O anúncio da primeira mobilização militar parcial da Rússia desde a II Guerra Mundial está a levar a uma fuga em massa de homens em idade militar para evitar serem enviados para a guerra na Ucrânia. Nas passagens fronteiriças há filas de vários quilómetros.
Finlândia, Mongólia, Cazaquistão, Geórgia, Arménia, Bielorrússia, Uzbequistão, Letónia. Lituânia, Estónia, Polónia, Azerbaijão e Sérvia são alguns dos exemplos.
As opções de fuga são limitadas: quatro dos cinco países da União Europeia que fazem fronteira com a Rússia já anunciaram que não permitem a entrada de russos com vistos turísticos.
Os voos diretos de Moscovo para Istambul, Yerevan, Toshkent e Baku, as capitais dos países que permitem aos russos a entrada sem visto, esgotaram-se para a semana seguinte ao anúncio da mobilização. O valor elevado das passagens aéreas torna a o valor possível apenas para uma minoria.
Geórgia
Foto: The Insider via Reuters
As chegadas de russos à Geórgia quase duplicaram para dez mil por dia, após o anúncio da mobilização parcial anunciada por Vladimir Putin no passado dia 21 de setembro.
O Ministério do Interior da Geórgia revelou que o “número aumentou para cerca de dez mil por dia. Havia 11.200 no domingo e menos de dez mil na segunda-feira”, em comparação com “cinco mil a seis mil” antes da mobilização.
O número de entradas está a diminuir, mas continua mais elevado do que o normal.
No domingo, num dos pontos fronteiriços, o tempo de espera para entrar na Geórgia era de 48 horas, e mais de três mil viaturas estavam na fila.
Desde a invasão russa à Ucrânia, a 24 de fevereiro, cerca de quatro mil russos chegaram a Tbilissi, a capital do país do Cáucaso.
A Rússia travou uma guerra em 2008 com a Geórgia pelo controle das regiões separatistas da Ossétia do Sul e da Abkhazia. A Geórgia contínua hostil ao Kremlin.
Cazaquistão
O presidente do Cazaquistão revelou esta terça-feira que está disposto a acolher refratários russos que estão a fugir para o território cazaque para evitar a incorporação militar.
"Nos últimos dias, muitas pessoas vêm da Rússia para aqui. A maior parte é obrigada a sair" do país vizinho, disse Kassym-Jomart Tokaiev, citado pelos meios de comunicação social russos.
"Temos de nos preocupar com eles e assegurar-lhe segurança", acrescentou o chefe de Estado do Cazaquistão, país aliado da Rússia mas que está manter distância sobre as questões relacionadas com a nova invasão iniciada no passado dia 24 de fevereiro.
Nas fronteiras do antigo Estado soviético registaram-se várias filas de pessoas que querem deixar a Rússia.
Apesar de ser um parceiro próximo de Moscovo, devido aos seus laços históricos, o Governo de Astana já revelou que não vai reconhecer a anexação das regiões orientais da Ucrânia, se a Rússia usar os referendos como pretexto para o fazer.
Finlândia
Foto: Lehtikuva/Sasu Makinen via Reuters
Na última semana, quase 17 mil russos cruzaram a fronteira com a Finlândia, um aumento de 80 por cento face à semana anterior.
Alguns dos russos que fizeram a travessia no passado fim-de-semana revelaram que partiram de São Petersburgo – a segunda maior cidade da Rússia- e fizeram mais de três horas de carro.
Na sexta-feira, o governo da Finlândia afirmou que vai impedir a entradas de todos os cidadãos russos com visto de turista, apesar de poderem ser feitas exceções em casos de motivos humanitários.
Letónia, Lituânia, Estónia e Polónia
Foto: Fronteira com a Estónia | Janis Laizans - Reuters
Tal como a Finlândia, são quatro países da União Europeia que partilham fronteira terrestre com a Rússia – dois em redor do enclave de Kaliningrado e ou outros adjacentes ao Continente europeu.
Os quatro países decidiram recentemente rejeitar turistas russos, limitando as possibilidades de russos fugitivos usá-los como rota de saída.
A UE, que já tinha proibido voos diretos entre seus 27 estados membros e a Rússia, recentemente concordou em limitar a emissão de vistos Schengen, permitindo a livre circulação em grande parte da Europa, para cidadãos russos.
Bielorrússia
O Governo de Minsk é um dos poucos que apoia a invasão russa à Ucrânia, no entanto há relatos de vários russos terem entrado no país.
Uma fuga que pode não ser das mais seguras, os serviços de segurança da Bielorrússia foram instruídos a rastrear os russos que fugiram do alistamento.
Mongólia
Foto: Maxar Technologies via Reuters
Entre as minorias étnicas em áreas remotas e pobres da Sibéria, de onde no passado foram retiradas grandes proporções das Forças Armadas profissionais da Rússia, houve protestos.
No sábado, o ex-presidente da Mongólia Tsakhia Elbegdorj, atual chefe da Federação Mongol Mundial, disse que qualquer um que fugisse do alistamento militar seria recebido calorosamente em seu país.
Uzbequistão
A principal autoridade religiosa do Uzbequistão, uma ex-república soviética na Ásia Central, instou os habitantes a não se envolverem no conflito da Ucrânia, por que isso iria contra a fé islâmica.
O Conselho Muçulmano do Uzbequistão disse que membros de algumas "organizações terroristas" estavam recrutando muçulmanos para lutar no conflito na Ucrânia sob o pretexto de jihad, ou guerra santa.
Turquia, Arménia, Azerbaijão e Sérvia
Foto: Aeroporto internacional de Yerevan, Armédia | Hayk Bagdasaryan/Photolure via Reuters
Os voos foram vendidos a preços exorbitantes devido ao aumento da procura nos últimos dias.
Alguns russos chegam à Turquia com a esperança de voar para outros países.
Foto: Antália, Turquia | Kaan Soyturk - Reuters
E os que ficam?
Muitos dos que não conseguiram fugir sentem que o tempo se está a esgotar. Pelo menos três regiões russas já anunciaram que fecharam as fronteiras internas para homens elegíveis para o alistamento.
Nos aeroportos os agentes fronteiriços começaram a interrogar os passageiros do sexo masculino e a verificar os voos de regresso.
Em várias cidades russas prosseguem os protestos contra a mobilização parcial, com muitos a acusar as tropas do seu país de estarem a cometer crimes contra a humanidade em Bucha, Irpin e outras localidades ucranianas.
Oficialmente Moscovo afirma que são necessários 300 mil militares com experiência.
Muitos dos que não conseguiram fugir sentem que o tempo se está a esgotar. Pelo menos três regiões russas já anunciaram que fecharam as fronteiras internas para homens elegíveis para o alistamento.
Nos aeroportos os agentes fronteiriços começaram a interrogar os passageiros do sexo masculino e a verificar os voos de regresso.
Em várias cidades russas prosseguem os protestos contra a mobilização parcial, com muitos a acusar as tropas do seu país de estarem a cometer crimes contra a humanidade em Bucha, Irpin e outras localidades ucranianas.
Oficialmente Moscovo afirma que são necessários 300 mil militares com experiência.
Foto: Reservistas convocados em Tara na região de Omsk, Rússia | Alexey Malgavko - Reuters