Maputo, 21 mar (Lusa) -- A Fundação Fernando Leite Couto, em parceria com a Cruz Vermelha Internacional, vai ajudar na angariação de valores monetários para ajuda humanitária imediata em Moçambique, como se lê na carta do escritor Mia Couto, hoje divulgada.
Na carta assinada pelo escritor moçambicano, natural da Beira, lê-se que o seu país "precisa urgentemente da solidariedade de todos", e que, além da ajuda humanitária imediata, também serão angariados valores para a "reconstrução, a longo prazo, de infraestruturas danificadas devido a passagem do ciclone Idai, pela zona centro do país".
As Nações Unidas apontam o ciclone, que afetou 1,7 milhões de pessoas, como "o pior desastre climático no hemisfério sul".
O facto de não se conseguir quantificar o número de mortos e avaliar a dimensão dos estragos, que incluem casas, edifícios públicos, estradas, pontes, energia ou comunicações, mostra bem "a dimensão desta tragédia, que supera largamente a capacidade de resposta do nosso país", escreve Mia Couto.
A cidade da Beira, a segunda maior de Moçambique, foi "quase totalmente destruída e encontra-se isolada". Parece "ter sido condenada ao escuro, ao luto e ao silêncio", escreve Mia Couto, segundo o qual "não há mais chão para a chuva que continua a tombar".
A Fundação, lê-se na missiva, "irá definir, numa segunda fase, com amigos e parceiros, formas de manter o apoio na reconstrução da cidade da Beira".
"Na primeira fase, os donativos serão canalizados para a Cruz Vermelha de Moçambique e Internacional, para responder às necessidades imediatas como imperativo humanitário", escreve Mia Couto.
Os donativos em dólares podem ser entregues no IBAN MZ590 0430 000 000 179 7980 085, SWIFT: UNICMZMX, ou em meticais em IBAN MZ590 0430 000 000 179 7880 369, SWIFT: UNICMZMX, ou ainda através da página de facebook da Fundação Fernando Leite Couto, e dos `sites` e facebook da Editorial Caminho.
O escritor tem mantido publicações regulares, no Facebook, que documentam a situação no país.
Na terça-feira, lia-se na sua página oficial: "Na verdade, estou quase tão destruído quanto a minha cidade. Estava determinado a ir para a Beira para mergulhar no espírito do lugar e agora, segundo me dizem, quase não há lugar. É como se me tivessem arrancado parte da infância".
De acordo com números divulgados hoje, em Genebra, pelo Programa Alimentar Mundial (PAM) das Nações Unidas, a passagem do ciclone Idai por Moçambique, Zimbabué e Maláui atingiu, pelo menos, 2,8 milhões de pessoas.
O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, decretou o estado de emergência nacional, na terça-feira, e disse que 350 mil pessoas "estão em situação de risco".
Moçambique cumpre hoje o segundo de três dias de luto nacional.
A Cruz Vermelha Internacional indicou que pelo menos 400.000 pessoas estão desalojadas na Beira, considerando que se trata da "pior crise" do género em Moçambique.
O Idai, com fortes chuvas e ventos de até 170 quilómetros por hora, atingiu a Beira (centro de Moçambique) na noite de 14 de março, deixando os cerca de 500 mil residentes na quarta maior cidade do país sem energia e linhas de comunicação.