O secretário-geral da Fretilin, segundo partido mais votado nas eleições de sábado em Timor-Leste, disse hoje que o partido encontrou provas de "crimes eleitorais" que fazem parte da documentação que apresentou ao Tribunal de Recurso.
Em declarações à Lusa, Mari Alkatiri escusou-se a avançar detalhes concretos sobre o recurso que a Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) apresentou hoje contra o apuramento dos resultados das legislativas.
Referindo-se aos prazos curtos do processo eleitoral, explicou que, além do recurso hoje apresentado, a Fretilin continua a realizar investigações.
"Vamos deixar o Tribunal deliberar e considerar. Este é um processo eleitoral e os prazos são muito curtos. O que apresentamos já é substancial, mas a investigação continua em termos de crimes eleitorais. Temos seis meses para o fazer", disse à Lusa na sede do Comité Central da Fretilin em Díli.
Questionado sobre se as queixas levadas ao Tribunal de Recurso incidem particularmente na região de Oecusse, em que a Fretilin perdeu significativamente face a 2017, Alkatiri disse que foram recolhidas "provas", sem as detalhar.
"Temos muitas provas em Oecusse. As pessoas continuam traumatizadas. Há carros estranhos com pessoas estranhas que continuam a intimidar. Teremos que gerir isto com certo cuidado. A última coisa que gostaria de provocar seria um conflito entre comunidades, em Oecusse ou no resto de Timor", afirmou.
Independentemente das investigações, Alkatiri disse que o partido respeitará qualquer decisão do Tribunal de Recurso ao qual cabe a validação final dos resultados eleitorais.
"O Tribunal é tribunal, e num Estado de direito democrático a decisão final é do tribunal e qualquer pessoa que tenha sentido de Estado vai ter que aceitar", disse.
Considerando que o facto da Fretilin ter crescido significativamente no seu apoio eleitoral implica que "não houve derrota mas sim uma vitória adiada", Alkatiri admitiu que pode afastar-se da liderança do partido.
"A idade conta e pesa. Estar e continuar na Fretilin sim, estarei. Liderar vamos ver", disse numa conversa à margem de um concerto na CCF que assinala hoje o 44º aniversário da Associação Social Democrática de Timor-Leste (ASDT), segundo partido criado em Timor-Leste e que em setembro de 1974 se transformou na Fretilin.
Os comentários de Alkatiri foram feitos horas depois do partido ter apresentado no Tribunal de Recurso, em Díli, um recurso contra a ata de apuramento nacional dos resultados.
"O recurso foi entregue aqui hoje. Ainda está a ser considerado. O Tribunal tem 48 horas para se pronunciar, segundo a lei", confirmou à Lusa uma fonte do Tribunal de Recurso.
O assunto foi uma das questões abordadas hoje numa reunião do Comité Central da Fretilin (CCF) na sede do partido em Díli.
Recorde-se que na quinta-feira o líder da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) e ainda primeiro-ministro, Mari Alkatiri confirmou que o partido estava a realizar investigações a supostas irregularidades durante a votação, particularmente centradas no enclave de Oecusse.
Um dos resultados mais surpreendentes da votação de sábado ocorreu na Região Administrativa Especial de Oecusse-Ambeno (RAEOA), em que a Aliança de Mudança para o Progresso (AMP) bateu a Fretilin de Mari Alkatiri - que geriu a região durante vários anos - por uma diferença de mais de 11.600 votos.
Apesar de líderes da Fretilin continuarem a gerir a região, o partido obteve apenas 10.800 votos contra os mais de 22.400 da AMP. Em 2017 a diferença foi de apenas 45 votos.
A derrota levou Arsénio Bano - que ficou a assumir o cargo de presidente interino da RAEOA em substituição de Mari Alkatiri, quando este assumiu o cargo de primeiro-ministro em 2017 - a fazer um pedido de desculpa público no Facebook.
O escrutínio municipal e apuramento nacional confirmaram que a Aliança de Mudança para o Progresso (AMP) venceu as eleições legislativas com mais de 305 mil votos, ou 49,6% do total, o que lhe dá 34 dos 65 mandatos do Parlamento Nacional e a possibilidade de formar o VIII Governo constitucional sem necessitar de qualquer apoio adicional.
Em segundo lugar ficou a Fretilin, que liderou a coligação minoritária do anterior Governo, e que obteve mais de 213 mil votos, ou 34,2% do total, mantendo o mesmo número de deputados, 23.
No Parlamento estará também o PD, parceiro da Fretilin no VII Governo, e que perdeu dois deputados para cinco, tendo obtido mais de 50 mil votos ou 8,1% do total, e a Frente de Desenvolvimento Democrático (FDD) que obteve 34 mil votos (5,5%) do total e 3 deputados.