Fugas de gás no Mar Báltico podem tornar-se problema global

por RTP
Na fotografia vê-se a fuga de gás do Nordstream2, no Mar Báltico Reuters

As fugas de gás no Mar Báltico têm sido medidas pelos cientistas nos últimos dias e acredita-se que os níveis de fuga estão muito perto dos registados anualmente em alguns países. Pensa-se que esta seja a maior fuga de gás nos últimos tempos. Um problema que pode juntar-se às fugas de metano que já são registadas todos os anos pelo mundo.

Os cientistas acreditam que os níveis de fuga de gás e metano anunciadas pelas empresas estão subestimados, apesar de muitas multinacionais declararem que estão a reduzir, de facto, as emissões carbónicas. O assunto torna-se mais sério porque o gás liberta metano, que é muito perigoso quando lançado na atmosfera.

Estas fugas acontecem através de redes de distribuição de gás, especialmente no inverno, quando o gás é usado para aquecer milhões de casas por todo o mundo.

De acordo com as medições realizadas através de satélite, os cientistas perceberam que as emissões de metano a partir de petróleo e gás são o dobro do que as empresas normalmente reportam, explicou Thomas Lauvaux, da Universidade de Reims, em França.

“Todos dizem ter reduzido emissões, mas não é verdade”.

No entanto, este não é apenas um problema das empresas. Os próprios governos dos países de maiores rendimentos costumam medir estes valores por baixo, como explicou Robert Howarth, professor da Universidade de Cornell.

Num panorama global, o Turquemenistão é um dos países que maiores problemas têm em controlar as emissões de metano, enquanto a Arábia Saudita é um dos países com melhores condições para conseguir realizar a captura do metano assim que chega à atmosfera.

Thomas Lauvaux explicou que vários cientistas observaram pelo menos 1500 grandes fugas de metano para a atmosfera em todo o mundo, às quais se acrescentam dezenas de milhares de fugas mais pequenas. Tudo observado através de um satélite.

A empresa Kayrros, especializada na análise de dados de satélites, revelou que a maioria das fugas de gás não é acidental, já que acontecem maioritariamente quando as empresas levam a cabo operações de manutenção, por exemplo, quando os pipelines necessitam de ser reparados. Os trabalhadores precisam de retirar gás das infraestruturas para conseguirem fazer a reparação sem que haja explosões.

Depois das reparações, as empresas não se preocupam em voltar a recapturar estas fugas, uma prática que é, por exemplo, legal nos Estados Unidos.

Para reduzir as emissões de metano para a atmosfera, muitas empresas decidem que o melhor processo é queimar o que é considerado gás em excesso. Aquando da exploração, as empresas tentam incluir na escavação algum tipo de chama, para que o gás suba juntamente com o petróleo.

A Universidade do Michigan publicou um estudo na última quinta-feira segundo o qual este método, de colocar chama durante a exploração de petróleo, é um processo que lança cinco vezes mais emissões de metano para a atmosfera do que aquilo que era pensado previamente. Por isso, é pedido às empresas que terminem com este tipo de atividade ou que empreguem todos os cuidados necessários para que o processo funcione de forma eficaz.

“Se agirmos a tempo, pode ter um grande impacto climático”, explicou Genevieve Plant, autora do estudo da Universidade do Michigan.
Apesar de muitas vezes os combustíveis fósseis serem culpados de lançar emissões de metano para a atmosfera, é importante não esquecer que aterros sanitários e o cuidado intensivo de gado também têm impacto nesta matéria.

Sobre as fugas de gás no Mar Báltico, o professor de ciência geofísica da Universidade de Chicago, David Archer, acredita que a maioria delas se dissolveu na água. “A fuga é preocupante mas não se compara ao impacto diário das emissões de metano que vemos na atividade agrícola".
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