O Governo venezuelano voltou hoje a exigir que o empresário colombiano Alex Saab, alegado testa-de-ferro de Nicolás Maduro e preso nos EUA, participe no diálogo com a oposição que deverá ser retomado proximamente no México.
"Temos insistido na importância crucial do desenvolvimento de questões sociais que são de interesse principal para o nosso povo. O nosso irmão Alex Saab, que está refém há 704 dias, é membro de pleno direito da delegação venezuelana e é nosso delegado na mesa social que estamos a discutir", anunciou o chefe da delegação governamental na sua conta do Twitter.
Jorge Rodríguez, que também é presidente da Assembleia Nacional, onde o chavismo detém a maioria, explicou ainda que "neste sentido, a Venezuela exigiu, exige e exigirá a participação de Alex Saab em qualquer uma das iniciativas de trabalho que possam vir a ser acordadas".
Alex Saab, 49 anos, foi detido pela Interpol e pelas autoridades cabo-verdianas em 12 de junho de 2020, durante uma escala técnica no Aeroporto Internacional Amílcar Cabral, ilha do Sal, com base num mandado de captura internacional emitido pelos EUA, numa viagem para o Irão em representação da Venezuela, com passaporte diplomático, enquanto `enviado especial` do Governo venezuelano.
A sua detenção colocou Cabo Verde no centro de uma disputa entre o regime do Presidente Nicolás Maduro, na Venezuela, que alega as suas funções diplomáticas aquando da detenção, e a Presidência norte-americana, bem como irregularidades no mandado de captura internacional e no processo de detenção.
Washington pediu a sua extradição, acusando-o de branquear 350 milhões de dólares (295 milhões de euros) para pagar atos de corrupção do Presidente venezuelano, através do sistema financeiro norte-americano.
A oposição venezuelana anunciou na terça-feira que iniciou conversações formais para retomar o diálogo com o Governo do Presidente, Nicolás Maduro, horas depois de os EUA anunciarem estar a preparar o alívio de algumas sanções económicas à Venezuela.
"A delegação da Plataforma Unitária para as negociações entre venezuelanos, em conformidade com o Memorando de Entendimento assinado na Cidade do México a 13 de agosto de 2021, informa os venezuelanos e a comunidade internacional que iniciou conversações formais com a nossa contraparte, a fim de conseguir a sua rápida reativação", explica em comunicado.
O documento foi divulgado pela equipa do líder opositor, Juan Guaidó, pouco depois de uma reunião entre o chefe da delegação da oposiçã,o Gerardo Blyde, e o mais alto representante da delegação governamental.
"Reiteramos a nossa total vontade de construir de maneira urgente um grande acordo político que permita alcançar a recuperação da Venezuela através da reinstitucionalização democrática do país, a realização de eleições livres, justas e transparentes e a restituição dos direitos fundamentais para todos os venezuelanos", explica-se no documento.
O Governo dos EUA está a preparar o alívio de algumas sanções económicas à Venezuela, medida vista como uma tentativa de incentivar a retoma das negociações entre a oposição apoiada pelos norte-americanos e o executivo de Maduro.
As mudanças, que serão limitadas, permitem à Chevron negociar a sua licença com a petrolífera estatal PDVSA, mas não autorizam a prospeção ou exportação de qualquer petróleo de origem venezuelana, revelaram terça-feira dois altos funcionários da administração norte-americana à agência de notícias Associated Press (AP).
As mesmas fontes acrescentaram que Carlos Erik Malpica-Flores, antigo gestor da PDVSA e sobrinho da primeira-dama da Venezuela, será removido da lista de indivíduos alvo de sanções.
Estas medidas surgem no seguimento de uma demonstração de abertura por parte de Maduro, após uma reunião, em março, com representantes do Governo do Presidente norte-americano, Joe Biden.
Por outro lado, acontecem na sequência de uma recente reunião entre autoridades dos EUA e a principal coligação de oposição, Plataforma Unitária (PU), para discussão sobre o caminho a seguir.
Em resposta ao anúncio, o Governo do Presidente Nicolás Maduro disse esperar que os EUA levantam todas as sanções contra a Venezuela.
"A Venezuela espera que estas decisões dos EUA preparem o caminho para o levantamento absoluto das sanções ilegais que afetam todo o nosso povo", expressou a vice-presidente da Venezuela na sua conta do Twitter.
Delcy Rodríguez frisou ainda que o Governo da Venezuela, "apegado aos seus profundos valores democráticos, continuará a promover incansavelmente um diálogo frutuoso em formato nacional e internacional".
Dezenas de venezuelanos, incluindo o procurador-geral do país e o responsável pelos serviços prisionais, e mais de 140 entidades, entre estas o Banco Central da Venezuela, vão continuar na lista de sanções.
O Departamento de Tesouro norte-americano continuará a proibir transações com o Governo venezuelano e a PDVSA nos mercados financeiros dos EUA.
O próprio Presidente venezuelano está sob acusação nos Estados Unidos, acusado de conspirar para "inundar o país com cocaína" e usar o tráfico de drogas como "arma contra a América".
O Governo da Venezuela suspendeu as negociações com a oposição em outubro de 2021, após a extradição para os EUA de um importante aliado de Maduro por acusações de branqueamento de capitais.
O chefe de Estado venezuelano condicionou o regresso à mesa de negociações à libertação do empresário Alex Saab, que foi extraditado de Cabo Verde.
Os EUA e outros países deixaram de reconhecer Maduro como Presidente depois de o acusarem de fraude eleitoral na sua reeleição, em 2018.
Ao mesmo tempo, reconheceram Juan Guaidó, que era na altura o líder do Congresso dominado pela oposição e que se mantém como líder da Plataforma Unitária.