Gabinete humanitário da ONU diminui pessoal em 20% após corte no financiamento dos EUA
O gabinete da ONU para os assuntos humanitários (Ocha), que emprega cerca de 2.600 pessoas em todo o mundo, vai reduzir o seu pessoal em 20% e simplificar operações em vários países, devido aos cortes de financiamento dos EUA.
"O contexto que enfrentamos é o mais desafiante de sempre para a execução da nossa missão (...) A comunidade humanitária já estava subfinanciada, sobrecarregada e literalmente sob ataque. Agora, enfrentamos uma onda de cortes brutais de financiamento", referiu o líder do organismo Tom Fletcher, numa carta aos funcionários enviada na quinta-feira.
Na carta completa obtida hoje pela agência France-Presse (AFP), Fletcher fez referência direta aos Estados Unidos, que até então eram o "principal contribuinte" para o orçamento do programa do OCHA, com mais de 60 milhões de dólares por ano.
A administração liderada pelo republicano Donald Trump cortou 83% dos programas da agência de desenvolvimento dos EUA, a USAID, que até agora geria um orçamento anual de 42,8 mil milhões de dólares, o que representa 42% da ajuda humanitária desembolsada em todo o mundo.
Neste contexto, desde fevereiro, a Ocha tomou medidas de austeridade, poupando 3,7 milhões de dólares, e implementou medidas para melhorar os seus métodos de trabalho.
Mas agora é tempo de "escolhas difíceis", observou Tom Fletcher, insistindo que estas escolhas estavam ligadas a cortes orçamentais "e não a uma redução das necessidades humanitárias", que só estão a aumentar.
"No geral, reduziremos a nossa força de trabalho em 20%", anunciou.
"O OCHA conta atualmente com uma equipa de cerca de 2.600 pessoas em mais de 60 países. A falta de financiamento significa que estamos a procurar reagrupar-nos em torno de uma equipa de cerca de 2.100 pessoas em menos países", pode ler-se na missiva consultada pela AFP.
Fletcher indicou também que espera um relatório dos chefes de divisão até ao final de junho sobre onde "parar e reduzir o trabalho".
Mas já indicou que o gabinete vai reduzir o número de cargos de gestão e também "a sua presença e operações" nos Camarões, Colômbia, Eritreia, Iraque, Líbia, Nigéria, Paquistão, Turquia e Zimbabué.
"Sei que não é fácil. Acreditamos apaixonadamente no nosso trabalho, por boas razões. Mas não podemos continuar a fazer tudo", lamentou, descrevendo um défice de financiamento de quase 60 milhões de dólares para os planos humanitários da Ocha em 2025.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), que empregava quase 20 mil pessoas no final de setembro, indicou também no final de março que esperava uma "redução significativa" na sua equipa devido à falta de ajuda de Washington.
Em março, o secretário-geral da ONU, António Guterres, lançou um processo de revisão interna com o objetivo de tornar o sistema da ONU "mais eficiente", uma vez que enfrenta dificuldades orçamentais crónicas, agravadas pelas políticas do Presidente dos EUA.