakonstantinou, porta-voz dos socialistas gregos.

Quatro dias de batalhas urbanas

Ao cabo de quatro dias consecutivos de verdadeiros combates de rua entre as unidades de intervenção da polícia e centenas de jovens, Atenas acordou com uma calma aparente.

Ainda assim, circulam notícias de ataques esporádicos, entre os quais a investida contra uma esquadra de polícia no subúrbio de Zefyri, onde jovens amotinados incendiaram um camião.

Imagem de confrontos no centro de Atenas

Os motins começaram no fim-de-semana e terão já causado prejuízos na ordem de mil milhões de euros, segundo uma estimativa da Associação de Comerciantes de Atenas.

O funeral do adolescente abatido pela polícia realizou-se ontem num cemitério dos subúrbios de Atenas. No local, o corpo de intervenção envolveu-se uma vez mais em confrontos com jovens munidos de pedras e cocktails Molotov

Pelo menos 41 pessoas (16 gregos e 25 estrangeiros) foram detidas durante a noite no decurso de confrontos e pilhagens nas imediações da Escola Politécnica de Atenas, ocupada por estudantes desde domingo.

Dois agentes da polícia foram alvo de acusações formais relacionadas com a morte de Alexandros Grigoropoulos.

O agente que alvejou o adolescente alega que o projéctil partiu de um disparo de aviso destinado a desmobilizar um grupo de jovens que estaria a atirar pedras a um veículo da polícia; a bala teria feito ricochete antes de atingir Grigoropoulos.

De acordo com o advogado do agente, a versão é consubstanciada pelas conclusões de um relatório de balística.

Testemunhas citadas pela televisão grega garantiram, por sua vez, que o agente da polícia disparou directamente contra o jovem.
PUB