Gaza. O que se sabe sobre o acordo entre Israel e Hamas para a libertação de reféns
Quarenta e cinco dias depois do reacender do conflito no Médio Oriente, Israel e Hamas chegaram a um acordo para a libertação de reféns que implica um curto cessar-fogo. As negociações foram complexas e duraram várias semanas, contando com o apoio do Catar, Estados Unidos e Egito.
A pausa nas hostilidades começa com a libertação de pelo menos meia centena de mulheres e crianças feitas reféns pelo Hamas em Gaza. Deverão ser libertados entre dez a 12 reféns por dia entre quinta e segunda-feira.
Israel está já a preparar seis hospitais onde estas 30 crianças e 20 mulheres serão recebidas e avaliadas. Se estiverem saudáveis, poderão regressar às famílias. Segundo os EUA, deverão ser libertados três americanos, incluindo uma menina de três anos.
Em troca, o Governo de Benjamin Netanyahu prometeu uma trégua de quatro dias, a libertação de 150 mulheres e crianças palestinianas de uma prisão israelita e a permissão da entrada de ajuda humanitária em Gaza, nomeadamente alimentos, água, medicamentos e combustível.
Os prisioneiros palestinianos apenas serão libertados depois de os primeiros reféns do Hamas chegarem às suas casas. Já a pausa nos ataques aéreos israelitas apenas se aplica ao sul de Gaza. No norte vão continuar, mas num máximo de seis horas por dia.
Além disso, as forças israelitas concordaram em não levar mais veículos militares para o território nem realizar mais detenções enquanto durar o cessar-fogo.
E depois?
Após libertados os primeiros 50 reféns, continuarão em Gaza cerca de 200 israelitas e pessoas de outras nacionalidades nessa condição.
Por essa razão, apesar de este acordo inicial ter sido alcançado, as negociações continuam. Em cima da mesa está um plano para prolongar o cessar-fogo caso o Hamas aceite libertar outros dez reféns israelitas por cada dia de pausa nos ataques e bombardeamentos contra Gaza.
O acordo afeta a estratégia militar de Israel?
A aceitação da pausa humanitária representa, para Israel, um recuo na promessa inicial. Ao lançarem a incursão sobre Gaza, a intenção das forças israelitas era trazerem de volta os reféns enquanto destruíam o Hamas.
Agora, porém, esta pausa nos ataques vai permitir a esse grupo voltar a juntar-se após seis semanas de bombardeamentos e, eventualmente, acertar uma nova estratégia.
As forças israelitas já avisaram que, assim que terminar o cessar-fogo, vão virar as suas atenções do norte para o sul de Gaza, onde acreditam que os líderes do Hamas se encontram escondidos, em túneis subterrâneos.
A ajuda a Gaza vai ser suficiente?
Mesmo com a ajuda que vai agora chegar a Gaza, esse território palestiniano continuará a debater-se com um desastre humanitário, segundo vários grupos internacionais de Direitos Humanos.
Grande parte de Gaza está em ruínas e há uma necessidade urgente de comida, água e medicamentos, que em quatro dias não conseguirão ser entregues em quantidade suficiente.
Além disso, analistas já avisaram que, mesmo que a comunidade internacional conseguisse entregar bens de primeira necessidade em quantidade suficiente, as equipas de apoio humanitário iriam continuar sem conseguir distribuí-los devido à falta de combustível.
Há neste momento mais de um milhão de deslocados, neste momento abrigados em tendas, abrigos e escolas agora sobrelotados no sul do território.
Como é que os israelitas estão a ver este acordo?
As sondagens indicam que, em Israel, a maioria da população apoia o acordo para a libertação de reféns. Nas últimas semanas, aliás, as famílias dos reféns têm realizado protestos em Telavive e Jerusalém para exigirem ao Governo de Netanyahu que “pague o preço que tiver de pagar” para a libertação dessas pessoas.
Por todo o território israelita, cartazes com fotografias dos reféns foram colados pelas ruas e estradas com um apelo: “Tragam-nos para casa”.
Há, no entanto, quem se tenha oposto a esta trégua. Os ministros de extrema-direita da coligação do primeiro-ministro israelita votaram contra o acordo na última noite, argumentando que este é mau por não assegurar o regresso de todos os reféns e diminuir as hipóteses de atacar o Hamas.