Fundação Mandela expressa tristeza pela morte de Mangosuthu Buthelezi

por Lusa

A Fundação Nelson Mandela expressou tristeza pela morte esta madrugada do líder histórico do partido de Liberdade Inkatha (IFP), Mangosuthu Buthelezi, aos 95 anos.

"É com tristeza que a Fundação Nelson Mandela soube do falecimento do príncipe Mangosuthu Buthelezi, uma figura proeminente na história da África do Sul", disse em comunicado a organização sul-africana.

"O seu legado é imponente e complexo, abrangendo vertentes tão diversas como a mobilização de identidades étnicas nas lutas políticas, a construção da paz, o serviço num governo de unidade nacional e a dedicação para fazer a democracia funcionar na África do Sul", considerou.

Na nota, a Fundação Nelson Mandela sublinhou que "a jornada" de vida de Mangosuthu Buthelezi se "cruzou em vários pontos" com a de Nelson Mandela.

"De muitas formas, os dois líderes incorporaram uma compreensão da reconciliação que não necessitava de perdão, nem de esquecer o passado, nem mesmo de aprender a gostar um do outro -- tratava-se simplesmente de determinar a convivência", concluiu.

O primeiro-ministro tradicional do povo Zulu, o maior grupo étnico no país com mais de 10 milhões de pessoas, e fundador do Partido da Liberdade Inkatha (IFP), o príncipe Mangosuthu Buthelezi morreu esta madrugada com 95 anos, anunciou hoje o Presidente da República da África do Sul, Cyril Ramaphosa.

"Estou profundamente triste ao anunciar o falecimento do príncipe Mangosuthu Buthelezi, o príncipe de KwaPhindangene, primeiro-ministro tradicional do monarca e da Nação Zulu, e fundador e presidente emérito do Partido da Liberdade Inkatha", disse o chefe de Estado sul-africano, em comunicado.

"O príncipe Mangosuthu Buthelezi tem sido um líder notável na vida política e cultural da nossa nação, incluindo os altos e baixos da nossa luta de libertação, a transição que garantiu a nossa liberdade em 1994 e o nosso regime democrático", adiantou.

Magosuthu Buthelezi, que foi o primeiro-ministro do Interior no governo de transição da África do Sul democrática, no mandato de Nelson Mandela, faleceu na madrugada de hoje, sábado, 9 de setembro, segundo a presidência sul-africana.

Há duas semanas, Mangosuthu Buthelezi celebrou o seu 95.º aniversário.

No momento do seu falecimento, o partido de Buthelezi recupera a popularidade que perdeu para o rival ANC no KwaZulu-Natal, a sua província natal, no sudeste do país.

Buthelezi fundou o Partido da Liberdade Inkatha a pedido de Oliver Tambo, na altura líder de há longa data do Congresso Nacional Africano (ANC), passando a ser acérrimo crítico do então movimento de libertação sul-africano.

Em abril de 2021, o fundador e presidente emérito do Partido da Liberdade Inkatha afirmou em entrevista exclusiva à Lusa nunca ter existido uma verdadeira reconciliação com o partido no poder na África do Sul, com o qual gostaria ainda de fazer a paz.

"Quando recusei a independência do povo Zulu, destruí essa política, por isso é que iniciaram as negociações, porque o maior grupo étnico não iria fazer parte do processo", recordou o primeiro-ministro tradicional do Reino amaZulu, em entrevista à agência Lusa, na sede do seu partido, em Ulundi, na Zululândia, sobre o processo de reconciliação nacional.

Buthelezi, que iniciou a sua carreira política no Congresso Nacional Africano (ANC), sublinhou ter sido instado pelo então chefe de Estado da Zâmbia, Kenneth Kaunda, durante uma visita a Lusaka, a criar uma organização política na África do Sul que fosse "mais representativa dos sul-africanos negros" nas décadas de 1960 e 1970.

"Posteriormente falei com o meu líder, Oliver Tambo [o fundador do ANC], que me disse: `Por favor, avança`, e foi assim que criei o IFP, como uma frente do ANC, com base nos mesmos princípios de não-violência e negociações, da génese do ANC, em 1912", frisou.

Todavia, a transição política na África do Sul, do regime de segregação racial do `apartheid` para a democracia viria a ser caracterizada por exigências constitucionais e uma escalada de violência entre o ANC e o IFP, liderados respetivamente por Nelson Mandela e Mangosuthu Buthelezi, nas províncias do Natal (atual KwaZulu-Natal) e do Transvaal (atual Gauteng), nas negociações com o Governo sul-africano de minoria branca.

O IFP, que o Governo de Pretória reconhecia como sendo representativo da maioria negra no país quando legalizou o ANC, ameaçou também boicotar durante o processo negocial as primeiras eleições multipartidárias e democráticas, de 26 a 28 de abril de 1994.

Após anos de violência étnica entre o ANC e o IFP nas províncias de Kwazulu-Natal e Gauteng, onde se situa Joanesburgo, o IFP disputou as primeiras eleições democráticas e integrou o primeiro governo pós-`apartheid` do país.

As primeiras eleições democráticas da África do Sul, em 1994 - em que Mangosuthu Buthelezi obteve 10,5% dos votos, integrando o primeiro Governo de Unidade Nacional, liderado pelo Presidente Nelson Mandela, resultaram de quatro anos de negociações, iniciadas em 1990 com a legalização dos movimentos de libertação, nomeadamente o ANC, o Partido Comunista Sul-Africano (SACP) e o Congresso Pan-Africano (PAC) e um acordo negociado pelo então partido no poder, o Partido Nacionalista (NP).

Na altura, o líder zulu explicou à Lusa que em 2019 abordou o Presidente sul-africano e dirigente do Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), Cyril Ramaphosa, a quem lamentou que o partido no poder tenha sido injusto consigo, mas justificou que na altura não podia ceder o poder na região ao ANC.

Buthelezi referiu ter sublinhado ao chefe de Estado sul-africano que é preciso "fechar essa ferida", lamentando que a covid-19 tenha interrompido estas conversações porque, disse, "o tempo está a passar".

"Não compartilhamos a visão do ANC, isto é, a luta entre nós não acabou porque acho que não terei acordo, até na expropriação de terras temos grandes diferenças, então a luta continua", frisou Mangosuthu Buthelezi à Lusa.

Após 44 anos na liderança do partido, Buthelezi deixou o cargo de presidente do IFP em 2019, permanecendo como presidente emérito.

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