Fuga em massa da prisão. Haiti em estado de emergência por "deterioração da segurança"

por Carla Quirino - RTP
Bloco de celas abertas na Penitenciária Nacional em Porto Príncipe Ralph Tedy Erol - Reuters

Está decretado desde domingo, no Haiti, o estado de emergência e um recolher obrigatório na capital do país, devido à "deterioração da segurança". Protestos contra o Executivo de Ariel Henry desencadearam ataques a duas cadeias por grupos armados, durante o fim de semana, permitindo a fuga de milhares de reclusos do principal estabelecimento prisional de Port-au-Prince.

A escalada de violência nas ruas, durante a última semana, ocorreu depois de apelos do líder de grupos criminosos Jimmy Chérizier, um ex-polícia de elite, para que os vários gangues se unissem para derrubar Ariel Henry, primeiro-ministro e presidente interino do Haiti.

Os vários dias de protestos e confrontos entre autoridades e grupos armados em Port-au-Prince culminaram com gangues a invadir a sobrelotada Penitenciária Nacional da cidade e a libertar a maioria dos reclusos.Os guardas prisionais deram o alerta e pediram ajuda durante o ataque, mas no domingo não havia polícias no local e as portas principais do estabelecimento prisional estavam abertas.

"Sou o único que sobrou na minha cela", disse um preso não identificado à agência de notícias Reuters. "Estávamos a dormir quando ouvimos o som de balas. As barreiras das celas estão partidas".

A instalação foi construída para abrigar 700 prisioneiros, mas tinha cerca de 3.687 presos em fevereiro do ano passado, de acordo com o grupo de Direitos Humanos RNDDH.

O número de reclusos em fuga é incerto, mas fontes próximas da instituição dizem que é provável que seja uma maioria “esmagadora”, de acordo com a estação britânica Sky News.

No domingo, foram encontrados no pátio da prisão os corpos baleados de três presos que estariam em fuga. Num bairo próximo, estavam mais dois mortos com as mãos amarradas nas costas.
"Deterioração da segurança"
O ministro haitiano da Economia, Patrick Michel Boisvert, assinou um comunicado do Governo a confirmar a substituição do primeiro-ministro Ariel Henry. Foi ainda decretado o estado de emergência no país.

Numa tentativa de restabelecer a ordem, está também em vigor um recolher obrigatório das 18h00 às 5h00, todos os dias, até quarta-feira, podendo ser prorrogado por mais 72 horas.

O Governo instou as forças de segurança a “usarem todos os meios legais à disposição para fazer cumprir o recolher obrigatório e deter aqueles que o violam”, justificando a medida com o facto de “um líder de gangues de Port-au-Prince estar a tentar derrubar o Governo”.

Boivert acentuou ainda a  “deterioração da segurança”, nomeadamente na capital, alertando para os “atos criminosos cada vez mais violentos perpetrados por gangues armados”, incluindo sequestros e assassinatos de cidadãos, violência contra mulheres e crianças e saques”.

O governante confirmou também os ataques de grupos armados, no sábado, contra as duas maiores prisões do país, uma em Port-au-Prince e outra em Croix des Bouquets, que levaram à fuga de “prisioneiros perigosos” e causaram mortes e feridos entre policias e funcionários prisionais.


Barricada em Porto Príncipe | Ralph Tedy Erol - Reuters

A onda de violência que estalou nas ruas de Port-au-Prince na semana passada está alegadamente relacionada com a viagem do primeiro-ministro Ariel Henry ao estrangeiro. O governante pretende conseguir apoio para fazer chegar uma força de segurança ao país, validada pelas Nações Unidas, para ajudar a estabilizar o Haiti na luta contra com grupos armados cada vez mais poderosos.

De acordo com a Associated Press, Chérizier, também conhecido como Barbecue, não só assumiu a responsabilidade pelo aumento dos ataques como deixou claro que o objetivo é capturar o chefe da polícia e os ministros do Governo do Haiti e impedir o retorno de Henry.
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