Gaza. Donald Trump confirma acordo de cessar-fogo e de libertação de reféns
O presidente eleito dos EUA antecipou-se ao anúncio oficial catari e confirmou esta quarta-feira que "temos um acordo sobre os reféns". Horas antes, havia sido anunciada uma conferência de imprensa do primeiro-ministro do Catar sobre a conclusão das negociações.
O presidente-eleito dos EUA fez o anúncio na sua rede Truth Social, pouco depois de fontes oficiais de mediadores sob anonimato terem confirmado às agências noticiosas Reuters, AP e AFP, a obtenção do acordo.
"Temos acordo sobre os reféns no Médio Oriente. Serão libertados em breve", escreveu Trump.
"Temos acordo sobre os reféns no Médio Oriente. Serão libertados em breve", escreveu Trump.
O executivo israelita deverá reunir-se quinta-feira para votar o acordo, que abre caminho ao fim de um conflito que se arrasta há 15 meses.
O ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Gideon Saar, interrompeu
o périplo europeu, que deveria prosseguir na Hungria,
esta quinta-feira, para regressar a Israel, confirmou em comunicado o
seu Ministério.
Fontes do gabinete do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, disseram que continuam "por regularizar" algumas questões que se espera fiquem concluídas "esta noite".
Em causa está a manutenção da presença de tropas israelitas no chamado corredor de Filadélfia, uma zona tampão desmilitarizada de 14 quilómetros de comprimento e 100 metros de largura, que se estende ao longo de toda a fronteira entre o Egito e Gaza.
De acordo com o texto do acordo, a que a Agência Reuters teve acesso, Israel deverá reduzir as suas forças no corredor, com as forças a completarem a retirada nunca após o 50º dia de tréguas.
Fonte próxima das negociações em Doha, referiu que estas decorreram até à
última hora e implicaram uma reunião entre o primeiro-ministro do
Qatar, o Sheikh Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, com o Hamas, para um
"derradeiro esforço" com vista a um cessar-fogo.
Confirmação oficial
Pelas 19h00 em Lisboa, al Thani confirmou oficialmente que o acordo havia sido alcançado e que deverá entrar em vigor "no domingo".
Sem se alongar em pormenores, o primeiro-ministro catari confirmou ainda que na primeira fase serão libertados 33 reféns israelitas e disse esperar que as partes "respeitem" o acordado, apelando ainda à cooperação internacional.
A primeira fase de tréguas deverá durar 42 dias.
"O Hamas irá libertar 33 reféns israelitas, incluindo mulheres e civis, criança e pessoas idosas, doentes civis e feridos, em troca de vários prisioneiros palestinianos detidos nas prisões israelitas. Os detalhes quanto às fases dois e três serão finalizados durante a implementação da primeira fase", afirmou al Thani.
"O Hamas irá libertar 33 reféns israelitas, incluindo mulheres e civis, criança e pessoas idosas, doentes civis e feridos, em troca de vários prisioneiros palestinianos detidos nas prisões israelitas. Os detalhes quanto às fases dois e três serão finalizados durante a implementação da primeira fase", afirmou al Thani.
Doha confirmou que esta implementação será vigiada pelo Catar, pelo Egito e pelos Estados Unidos.
Preparativos
O presidente israelita, Isaac Herzog, reuniu-se esta quarta-feira com a presidente da Cruz Vermelha, Mirjana Spoljaric, e a sua equipa, que estão de visita a Israel. Os preparativos para a troca de cativos estiveram em cima da mesa, referiu um comunicado da presidência, sublinhando os desafios envolvidos na operação.
Vários hospitais israelitas estarão já a preparar-se para receber os reféns que forem libertados.
As Nações Unidas prometeram continuar a distribuir ajuda humanitária em Gaza durante o cessar-fogo, "conforme as condições no terreno o permitam", referiu o porta-voz do gabinete da ONU para a coordenação de questões humanitárias, Eri Kaneko.
O Hamas pediu à população deslocada de Gaza que confie somente nas fontes oficiais, evitando espalhar rumores e boatos sobre o regresso às suas cidades de origem, cujo calendário irá depender da retirada de Israel. Pediu ainda que se mantenha longe das zonas controladas pelas tropas israelitas.
Reações ao acordo
A confirmação das tréguas levou milhares de palestinianos às ruas de Gaza, em festejos, e juntou igualmente centenas de pessoas em Telavive, com cartazes a exigir a libertação dos reféns.
Um alto responsável do Hamas considerou que o acordo de tréguas é "um grande ganho" reflexo da "perseverança de Gaza, do seu povo e da sua bravura e resistência".
"É ainda a reafirmação do fracasso da ocupação para alcançar os seus fins", acrescentou Sami Abu Zuhri à Reuters.
"É ainda a reafirmação do fracasso da ocupação para alcançar os seus fins", acrescentou Sami Abu Zuhri à Reuters.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, saudou o acordo e instou as partes envolvidas a garantirem que seja totalmente implementado.
Na sede da ONU em Nova Iorque, Guterres indicou que a prioridade a partir de agora deve ser "aliviar o tremendo sofrimento causado por este conflito", prometendo todo o apoio à implementação do acordo.
Há vários dias que diversas fontes próximas das negociações anunciavam que o acordo estaria próximo, entre apelos a flexibilidade das partes.
O acordo seria considerado uma vitória para a Administração Biden, uma vez que ocorre escassos cinco dias antes da tomada de posse de,
Donald Trump, a 20 de janeiro. O ainda presidente eleito dos Estados Unidos, foi contudo instrumental para a conclusão positiva das negociações, que marcavam passo.
O seu enviado para o Médio Oriente,
Steve Witkof, juntou-se ao processo há algumas semanas. Trump tinha avisado que a libertação dos reféns deveria ocorrer antes da sua investidura, ameaçando o Hamas com consequências severas.
Esta quarta-feira, o republicano garantiu ainda que "não irá permitir que Gaza se torne um refúgio de terroristas".
Joe Biden reagiu após o anúncio oficial do Catar, aplaudindo a "tenacidade e minúcia" da diplomacia americana na obtenção do acordo e os esforços de todos os que trabalharam pela paz, frisando que a sua Administração e a de Trump "trabalharam em equipa", para conseguir o acordo.
O presidente norte-americano sublinhou que o acordo implementa a sua proposta, apresentada em maio passado, mas que será a próxima Administração a responsável pela sua implementação. Questionado sobre a quem cabem os louros do acordo, se a si. se a Trump, o presidente norte-americano encolheu os ombros. "Isso é uma brincadeira?", respondeu, dando por terminada a conferência de imprensa.
O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, um dos maiores obreiros do acordo, defendeu que este seja seguido de negociações para alcançar uma cessação permanente das hostilidades.
Ainda antes do anúncio oficial, o ministro turco, Hakan Fidan, afirmou em Ancara que as tréguas em Gaza constituem um passo importante para a estabilidade regional.
Fidan frisou ainda que os esforços turcos para implementar a solução de dois Estados, Palestina e Israel, para solucionar o conflito israelo-palestinano, irão prosseguir.
Fidan frisou ainda que os esforços turcos para implementar a solução de dois Estados, Palestina e Israel, para solucionar o conflito israelo-palestinano, irão prosseguir.
O Governo português saudou e manifestou o seu apoio ao acordo entre o Israel e o Hamas, sublinhando que permitirá "avançar rumo a uma solução política duradoura".
A Alemanha apelou todas as partes a "aproveitarem" a ocasião permitida pelas tréguas, com o chanceler Olaf Scholz a referir que o acordo "abre a porta" ao fim da guerra. A Itália considerou-o "um passo importante para a paz".
A presidente da Comissão Europeia, Úrsula von der Leyen, exortou Israel e o Hamas a "implementarem plenamente" o texto das tréguas.
Já Abdelfattah al-Sissi, presidente do Egito, um dos mediadores do acordo, apelou ao incremento da ajuda humanitária em Gaza no quadro das tréguas.
O que está em causa
Os Estados Unidos, o Egito e o Qatar passaram o último ano a tentar mediar o fim da guerra de 15 meses na Faixa de Gaza e a libertação de dezenas de reféns capturados no ataque do Hamas, em 07 de outubro de 2023, em solo israelita, incluindo aqueles que se presume estarem mortos.
O acordo de três fases é baseado numa estrutura definida por Joe Biden, e endossada pelo Conselho de Segurança da ONU.
O acordo de três fases é baseado numa estrutura definida por Joe Biden, e endossada pelo Conselho de Segurança da ONU.
O primeiro passo será a libertação gradual de 33 reféns ao longo de um período de seis semanas, incluindo mulheres, crianças, idosos e civis feridos em troca de mil palestinianos detidos em Israel.
Durante esta primeira fase de 42 dias, as forças israelitas deverão também retirar-se dos centros populacionais e os palestinianos autorizados a começar a regressar às suas casas no norte do enclave, num processo acompanhado de um aumento da ajuda humanitária, com cerca de 600 camiões a entrar todos os dias no território.
Os detalhes das restantes fases ainda têm de ser negociados enquanto decorre a primeira, com os mediadores a garantirem ao Hamas que o processo irá prosseguir, para implementar a segunda e terceira fases antes do final da primeira, segundo as autoridades egípcias.
O acordo permitiria a Israel, durante a primeira fase, permanecer no controlo do Corredor Filadélfia, a faixa de território ao longo da fronteira da Faixa de Gaza com o Egito, da qual o Hamas exigiu inicialmente que as forças israelitas se retirassem.
No entanto, Israel deve retirar-se do corredor Netzarim, no centro do território.
Na segunda fase, o Hamas libertaria os restantes reféns vivos, em troca de mais prisioneiros palestinianos e da "retirada completa" das forças israelitas da Faixa de Gaza, de acordo com o projeto de acordo.
Numa terceira fase, os corpos dos restantes reféns seriam devolvidos em troca de um plano de reconstrução de três a cinco anos a ser executado sob supervisão internacional.
O ataque de Hamas em outubro de 2023 provocou cerca de 1.200 mortos e outras 250 foram levadas como reféns.
A ofensiva em grande escala de Israel na Faixa de Gaza provocou por seu lado acima de 46 mil mortos, na maioria civis, segundo as autoridades locais controladas pelo Hamas, e deixou o enclave destruído e mergulhado numa grave crise humanitária.
com Lusa
Durante esta primeira fase de 42 dias, as forças israelitas deverão também retirar-se dos centros populacionais e os palestinianos autorizados a começar a regressar às suas casas no norte do enclave, num processo acompanhado de um aumento da ajuda humanitária, com cerca de 600 camiões a entrar todos os dias no território.
Os detalhes das restantes fases ainda têm de ser negociados enquanto decorre a primeira, com os mediadores a garantirem ao Hamas que o processo irá prosseguir, para implementar a segunda e terceira fases antes do final da primeira, segundo as autoridades egípcias.
O acordo permitiria a Israel, durante a primeira fase, permanecer no controlo do Corredor Filadélfia, a faixa de território ao longo da fronteira da Faixa de Gaza com o Egito, da qual o Hamas exigiu inicialmente que as forças israelitas se retirassem.
No entanto, Israel deve retirar-se do corredor Netzarim, no centro do território.
Na segunda fase, o Hamas libertaria os restantes reféns vivos, em troca de mais prisioneiros palestinianos e da "retirada completa" das forças israelitas da Faixa de Gaza, de acordo com o projeto de acordo.
Numa terceira fase, os corpos dos restantes reféns seriam devolvidos em troca de um plano de reconstrução de três a cinco anos a ser executado sob supervisão internacional.
O ataque de Hamas em outubro de 2023 provocou cerca de 1.200 mortos e outras 250 foram levadas como reféns.
A ofensiva em grande escala de Israel na Faixa de Gaza provocou por seu lado acima de 46 mil mortos, na maioria civis, segundo as autoridades locais controladas pelo Hamas, e deixou o enclave destruído e mergulhado numa grave crise humanitária.
com Lusa