O Governo Regional do Príncipe censurou a difusão pela rádio estatal da ilha de uma entrevista ao presidente da Assembleia Regional, em que Nestor Umbelina se manifestava contra a construção de um porto petrolífero na ilha são-tomense.
Em declarações à Lusa, o presidente do Governo regional em exercício, Carlos Gomes, afirmou que a decisão de contactar a direcção da Rádio Regional no sentido de "suspender" a difusão da entrevista foi tomada por si, em conjunto com o conselho do Governo Regional, "sem conhecimento" do presidente, Tozé Cassandra, que se encontrava em Portugal.
A decisão, adiantou, fundamentou-se na opinião conjunta de que a difusão da entrevista pela Rádio Regional "podia atrapalhar a mentalidade das populações da região", em relação ao projecto do porto petrolífero.
Carlos Gomes acusa Nestor Umbelina de ter excedido as suas competências ao atacar o projecto através dos meios de comunicação social, uma vez que o Governo Regional tinha pedido apenas "por gentileza" um parecer à Assembleia, que, adianta, foi até entregue depois do prazo, quando já tinha sido remetido ao Governo Central o parecer final das autoridades da ilha, favorável aos projectos do porto e do aeroporto.
"A Assembleia Regional tem de saber que não é um órgão administrativo e executivo, e o seu presidente não pode confundir as suas opiniões pessoais com a opinião do órgão que representa", disse à Lusa o presidente em exercício.
O director da Rádio Regional confirmou à Lusa ter recebido indicação do presidente em exercício de que a entrevista não podia ser passada, e que, tratando-se de um órgão estatal, a mais provável consequência de uma resistência seria "ir para o olho da rua".
Para o presidente da Assembleia Regional do Príncipe, a ordem terá partido do próprio Tozé Cassandra, versão que é negada pelos outros dois intervenientes.
"Estou convencido que a ordem [para que a rádio regional não difundisse a entrevista] partiu do próprio presidente [Tozé Cassandra] e ninguém me convence do contrário", afirmou Nestor Umbelina à Lusa, em declarações telefónicas a partir da ilha do Príncipe.
O parecer sobre a construção de um porto petrolífero e um aeroporto do Príncipe, duas "bandeiras" do governo do arquipélago, foi pedido com "urgência" pelo executivo de Tozé Cassandra.
A Assembleia, que considera vinculativo o seu parecer, manifestou-se contra a construção da primeira infra-estrutura, devido ao impacto ambiental, e favorável à segunda.
Esta opinião foi manifestada em entrevista à RDP África, posteriormente reproduzida ou replicada pela maioria dos órgãos de comunicação social independentes no arquipélago, mas não pela Rádio Regional da ilha, o que Umbelina considera "estranho".
"É claramente um caso de censura a um órgão do mais alto posto, o número um do parlamento regional; é muito mau para a democracia", afirma Umbelina.
O presidente da Assembleia Regional afirma que vai confrontar o presidente do Governo Regional com o caso, para "esclarecer definitivamente quem deu esta ordem".