O Governo venezuelano suspendeu as negociações com a oposição que decorriam no México com a mediação da Noruega, após a extradição, sábado, do empresário colombiano Alex Saab, considerado testa-de-ferro do Presidente Nicolás Maduro, que Caracas disse ser "um sequestro".
"Em virtude desta ação extremamente grave, a nossa delegação anuncia que suspende a sua participação na mesa de negociações e diálogo. Consequentemente, não estaremos presentes na ronda que deveria começar amanhã [hoje] no México, como expressão profunda do nosso protesto perante a agressão contra a pessoa de Alex Saab", anunciou o presidente do parlamento, Jorge Rodríguez.
O anúncio foi feito através de um comunicado, lido por Jorge Rodríguez no Palácio Federal Legislativo, em que acusa os Estados Unidos da América (EUA) de agredir a Venezuela e disse que a vida de Alex Saab está em risco.
"Esta ação ilegal e desumana constitui um novo ato de agressão dos EUA contra a Venezuela, dado que Alex Saab foi incorporado como membro de pleno direito no processo de diálogo e negociação. A Venezuela alerta o mundo que a vida de Alex Saab está em perigo nas mãos de um sistema judicial instrumentalizado para atacar a Venezuela", afirmou Jorge Rodríguez.
Por outro lado, informou que o Governo venezuelano "defenderá" Alex Saab "com todos os recursos legais e diplomáticos disponíveis" da "ilegal" extradição para os EUA.
"Isto é uma agressão contra toda a ordenança jurídica internacional e a investidura diplomática de Alex Saab", frisou Rodríguez.
O empresário Alex Saab, considerado pelos EUA testa-de-ferro do Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, deixou sábado a ilha do Sal, em cumprimento do pedido de extradição das autoridades norte-americanas, confirmou à Lusa fonte da defesa.
Um avião ao serviço do Departamento de Justiça norte-americano partiu durante a tarde da ilha do Sal, onde Alex Saab estava detido desde junho de 2020, com destino aos EUA, de acordo com fontes da aviação civil.
Nos últimos dias, a defesa de Alex Saab viu o Tribunal Constitucional de Cabo Verde recusar vários pedidos e recursos na sequência da rejeição, em setembro, do recurso principal à decisão do Supremo Tribunal de Justiça, que tinha autorizado a extradição.
Alex Saab, 49 anos, foi detido pela Interpol e pelas autoridades cabo-verdianas em 12 de junho de 2020, durante uma escala técnica no Aeroporto Internacional Amílcar Cabral, ilha do Sal, com base num mandado de captura internacional emitido pelos EUA, numa viagem para o Irão em representação da Venezuela, com passaporte diplomático, enquanto `enviado especial` do Governo venezuelano.
A sua detenção colocou Cabo Verde no centro de uma disputa entre o regime do Presidente Nicolás Maduro, na Venezuela, que alega as suas funções diplomáticas aquando da detenção, e a Presidência norte-americana, bem como irregularidades no mandado de captura internacional e no processo de detenção.
Washington pediu a sua extradição, acusando-o de branquear 350 milhões de dólares (295 milhões de euros) para pagar atos de corrupção do Presidente venezuelano, através do sistema financeiro norte-americano.
Entre 13 e 16 de agosto, o Governo venezuelano e a oposição realizaram a primeira ronda de negociações no México, que terminou com a assinatura de um entendimento manifestando a intenção de chegar a um acordo sobre "as condições necessárias" para a realização de eleições segundo a Constituição, entendendo que é "uma necessidade levantar as sanções internacionais".
Na segunda ronda de negociações, que decorreu entre 03 e 06 de setembro, foram assinados dois acordos, sobre a defesa da soberania e a libertação de recursos para enfrentar a crise e a pandemia.
Em 14 de setembro, Jorge Rodríguez, em representação do Presidente Nicolás Maduro, anunciou a inclusão do empresário Alex Saab como "membro pleno" da delegação que representa o Governo nas negociações.
A terceira ronda de negociações, a primeira desde a inclusão de Alex Saab, decorreu entre 25 e 28 de setembro e ambas delegações anunciaram a criação de um "mecanismo de consulta" a atores políticos e sociais para acompanhar o diálogo.
Para 17 de outubro estava prevista uma nova ronda de negociações entre representantes do Governo do Presidente Nicolás Maduro e da oposição, aliada de Juan Guaidó.
FPG (PVJ) // LFS