Gigantes ditam as regras. Monopólios dos produtos alimentares esmagam agricultores britânicos

por RTP
Rasid Necati Aslim / Anadolu via AFP)

Pelo menos 49 por cento dos produtores de frutas e vegetais do Reino Unido afirmam que podem vir a falir nos próximos 12 meses. O motivo tem que ver com os grandes supermercados que, se continuarem a deter o poder de pressionar os agricultores a produzir apenas para eles, lhes retiram a liberdade de escolha para negociar as produções.

Tal como aconteceu nos últimos meses na União Europeia, os agricultores do Reino Unido também se manifestaram junto ao Parlamento. Protestaram contra o poder que os supermercados exercem quando espalham medo entre os agricultores para poder impor "condições injustas" e comprar as produções a mais baixo preço.

Um dos agricultores citados na publicação The Guardian explica que tinha cultivado 60 toneladas de batatas para salada para um grande supermercado do Reino Unido, mas essa superfície decidiu “cancelar repentinamente o pedido”, deixando o produtor “financeiramente lesado”.

Os analistas do jornal britânico explicam, por exemplo, que entre 70 e 90 por cento do comércio comercial global de cereais é atualmente controlado por cinco gigantes conhecidos como ABCCD: ADM, Bunge, Cofco, Cargill e Louis Dreyfus Company.

São estas empresas que gerem o pão, cereais, carne e outros alimentos que chegam aos consumidores, nomeadamente o seu custo.
Poder dos gigantes
Esse poder corporativo ganhou força na década de 1970. Na época era argumentado que quanto maiores fossem as empresas mais eficientes se tornariam, e que essa “eficiência” contribuiria para o “bem-estar do consumidor” por favorecer preços mais baixos e melhores produtos.

“As fusões estavam na moda. Essas ideias pró-monopólio foram disseminadas, ironicamente, por think tanks de mercado livre”, sublinham os especialistas.

Porém, verificou-se que a ideologia monopolista acabou por aumentar os preços, seja dos produtos alimentares, smartphones ou mesmo medicamentos.
Anti-monopólio
Nicholas Shaxson, co-fundador da ONG anti-monopólio Balanced Economy Project, defende a necessidade de travar o poder destes gigantes.

“Para fazer isso, os nossos reguladores devem bloquear as fusões e dividir as empresas que são grandes demais”, propugna Shaxson. A questão está na forma como se pode dividir as grandes companhias em pequenas empresas.

“A maioria das empresas dominantes são conglomerados em expansão, cheios de conflitos internos de interesse, unidades de negócios que causam problemas e pontos de estrangulamento lucrativos", explica. 

"Cada conglomerado pode ser cuidadosamente fatiado, removido ou desbloqueado; as peças resultantes podem então ser tratadas separadamente com, digamos, regulamentação de estilo utilitário, propriedade pública ou mais competição. As ruturas são políticas: ao conter o poder corporativo, elas podem abrir amplo espaço para os governos regularem, taxarem e policiarem o comportamento corporativo”, argumenta.

Shaxson aponta que a “Bunge agora quer fundir-se com uma empresa rival, a Viterra, para criar uma única empresa, dando aos agricultores ainda menos escolha sobre a quem vender os seus produtos e, por sua vez, dar à empresa combinada mais poder para pagar menos aos agricultores”.

Para este economista, é fundamental não deixar que aconteça esta fusão.

“Não deixem que a Bunge e a Viterra se fundam: separem-nas para libertar milhões em lucros de monopólio e devolvê-los para as nossas economias ressequidas”, pede Shaxson.

E adverte: “As marés estão a mudar contra o poder corporativo, mas não com a rapidez necessária. Agora precisamos forçar o ritmo. Caso contrário, cairemos mais fundo no abraço mortal dos monopólios mais poderosos que o mundo já viu”.
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