O governo de Moçambique vai criar uma comissão inter-ministerial para definir o perfil de "herói nacional", estatuto que tem sido apenas atribuído a figuras da FRELIMO, o partido que proclamou a independência, em 1975.
Segundo o ministro da Educação e Cultura, Aires Ali, que chefia a comissão, vão ser promovidos debates em todo o país para encontrar um consenso sobre os requisitos para aceder à qualidade de herói nacional.
Aires Ali acrescentou que é importante haver "uma reflexão sobre as normas de procedimentos relativamente à reconciliação entre os interesses do Estado e o respeito pelos princípios individuais e das tradições familiares ou +linhageiras+ associadas à morte, como as crenças e os rituais".
A definição de quem é herói nacional em Moçambique tem estado ao arbítrio do chefe de Estado, que, por decreto, indica quais as figuras com direito a sepultura na cripta da Praça dos Heróis Nacionais, em Maputo.
Com o estatuto de heróis nacionais em Moçambique, incluem-se o primeiro presidente da FRELIMO, Eduardo Mondlane, o primeiro presidente de Moçambique, Samora Machel, e outros destacados quadros dirigentes da guerrilha que combateu a administração colonial portuguesa de 1964 a 1974.
O escritor José Craveirinha, que faleceu em 2003, e o maestro Justino Chemane, compositor do primeiro hino nacional (Viva a FRELIMO), integram a lista das poucas figuras que não participaram directamente na luta de libertação nacional, mas que têm o estatuto de heróis nacionais.
O facto de, até agora, o grupo de heróis ser restrito ao partido no poder tem levado o presidente da RENAMO, Afonso Dhlakama, o principal partido da oposição, a boicotar todas as cerimónias oficiais alusivas ao Dia dos Heróis Nacionais, a 03 de Fevereiro.
A RENAMO exige a inclusão dos seus dirigentes, sobretudo do seu primeiro presidente, André Matsangaíssa, morto em combate pelas tropas governamentais em 1977, considerando-o um lutador pela democracia, pelo facto de ter liderado a guerrilha contra o regime moçambicano de partido único.