O governo húngaro do nacionalista-conservador Viktor Órban diz não temer a popularidade do líder do novo partido Respeito e Liberdade, Péter Magyar, esperando uma "maioria convincente", apesar do escândalo sobre indulto num caso de pedofilia.
"Parece-lhe que eu estou aqui sob uma enorme pressão e com medo neste momento? A política é sobre política, é preciso participar em eleições e, como diz o ditado, não se ganham sondagens, mas ganham-se eleições, por isso veremos qual será o resultado", afirma o secretário de Estado da Comunicação Internacional e porta-voz internacional do gabinete do primeiro-ministro, Zoltán Kovács, em entrevista à agência Lusa.
A cerca de um mês das eleições europeias marcadas para 06 a 09 de junho na União Europeia - e quando o novo partido Respeito e Liberdade (TISZA) de Péter Magyar, criado há 20 dias, é indicado nas sondagens como a segunda força política mais votada logo atrás do partido nacionalista-conservador Fidesz, que existe há 36 anos e governa na Hungria há 14 anos -, o governante garante estar "muito confiante".
"Acredito que a posição do partido húngaro no governo é muito forte. Temos um mandato muito claro e [...] esse mandato tem uma maioria muito convincente atrás de nós. Estamos confiantes e sólidos", sublinha Zoltán Kovács.
A entrevista surge cerca de três meses depois de um escândalo relacionado com um indulto num caso de pedofilia ter abalado o Fidesz, que governa com uma maioria de dois terços, por dirigentes do país terem colaborado num perdão presidencial dado a um vice-diretor de um lar de jovens na Hungria, que havia sido condenado em 2022 por encobrir a conduta pedófila do seu então superior hierárquico.
O caso levou à demissão da ministra da Justiça, Judit Varga, e da Presidente húngara, Katalin Novák, dois nomes considerados próximos de Viktor Órban.
Também na sequência deste escândalo, o ex-diplomata europeu do governo húngaro e ex-marido de Judit Varga, Péter Magyar, emergiu como rival de Órban para denunciar aquela que diz ser a corrupção do partido, o que levou à criação do TISZA para concorrer às eleições europeias, num primeiro teste antes das legislativas de 2026.
"Todos aprendem com o erro cometido pelos políticos, mas não se trata de forma alguma de um problema moral porque a nossa posição em relação a questões de pedofilia e à proteção das crianças é muito firme, significa apenas que é preciso reafirmá-lo", salienta Zoltán Kovács, falando à Lusa em representação do governo húngaro.
Numa altura em que o executivo de Órban enfrenta críticas pelo desrespeito pelos direitos dos homossexuais e dos migrantes e por interferência no sistema judicial e dos media, tendo aliás mais de 20 mil milhões de euros suspensos em fundos comunitários, o secretário de Estado classifica o procedimento de Estado de direito contra a Hungria como "um jogo político".
"Chamemos-lhe caça às bruxas, claramente motivada por razões políticas, que não tem nada a ver com a realidade", indica Zoltán Kovács, rejeitando as acusações de várias organizações não-governamentais sobre retrocesso democrático nestes 14 anos de governo do Fidesz.
Já reagindo a críticas sobre alegado autoritarismo e isolamento de Viktor Órban, comenta: "Isso não importa nada. Quando temos um mandato, temos de o cumprir, mesmo que estejamos sozinhos".
Ainda a propósito das eleições europeias, o governante adianta à Lusa que o Fidesz está a "trabalhar arduamente para conseguir maximizar o número de votos".
O Fidesz está, ainda, a equacionar a qual bancada se juntar após o sufrágio, se ao grupo dos Reformistas e Conservadores Europeus ou ao de extrema-direita Identidade e Democracia, revela Zoltán Kovács à Lusa: "Existem dois grupos com os quais temos estado a negociar, mas veremos".
Nas últimas eleições europeias, o Fidezs conseguiu 12 eurodeputados e integrou a lista de não inscritos depois de ter saído do Partido Popular Europeu (PPE) após críticas internas aos casos de desrespeito do Estado de direito da UE.
Investigadores ouvidos pela Lusa salientam a popularidade de Péter Magyar, que se assume agora como principal rival de Orban.
Zsuzsanna Végh, investigadora do Conselho Europeu das Relações Externas, descreve a sua "rápida ascensão" como um "sinal de que existe na sociedade húngara uma grande apetência por uma alternativa", falando num novo "líder carismático, comedido e profissional que, apesar da pressa, construiu cuidadosamente a sua imagem".
Também Dharmendra Kanani, porta-voz principal dos Amigos da Europa, vê nas europeias uma oportunidade para Péter Magyar, sendo "um exemplo das potenciais dores de cabeça que Órban terá de enfrentar no futuro".