Greta Thunberg acusa líderes mundiais de inação face a crise climática
A poucos dias do início da COP26, que vai decorrer na cidade de Glasgow de 31 de outubro a 12 de novembro, Greta Thunberg acusou os líderes mundiais, particularmente os das grandes nações, de negação e até inação na resposta à crise climática, durante "décadas de blá, blá, blá". Num artigo de opinião, a ativista criticou também os Estados Unidos, o Reino Unido e a China por distorcerem os dados estatísticos das emissões para parecer que os níveis tinham sido reduzidos.
Mas nem as palavras e os alertas do secretário-geral das Nações Unidas deixaram em alarme a "nossa sociedade". Embora ainda haja esperança, a ativista sueca considera que é necessária "honestidade", porque "a ciência não mente".
Contudo é inegável que adiámos, continuou, e agora é "muito tarde para isso". Por mais desconfortável que "essa realidade possa parecer, é exatamente isso que os nossos líderes decidiram para todos nós ao longo de décadas de inatividade". A jovem ativista acusou mesmo os governantes de "décadas de blá, blá, blá".
"Neste momento, estamos a caminhar a passos largos para um mundo, pelo menos, 2,7°C mais quente até ao final deste século - e isso apenas se os países cumprirem todas as promessas que fizeram", continuou, acrescentando que as nações estão longe de o fazer e de conseguir alcançar estas metas.
"Esta é a maneira que a ciência tem para nos dizer que não conseguimos atingir as nossas metas sem uma mudança no sistema", escreveu a ativista.
"E essa não é a pior parte. No meu próprio país, a Suécia, uma investigação jornalística concluiu recentemente que, uma vez que sejam incluídas todas as emissões reais do país (territorial, biogénica, consumo de bens importados, queima de biomassa, investimentos em fundos de pensão, entra outras coisas), apenas um terço desse total é contabilizado nas metas climáticas do Governo. É fácil adivinhar que isto não é apenas um fenómeno sueco".
"Entre 1990 e 2016, o Reino Unido reduziu as emissões territoriais em 41 por cento. No entanto, quando inclui a escala total das emissões do país - como o consumo de produtos importados, aviação internacional e transporte marítimo - a redução é de cerca de 15 por cento. E isso exclui a queima de biomassa, como na central elétrica Drax's Selby - uma central considerada de "energias renováveis" que é, de acordo com uma investigação, a maior emissora individual de dióxido de carbono do Reino Unido e a terceira maior em toda a Europa. Mesmo assim, o Governo ainda considera o Reino Unido um líder global no clima".
E, apontou: "Ser de longe o maior emissor da História, assim como o maior produtor de petróleo do mundo, não parece envergonhar os Estados Unidos, embora afirmem ser líderes climáticos".
"A ciência não mente, nem nos diz o que fazer", repetiu. "Mas dá-nos uma ideia do que tem de ser feito".
E, embora sejamos "livres para ignorar e permanecer em negação" ou para continuar a fingir que não existe crise climática "atrás de uma contabilidade inteligente, lacunas e estatísticas incompletas", nada disso vai contribuir para enfrentar o aquecimento global.
"Como se a atmosfera se importasse com as nossas estruturas. Como se pudéssemos discutir com as leis da física", ironizou, citando Jim Skea, cientista do IPCC: "Limitar o aquecimento a 1,5ºC é possível dentro das leis da química e da física, mas isso exigiria mudanças sem precedentes".
Por isso, a jovem sueca considerou que, para que a Cop26 em Glasgow seja um sucesso, é "necessário honestidade, solidariedade e coragem".
Embora os cenários pareçam "muito sombrios e sem esperança", a jovem de 18 anos recordou que "ainda podemos reverter isto", se "estivermos preparados para mudar".
"Tudo o que verdadeiramente é necessário é um líder mundial, ou uma nação rica, uma grande estação de televisão ou um jornal importante, que decida ser honesto, tratar de facto a crise climática como a crise que é. Um líder que conta todos os números - e que toma medidas corajosas para reduzir as emissões ao ritmo e na escala que a ciência exige. Assim, tudo podia seguir em direção à ação, esperança, propósito e significado".