Geórgia deixa cair lei de inspiração russa após ira nas ruas

por Carla Quirino - RTP
Zurab Javakhadze - Reuters

Duas noites de protestos violentos contra o novo projeto de lei sobre "agentes estrangeiros" obrigaram o Governo da Geórgia a recuar. A reforma legislativa estava a ser criticada por ressuscitar a ideologia de uma lei russa usada para reprimir a dissidência.

O partido Sonho Georgiano, que lidera a coligação do Governo de Tbilisi, garantiu em comunicado que retirará incondicionalmente” o projeto-lei que defendia “sem quaisquer reservas”. Sublinhou a necessidade de reduzir o “confronto” na sociedade.

"Em primeiro lugar, devemos tratar da paz, tranquilidade e desenvolvimento económico da Geórgia, do progresso da Geórgia no caminho da integração europeia. Portanto, como forças responsáveis, decidimos retirar incondicionalmente o projeto de lei".

Durante dois dias e duas noites, milhares de pessoas encheram as ruas da capital manifestando-se contra a possível aproximação do Executivo a um regime autoritário, o que poderia prejudicar as pretensões georgianas no ingresso à União Europeia.

 
Confrontos em Tbilisi | Irakli Gedenidze - Reuters

A violência dos confrontos colocou frente a frente milhares de pessoas e a polícia, munida de canhões de água. Durante os protestos, as vozes unidas gritaram “não à lei russa”, "voltar para a URSS nunca mais" e foram agitadas muitas bandeiras da UE.

Mais de 70 manifestantes foram presos junto do Parlamento na capital georgiana.
“Agentes estrangeiros”
O projeto de lei recebeu muitas críticas devido à semelhança com uma lei russa de 2012 que também idendifica as organizações que recebem financiamento externo como "agentes estrangeiros".A lei russa tem sido usada para reprimir a dissidência, principalmente desde a invasão da Ucrânia, no ano passado.

O diploma em causa pretendia que quaisquer organizações não-governamentais ou meios de comunicação social na Geórgia que recebessem mais de 20 por cento dos fundos a partir de outros países fossem classificados de “agentes de influência estrangeira”.

Esta catalogação obrigaria as entidades a apresentarem regularmente relatórios financeiros e as autoridades poderiam sancioná-las ou proibi-las, em caso de irregularidades. Estariam, por isso, sujeitas a multas elevadas.
Embora a proposta visasse oficialmente a divulgação de fluxos de dinheiro do exterior, a opinião pública temeu que o instrumento legislativo fosse usado para perseguir os críticos do Governo e reprimir a oposição.

No comunicado do Governo que deixa cair este projeto de lei, argumenta-se ainda que a “máquina da mentira” confundiu parte da sociedade, uma vez que ao diploma foi atribuído o “falso rótulo russo” e a sua aprovação foi interpretada como uma renúncia à integração do país na Europa.

É reiterado pelo Governo que a Geórgia manterá a rota rumo à integração na UE e foi anunciado que está em curso uma campanha para "explicar a verdade" à opinião pública.
Reações
Os partidos da oposição realizaram uma conferência de imprensa conjunta após o anúncio da queda do projeto de lei. Mas o representante do partido Droa, Giga Lemonjala, afirmou que os protestos continuarão até que haja um documento oficial do abandono da lei e que todos os detidos durante os protestos estejam em liberdade.

A delegação da União Europeia na Geórgia já saudou o anúncio da retirada do controverso projeto. "Congratulamo-nos com o anúncio do partido no poder da retirada do projeto-lei", declarou no Twitter a delegação europeia em Tbilisi.


"Encorajamos todos os líderes políticos da Geórgia a retomar as reformas pró-europeias", rematou.

c/ agências
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