Genoma da galinha ajuda a esclarecer evolução dos vertebrados

por Agência LUSA

Um consórcio internacional de investigadores descodificou o genoma da galinha, o primeiro de uma ave, o que poderá ajudar a compreender a evolução dos vertebrados e terá reflexos na indústria agro-alimentar, divulga hoje a revista Nature.

Por se tratar do primeiro genoma de ave sequenciado, e dada a sua posição estratégica na árvore evolutiva, entre mamíferos e peixes, constitui uma fonte de informação única para o estudo dos vertebrados, salienta a revista científica britânica.

Como as aves pertencem ao grupo dos arcossauromorfos, que inclui os crocodilos e os dinossauros, esta é a sequência genómica analisada que mais nos aproxima dos dinossauros.

A sequenciação, análise e descodificação do genoma desta ave foram realizadas pelo Consórcio Internacional de Sequenciação do Genoma da Galinha, envolvendo 170 investigadores de 49 centros e laboratórios de investigação de todo o mundo.

O genoma da galinha foi obtido a partir de uma fêmea da raça asiática "Red Jungle Fowl" (Gallus gallus), a espécie original da galinha, da qual descendem todos os tipos de galinhas domésticas.

O seu genoma contém 39 pares de cromossomas, sendo que cerca de 60 por cento dos genes produtores de proteínas presentes no ADN da galinha têm correspondência no genoma humano.

De acordo com os investigadores, "a galinha parece ser a única espécie vertebrada que perdeu mais genes no processo evolutivo do que aqueles que ganhou", para além de ter vários genes relacionados com o sistema imunitário que antes se pensava existirem só nos mamíferos.

O genoma da galinha irá servir de modelo para 9.600 espécies de aves, para além de conduzir a novas pistas para a compreensão do genoma humano e contribuir para a criação de galinhas mais saudáveis.

A galinha, segundo a Nature, desempenha um papel importante no estudo dos vírus e do cancro, sendo que o primeiro vírus oncogénico foi identificado numa galinha.

Além disso, a descodificação do seu genoma poderá contribuir para o desenvolvimento de vacinas veterinárias mais eficazes.

As mesmas fontes sublinharam que a descoberta deste genoma terá grande importância para a indústria agro-alimentar, lembrando que o Instituto Nacional de Investigação do Genoma Humano dos Estados Unidos decidiu em 2002 dar prioridade ao estudo do genoma da galinha, à frente do de outros animais, como o porco ou a vaca.

Por outro lado, o estudo comparativo dos genomas de várias espécies abre pistas de investigação que poderão levar à descoberta de aspectos novos da biologia humana e da medicina.

O estudo comparativo do genoma da galinha com o dos mamíferos sequenciados até agora (ratinho, rato e homem) permitiu também identificar sequências que têm uma presença constante em aves e mamíferos, e que representam fragmentos de genoma preservados durante milénios.

A sequência conserva boa parte dos elementos funcionais do genoma, de tal maneira que se encontraram regiões conservadas desde a separação dos mamíferos, há 310 milhões de anos.

Muitas correspondem a genes activos em seres humanos e galinhas, havendo outras de que se desconhece ainda a função.

PUB