Gaza. Mediadores reúnem-se no Catar em derradeiro esforço para alcançar tréguas

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Yves Herman - Reuters

As negociações foram retomadas esta terça-feira no Catar para ultimar os detalhes finais para um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza. Em Doha, os responsáveis indicam que as negociações estão na "fase final" e que é esperado um acordo "muito em breve".

Mais de 15 meses após o início da guerra em Gaza, Israel e o Hamas podem estar prestes a chegar a um acordo para um cessar-fogo e para a libertação de reféns, segundo avançaram várias fontes próximas às negociações.

Os mediadores estão reunidos, esta terça-feira, em Doha, no Catar, para “finalizar os detalhes restantes do acordo”, segundo revelou uma fonte próxima à agência France Presse.

O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Catar, Majed al-Ansari, anunciou que as negociações estão “na fase final” e que um acordo é esperado “muito em breve”.

“Acreditamos que nós [Catar] fomos capazes, por meio de negociações e por meio dos nossos parceiros no Egito e nos Estados Unidos, de minimizar muitas das divergências entre ambas as partes”, disse Majed al-Ansari.

“Tudo o que podemos dizer é que hoje estamos mais próximos de um acordo do que em qualquer outro momento no passado”, acrescentou.

Os mediadores entregaram a Israel e ao Hamas um rascunho final de um acordo na segunda-feira, após um "avanço" nas negociações em Doha, revelou uma autoridade informada sobre as negociações à agência Reuters.

Uma fonte palestiniana próxima às negociações também disse à Reuters que esperava que o acordo fosse finalizado esta terça-feira se "tudo correr bem".

O presidente norte-americano, Joe Biden, também disse na segunda-feira que um acordo para um cessar-fogo na Faixa de Gaza está “prestes” a ser alcançado.

"Estamos prestes a ver uma proposta que apresentei há vários meses finalmente ser concretizada", disse o presidente dos EUA durante um discurso na segunda-feira, afirmando que o seu governo está a trabalhar "urgentemente para fechar este acordo" antes de passar a pasta a Donald Trump.

“Está muito perto e estamos muito esperançosos de que finalmente cruzaremos a linha de chegada, depois de todo este tempo”
, disse Biden.

"O acordo libertaria os reféns, interromperia os combates, forneceria segurança a Israel e permitiria aumentar significativamente a assistência humanitária aos palestinianos que sofreram terrivelmente nesta guerra que o Hamas começou", disse Biden.
O que se sabe sobre o potencial acordo?
Os meios de comunicação israelitas partilharam detalhes do possível acordo de cessar-fogo, que tudo indica que estará dividido em três etapas.

Na primeira fase, 33 prisioneiros israelitas mantidos em Gaza serão libertados, incluindo crianças, mulheres, incluindo algumas mulheres de soldados, homens acima dos 50 anos e feridos e doentes. Em troca, Israel libertará prisioneiros palestinianos.

A segunda fase começará 16 dias após o cessar-fogo e irá focar-se nas negociações para libertar os restantes reféns, ou seja, homens e soldados.

Por fim, a terceira etapa do acordo abordará acordos de longo prazo, incluindo discussões sobre o estabelecimento de um governo alternativo em Gaza e planos para reconstruir a região.

De acordo com alguns relatos dos media, Israel poderá manter uma "zona-tampão" na Faixa de Gaza durante a primeira fase. O exército "não se deve retirar de Gaza até que todos os reféns sejam libertados, mas permitirá que os moradores se desloquem entre o sul e o norte de Gaza", avança o jornal Haaretz.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que a bola está do lado do Hamas. Blinken vai apresentar esta terça-feira o para a reconstrução e para o Governo de Gaza depois da guerra. O plano que Blinken deixa como legado, na sua última semana à frente da diplomacia dos Estados Unidos, é apresentado num discurso que vai fazer no Conselho do Atlântico. O plano deve ser depois trabalhado pela nova administração de Donald Trump.

Os EUA têm estado a pressionar para um último esforço nas negociações com o objetivo de conseguirem alcançar um cessar-fogo em Gaza ainda antes da saída de Joe Biden da Casa Branca, a 20 de janeiro.

No entanto, até agora ainda não foi possível chegar a um entendimento, com as duas partes a acusarem-se mutuamente de estarem a bloquear um acordo.

O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, já avisou que o “inferno vai explodir no Médio Oriente” se o Hamas não libertar os reféns antes da sua tomada de posse, a 20 de janeiro.

Netanyahu enfrenta pressão interna
Ao mesmo tempo, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, enfrenta uma pressão interna, com vários membros do seu partido de extrema-direita a exigirem a sua demissão caso o acordo seja aprovado.

O ministro israelita da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, ameaçou esta terça-feira abandonar o Governo se Netanyahu concordar com um acordo de cessar-fogo em Gaza.

"Durante o ano passado, usando o nosso poder político, conseguimos impedir que este acordo fosse aprovado", disse o líder do partido ultranacionalista Poder numa mensagem que difundiu nas redes sociais.

Ben Gvir qualificou a proposta de trégua, que prevê a libertação gradual de reféns israelitas em troca de prisioneiros palestinianos em Israel, de "horrível" e uma "rendição" face ao Hamas, apelando hoje aos aliados de extrema-direita para que ajudem a travar o eventual cessar-fogo.

Itamar Ben Gvir pediu ao ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, para que "informe o primeiro-ministro, de forma clara e firme, que se o acordo for aprovado" não resta outra saída a não ser a demissão.

Smotrich rejeitou na segunda-feira a proposta de tréguas que está a ser negociada no Qatar, mas não se comprometeu a abandonar o governo de coligação, tal como Ben Gvir lhe pede.

c/agências
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