O Governo iraniano confirmou esta segunda-feira a morte do presidente Ebrahim Raisi, na queda de um helicóptero no noroeste do país, mas garantiu que o desastre não irá causar "qualquer perturbação na administração" do Irão. As reações internacionais têm-se multiplicado, com destaque para elogios por parte do Hamas e um descarte de responsabilidade por parte de Israel. Teerão confirmou entretanto que o vice-presidente Mohammad Mokhber passa a chefe de Estado interino.
"O presidente do povo iraniano, trabalhador e incansável, (...) sacrificou a sua vida pela nação", disse o Executivo de Teerão, num comunicado após a primeira reunião desde o acidente.
"Garantimos à nossa nação leal, grata e amada que, com a ajuda de Deus e o apoio do povo, não haverá a menor perturbação na administração do país", acrescentou o Governo do Irão.
O helicóptero que transportava Raisi e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Hossein Amir-Abdollahian, foi localizado esta segunda-feira numa montanha no noroeste do Irão, sem quaisquer sobreviventes, confirmaram as autoridades.
O aparelho despenhou-se na zona de Kalibar e Warzghan, na província do Azerbaijão Oriental, no noroeste do país.
O acidente deu-se no domingo, quando a comitiva regressava da fronteira com o Azerbaijão, onde Raisi inaugurou uma barragem com o seu homólogo azeri, Ilham Aliyev.
As equipas de socorro iranianas já recuperaram os restos mortais de Raisi e dos outros oito passageiros que seguiam no helicóptero, anunciou o Crescente Vermelho.
"Estamos a transportar os corpos dos mártires para Tabriz", a principal cidade do noroeste do país, disse o chefe do Crescente Vermelho, Pirhossein Koulivand, à televisão estatal, anunciando o fim das operações de busca.
A Arábia Saudita, o Iraque e o Azerbaijão ofereceram ajuda a Teerão, enquanto o presidente norte-americano, Joe Biden, foi informado sobre o incidente, segundo a Casa Branca, que não adiantou mais detalhes.
A Turquia enviou 32 equipas de salvamento e seis veículos e a União Europeia ativou o serviço cartográfico de resposta rápida Copernicus a pedido do Irão.
Também a Rússia enviou uma equipa de socorro com 47 especialistas, veículos todo-o-terreno e um helicóptero.
Vice-presidente deverá ser o sucessor
Ebrahim Raisi, de 63 anos, um clérigo religioso de linha dura, foi eleito presidente do Irão em 2021, numa eleição presidencial com a participação mais baixa da história da República Islâmica.
A sua liderança protagonizou uma intensificação da repressão contra ativistas, mulheres e críticos do regime.
O líder supremo do Irão, Ali Khamenei, já nomeou o vice-presidente Mohammad Mokhber como chefe de Estado interino e decretou cinco dias de luto pela morte de Ebrahim Raisi.
Mokhber, de 68 anos, está no cargo desde 2021 e anteriormente liderou o poderoso conglomerado "Execução da Ordem do Imã Khomeini". Por estas funções é alvo de sanções pelos Estados Unidos desde 2021.
O Governo irá realizar ainda esta segunda-feira uma "reunião de emergência", disse a agência de notícias oficial iraniana Irna, sem revelar detalhes sobre a agenda do encontro.
A Bolsa de Valores de Teerão esteve encerrada devido à morte de Raisi, disse um membro do conselho de administração da bolsa, Reza Eyvazlou, citado pela agência de notícias iraniana Mehr.
Hamas lamenta morte de apoiante da "causa palestiniana"
O grupo Hamas enviou uma mensagem de condolências pela morte do presidente do Irão, que considera ter sido "um dos melhores líderes iranianos", que prestou "um apoio valioso à causa palestiniana".
"Ele [Ebrahim Raisi] manteve posições honrosas no apoio à nossa causa palestiniana, apoiando a luta legítima do nosso povo contra a entidade sionista e o seu valioso apoio à resistência palestiniana", disse o Hamas, movimento que controla a Faixa de Gaza desde 2007, em comunicado.
O grupo destacou também o seu "apoio em todos os fóruns e campos" na guerra em curso do Hamas contra Israel na Faixa de Gaza, e os seus "intensos esforços políticos e diplomáticos para parar a agressão sionista contra o povo palestiniano".
Também o movimento Hezbollah do Líbano, apoiado pelo Irão, apresentou as suas condolências aos dirigentes iranianos, descrevendo Ebrahim Raissi como um "protetor dos movimentos de resistência" contra Israel na região.
"O presidente martirizado era para nós um irmão mais velho, um apoio sólido (...) e um protetor dos movimentos de resistência", declarou o grupo, que combate Israel a partir do sul do Líbano. O grupo prestou igualmente homenagem ao chefe da diplomacia iraniana, Hossein Amir-Abdollahian, morto no mesmo acidente de helicóptero.
Também o emir do Qatar, Tamim bin Hamad al Thani, e os rebeldes xiitas Houthi do Iémen expressaram hoje as suas "sinceras condolências" ao Irão pela morte do presidente.
Reações internacionais
Israel também reagiu, para garantir não estar envolvido na morte de Raisi. "Não fomos nós", disse em anonimato um funcionário israelita à agência Reuters. Em abril, o Irão lançou centenas de drones e mísseis balísticos contra Israel.
Da Rússia chegou uma mensagem de Vladimir Putin. "Por favor aceite as minhas condolências perante a grande tragédia que assolou o povo da República do Irão", escreveu o presidente russo ao líder supremo iraniano, o ayatollah Ali Khamenei. "Raisi foi um político extraordinário cuja vida inteira foi dedicada a servir a pátria".
"Como um verdadeiro amigo da Rússia, fez uma contribuição pessoal valiosa ao desenvolvimento das nossas boas relações e esforçou-se por elevá-las ao nível de uma parceria estratégica", acrescentou Putin.
O Paquistão declarou um dia de luto devido à morte do presidente do Irão e do ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros. Também os chefes de Estado da Venezuela, da Índia e do Iraque transmitiram a Teerão condolências pelo acidente de domingo.
"O Paquistão vai observar um dia de luto e a bandeira estará a meio haste" em "solidariedade com o Irão", um país irmão, escreveu o primeiro-ministro paquistanês, Shehbaz Sharif, na rede social X (antigo Twitter).
"O povo iraniano vai superar esta tragédia com a coragem habitual", garantiu Sharif, que recebeu Raisi com honras de Estado, no final de abril, na capital do Paquistão, Islamabad.
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, disse na rede social X estar "chocado com as duras notícias" sobre a morte de Raisi, que descreveu como "uma pessoa exemplar, um líder extraordinário do mundo (...) e defensor da soberania do seu povo".
O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, expressou tristeza pela "morte trágica" de Raisi e acrescentou que "sempre se recordará" da contribuição do Presidente do Irão para o reforço das relações bilaterais dos dois países.
Também o primeiro-ministro do Iraque, Mohamed Shia al Sudani, disse ter recebido "com grande tristeza e pesar" a confirmação do acidente e expressou solidariedade tanto com Khamenei como com o povo iraniano após "esta dolorosa tragédia".
c/ agências