Grécia. Direita de Mitsotakis afasta Syriza e promete mudanças

por Joana Raposo Santos - RTP
"Estou dedicado a baixar os impostos, aumentar os investimentos", garantiu o primeiro-ministro eleito Alkis Konstantinidis - Reuters

A Grécia elegeu, no domingo, o líder do partido de centro-direita Nova Democracia para primeiro-ministro do país, que desde 2015 tinha no poder o partido de esquerda Syriza, de Alexis Tsipras. Os resultados são já oficiais: Kyriakos Mitsotakis, que diz querer mais investimento e menos impostos, obteve 39,8 por cento dos votos e poderá eleger 158 deputados, mais de metade dos 300 que ocupam lugar no Parlamento grego. Já o Syriza conseguiu 31,5 por cento.

“Estou muito, muito grato pelo resultado”, declarou Mitsotakis. “Vencemos com uma maioria absoluta e era esse o nosso principal objetivo”.

“Atingimos quase 40 por cento, o que é incrível, dado que temos o contexto de uma paisagem política fragmentada, e penso que temos um forte mandato para cumprir com a minha agenda, que é uma agenda para o crescimento económico e para a criação de mais emprego, mas também para garantir que o povo grego voltará a sentir-se seguro”, garantiu.

“Estou dedicado a baixar os impostos, aumentar os investimentos, criar novos e melhores empregos e garantir o crescimento que trará melhores salários e pensões num Estado eficiente”, elucidou.
Tsipras grande derrotado
Já Alexis Tsipras reconheceu a derrota e disse respeitar a decisão dos gregos, felicitando o adversário. “Hoje, de cabeças levantadas, aceitamos o veredito do povo”, afirmou.

“Os cidadãos escolheram, respeitamos totalmente o voto popular. Há pouco contactei Kyriakos Mitsotakis para o felicitar pela vitória nestas eleições. Em democracia, uma mudança de Governo não é um paradoxo nem um desenvolvimento pouco natural. Diria que é o aspeto essencial da democracia”, frisou.

“Trazer a Grécia até ao estado em que hoje se encontra implicou a tomada de decisões difíceis com um pesado custo político”, acrescentou o até agora primeiro-ministro.

Alexis Tsipras assumiu a liderança do país em 2015, durante o pico de uma crise financeira que desde 2010 arrasava o país e que os líderes conservadores de então não conseguiram melhorar.Os ministros das Finanças da Europa estão reunidos hoje em Bruxelas para discutir a Grécia, que ainda tem metas fiscais rigorosas para cumprir, apesar de não receber diretamente empréstimos de resgate.

Dizendo-se comprometido em resistir à austeridade, o então primeiro-ministro viu-se forçado a recorrer a mais um resgate económico por parte de parceiros europeus poucos meses depois de ser eleito, o que terá pesado na opinião dos eleitores.

Apesar de ter conseguido melhorar o crescimento económico do país, Tsipras tem sido criticado por aquela que é a maior taxa de desemprego da zona Euro, situada nos 18 por cento.

A transferência de poderes será realizada esta segunda-feira, imediatamente após Mitsotakis tomar posse perante o Presidente grego, Prokopis Pavlópulos, numa cerimónia que está prevista para as 13h00 locais (11h00 em Lisboa).

Durante a tarde desta segunda-feira deverá ser conhecida a composição do seu gabinete e na manhã de terça-feira os novos ministros e pastas.

O Aurora Negra, partido de extrema-direita acusado de simpatias neonazis, obteve menos de três por cento dos votos e não elege nenhum deputado, ficando sem assento no parlamento grego.
O percurso de Mitsotakis
A Nova Democracia já tinha ganho as eleições europeias de 26 de maio passado e as regionais e municipais que decorreram em simultâneo, com segunda volta a 2 de junho.

Mitsotakis, de 51 anos, foi eleito presidente da Nova Democracia em 2016, após as grandes derrotas eleitorais em janeiro e setembro de 2015 face ao Syriza, e parece querer impor um novo estilo, ao sobrepor-se à “velha guarda” do partido.

Ao contrário de Alexis Tsipras, que tentou romper com a herança dinástica, Kyriakos Mitsotakis representa a quarta geração de líderes políticos de ala conservadora. O seu pai foi primeiro-ministro entre 1990 e 1993 e a sua irmã mais velha, Dora Bakoyannis, foi a primeira mulher a ocupar a presidência da câmara municipal de Atenas, entre 2003 e 2006.Apesar de ser considerado liberal, Mitsotakis tem no seu partido membros com visões de direita.

O primeiro-ministro eleito foi, entre 2013 e 2015, ministro da Reforma Administrativa, durante o Governo do conservador Antonis Samaras. Em 2016, quando assumiu a liderança da oposição, começou a defender novos caminhos para a saída da crise, opondo-se à intervenção da troika.

Adepto da liberalização económica, dos investimentos estrangeiros e das privatizações, possui a ambição de mudar a imagem do país e de inverter a penalização das vítimas e dos deserdados da crise, dizendo-se favorável a um “Governo forte e uma Grécia autossuficiente”.

Apesar de o até agora primeiro-ministro Tsipras acusar Mitsotakis de querer repetir os despedimentos massivos que durante o Governo de Samaras se sentiram no país, o primeiro-ministro eleito assegura que irá reforçar os setores da Saúde e Educação, onde na altura ocorreram a maioria das demissões.

Mitsotakis herda uma economia que cresce a uma velocidade moderada, com um ritmo anual de 1,3 por cento, mas cujas finanças públicas poderão continuar aquém das metas acordadas com os credores.

c/ Agências
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