Governo afegão não foi ouvido para acordo entre os EUA e os taliban

por RTP
O secretário de Estado Mike Pompeo /esq.), com o presidente afegão Âshraf Ghani, em Julho de 2018 Andrew Harnik, Reuters

As conversações entre representantes norte-americanos e taliban no Qatar eram um segredo de Polichinelo: quase ninguém admitia a sua existência, mas toda a gente sabia que decorriam, na sombra, há vários meses. Agora parecem estar a aproximar-se de um acordo. E o Governo de Cabul é o último a saber.

O chefe da delegação norte-americana, Zalmay Khalilzad, anunciou ontem ao New York Times que houve "progressos significativos", que já permitem falar nos fundamentos de um acordo. Na mesma onda, o secretário da Defesa dos EUA, Patrick Shanahan, disse que as negociações foram "encorajadoras".

Nelas se terá discutido a proclamação de um cessar-fogo antes da eleições presidenciais afegãs, agendadas para o próximo verão, bem como a retirada das tropas norte-americanas no prazo de um ano e meio e, segundo o desejo dos EUA, as garantias de que o Afeganistão não se torne um santuário para organizações consideradas terroristas.

Desde logo, é difícil que se possa chegar a um acordo sólido e credível sobre todos estes pontos. Apesar de o presidente afegão Ashraf Ghani ainda ontem ter apelado ao diálogo com os taliban, estes consideram-no um fantoche ao serviço dos ocupantes ocidentais e recusam terminantemente discutir com ele seja o que for.

Quanto ao prazo de saída das tropas da NATO, desejado pelos taliban, nada indica que ele vá ser aceite pelos EUA - o que, por sua vez, torna altamente improvável o almejado cessar-fogo.

Calcula-se que neste momento os taliban controlem cerca de metade do território do Afeganistão. Os EUA têm actualmente cerca de 14.000 soldados no país, o que não tem impedido um alargamento das áreas controladas pelos taliban e uma progressiva desmoralização das tropas afegãs obedientes ao Governo de Cabul. Só nos últimos quatro anos, essas tropas sofreram 45.000 mortos, segundo dados oficiais.
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