Governo catalão defende atuação da polícia com Puigdemont mas abre inquérito

por Lusa

O governo regional da Catalunha defendeu hoje a atuação na quinta-feira da polícia da região (os Mossos d`Esquadra), que tutela, face ao comportamento "tão impróprio" do independentista Carles Puigdemont em Barcelona, mas anunciou um inquérito para retirar conclusões.

"Não prevíamos um comportamento tão impróprio de uma pessoa que foi a máxima autoridade do país [a Catalunha]", afirmou o conselheiro de Administração Interna do governo regional catalão (cargo equivalente ao de um ministro num governo nacional).

Joan Ignasi Elena referia-se à fuga de Puigdemont, alvo de um mandado de detenção, depois de ter feito um comício breve em Barcelona, nas imediações do parlamento da região, perante milhares de pessoas.

A passagem de Puigdemont por Barcelona coincidiu com o debate parlamentar de investidura do socialista Salvador Illa como presidente do governo regional, mas apesar do dispositivo policial presente no local, com o edifício do parlamento blindado pelas forças de segurança, o dirigente separatista conseguiu estar no comício e depois fugir de novo, escapando à detenção.

Joan Ignasi Elena, conselheiro do governo regional catalão cessante, assegurou hoje, numa conferência de imprensa em Barcelona, que o dispositivo policial era dimensionado para o que estava previsto e o que se esperava na cidade na quinta-feira, mas será aberta uma investigação para retirar conclusões e averiguar se houve falhas.

O conselheiro acusou também o partido de Puigdemont, o Juntos pela Catalunha (JxCat), de ter montado um plano para "dinamitar" a sessão parlamentar de investidura de um presidente regional.

Também o comissário-chefe dos Mossos d`Esquadra acusou hoje Carles Puigdemont de deslealdade com a polícia da Catalunha ao tentar usar a sua eventual detenção para desestabilizar a investidura do socialista Salvador Illa.

O comissário-chefe Eduard Sallent admitiu, em conferência de imprensa, que na quinta-feira não conseguiram prender Puigdemont "por mais que tentassem" e denunciou uma "verdadeira campanha de desinformação" por parte da comitiva do ex-presidente do Governo catalão sobre o seu regresso a Espanha.

De acordo com o responsável da polícia, os Mossos d`Esquadra acreditaram no que Puigdemont estava a anunciar há dias sobre as suas intenções de assistir à sessão parlamentar de investidura do novo presidente da Catalunha.

"É alguém que foi presidente da Generalitat, não é um Jodorovich ou uma pessoa que se dedica ao crime organizado", disse.

Sallent, que insistiu em negar qualquer tipo de negociação com Puigdemont e a sua comitiva para aceitar a sua detenção, também condenou os dois elementos dos Mossos que foram detidos por terem ajudado o líder independentista a regressar a Barcelona e a fugir novamente, o que considerou "repreensível, inaceitável e uma afronta" àquele corpo de polícia.

"Não merecem vestir o nosso uniforme", disse, assegurando que os Mossos d`Esquadra não aceitam ser uma "polícia patriótica".

Salent disse ainda que os Mossos d`Esquadra continuam à procura de Puigdemont, porque não acreditam na "desinformação" das pessoas que o rodeiam e que afirmam que já está fora de Espanha.

Puigdemont, antigo presidente do Governo Regional da Catalunha e protagonista da declaração unilateral de independência da região de 2017, vive no estrangeiro desde então, para fugir à justiça espanhola, e continua a ser alvo de um mandado de detenção em território nacional.

Apesar disso, conseguiu surgir na quinta-feira em público em Barcelona sem ser detido.

Depois de, a partir de um palco, se ter dirigido à multidão concentrada numa praça do centro da cidade, o dirigente separatista desapareceu, desconhecendo-se o seu paradeiro.

Eleito deputado nas eleições catalãs de 12 de maio, Puigdemont tinha anunciado que estaria na sessão parlamentar de quinta-feira.

A polícia tinha montado um perímetro de segurança em redor do parlamento, com uma barreira policial que Puigdemont teria de cruzar para aceder ao edifício, mas nunca chegou a esse local, onde se esperava que fosse detido.

Os Mossos d`Esquadra acionaram depois a "operação Jaula", um dispositivo de segurança, com controlo de estradas, para tentar localizá-lo, mas sem sucesso.

Na quinta-feira, e perante as críticas, os Mossos já tinham divulgado um comunicado em que garantiram que tentaram deter o dirigente independentista nas ruas de Barcelona mas não conseguiram porque a prioridade foi evitar distúrbios, sublinhando que o político esteve sempre rodeado por milhares de pessoas e autoridades.

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