A imprensa oficial chinesa quebrou hoje o silêncio sobre o antigo líder Zhao Ziyang, deposto por ter apoiado os estudantes nas manifestações pró-democracia de Tiananmen em 1989, confirmando a sua morte.
Zhao Ziyang, 85 anos, vivia em prisão domiciliária há mais de 15 anos, depois de ter sido deposto do cargo de secretário-geral do Partido Comunista Chinês (PCC) na sequência dos protestos estudantis reprimidos pelo exército chinês.
"O camarada Zhao Ziyang morreu por motivos de doença num hospital em Pequim na segunda-feira", refere a Agência Nova China, num curto despacho de dois parágrafos, sem indicar os cargos de líder do PCC ou de ex-primeiro-ministro ocupados pelo falecido.
A agência noticiosa oficial refere que Zhao Ziyang "sofria de múltiplas doenças prolongadas que afectaram os seus sistemas respiratórios e cardiovasculares, e foi hospitalizado para receber tratamento médico por diversas vezes".
"A sua situação agravou-se recentemente e morreu segunda-feira depois de ter falhado a resposta a qualquer tratamento de emergência", indica a mesma fonte.
O director do Centro para a Democracia e os Direitos Humanos, com sede em Hong Kong, Frank Lu, já avançara com a notícia de que Zhao Ziyang tinha morrido hoje às 07:01 (23:01 de domingo em Lisboa).
Apesar da controversa memória sobre Zhao Ziyang dentro do PCC, o antigo líder é recordado como um grande reformista por ter avançado com grandes remodelações económicas no processo de reformas capitalistas e abertura ao Mundo, iniciadas há 25 anos.
A última vez que Zhao Ziyang apareceu em público foi a 19 de Maio de 1989, quando visitou os estudantes que se manifestavam na Praça de Tiananmen. Um dia depois, o dividido governo central chinês declarou a Lei Marcial.
Na noite de 03 para 04 de Junho, o governo mandou o Exército avançar sobre os manifestantes, matando centenas, senão milhares, num balanço de vítimas nunca divulgado.
Numa incriminadora declaração do governo, o país foi informado sobre a substituição de Zhao, que era o escolhido para suceder a Deng Xiaping e que durante quase toda a década de 80 ocupou o cargo de primeiro-ministro e de liderança do Partido Comunista.
"O camarada Zhao Ziyang cometeu sérios erros em apoiar os tumultos e gerar divisão dentro do partido. Ele teve a responsabilidade pela formação e desenvolvimento dos tumultos", referiu o comunicado de então.
Zhao nunca foi expulso do Partido Comunista mas, a partir de então, passou a viver enclausurado na sua casa em Pequim.
Numa entrevista divulgada nos anos 90 em Hong Kong, o antigo líder culpou Deng Xiaoping pelo massacre de Tiananmen e criticou o uso da força militar para esmagar as manifestações, defendendo que os protestos deveriam ter sido solucionados de modo pacífico.