O maior partido no parlamento timorense, Fretilin, disse hoje estar disponível para um diálogo para resolver a situação política em Timor-Leste, mas só se participarem todas as forças parlamentares.
"Estou disposto a conversar, com iniciativa presidencial, mas com todos os partidos no parlamento. Porque tenho muita coisa para falar e gostaria que todos falassem", disse à Lusa o secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), Mari Alkatiri.
"Para mim um diálogo com todos é a melhor solução, para que haja respeito pelos grandes e pelos pequenos partidos", afirmou.
Mari Alkatiri reagiu assim, em declarações à Lusa, a um comunicado do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), segunda força política, que apelou ao Presidente timorense para promover um diálogo entre os dois partidos.
"Não estou a ver que contribua para alguma coisa separar os dois maiores, Fretilin e CNRT", considerou, questionado sobre essa proposta.
"Não tem lógica nenhuma, este diálogo. Vem a propósito de quê? Porquê bilateral e porque não todos os partidos que estão no parlamento, sentarem-se juntos", questionou.
Apesar de insistir que "não há qualquer problema bilateral" entre os dois partidos, Mari Alkatiri responsabilizou o líder do CNRT, Xanana Gusmão, pelo impasse que se vive no país e que começou com a aliança de três forças políticas ao seu Governo em 2017.
"Este impasse político foi provocado por Xanana Gusmão e o seu partido que, posteriormente e com mais dois partidos formaram a Aliança de Mudança para o Progresso (AMP), aquela aliança contranatura", salientou.
Alkatiri referia-se à aliança parlamentar que chumbou o programa do Governo que liderava em 2017, forçando a realização de eleições antecipadas em 2018, nas quais a AMP obteve maioria absoluta.
A AMP, consituída pelo CNRT, Partido Libertação Popular (PLP) e Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO), dissolveu-se, na sequência do `chumbo` do Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2020. CNRT e KHUNTO integraram uma nova aliança sem o PLP, do primeiro-ministro Taur Matan Ruak, ainda que mantenham vários membros no atual executivo.
Recentemente, o KHUNTO anunciou que não quer participar na nova aliança liderada pelo CNRT, e voltou a apoiar o VIII Governo para o qual vão entrar membros da Fretilin no quadro de uma plataforma de entendimento entre este partido e o PLP.
"Neste momento, a Fretilin está mais interessada em viabilizar o VIII Governo e não em tornar este problema num assunto bilateral da Fretilin e do CNRT", afirmou Alkatiri, insistindo que o partido não entra para substituir o CNRT.
"Não há interesse nenhum da Fretilin em dizer que outros membros do Governo devem sair. A Fretilin não quer substituir o CNRT, não é essa intenção", considerou.
Caso o CNRT decida continuar no Governo, tem de mostrar que apoia o executivo, adiantou.
"A verdade é esta: se continuam no Governo a bancada do CNRT deve colaborar com o Governo, não opor-se ao Governo", disse, afirmando que se o CNRT decidir retirar os elementos do Governo a Fretilin não exclui apresentar mais elementos para o elenco governativo.
"Se queremos viabilizar este Governo, então não o vamos deixar cair", disse.
Questionado sobre se a Fretilin gostaria de ver reeditado o cenário do VI Governo (2015-2017), que integrou membros de vários partidos e quase unanimidade no parlamento, Alkatiri disse que a situção é diferente.
"Em 2017 foi uma iniciativa unilateral nossa, da Fretilin, a querer abrir uma nova página para a história da democracia timorense", disse, para explicar o apoio ao Governo então liderado pelo CNRT.
"Agora não. Agora é tempo de se fazer uma síntese clara, saber porque chegámos a esta situação. Para que este tipo de atitudes, este tipo de exercício do poder, mude definitivamente", considerou.
Por isso mesmo, a solução não passa apenas pelos dois maiores partidos, sublinhou. "Os dois partidos, por maiores que sejam, não resolvem. É preciso incutir uma nova cultura e vida institucional no país", afirmou Alkatiri.
Questionado sobre a proposta do CNRT hoje apresentada ao Presidente timorense, no mesmo dia em que deputados do partido apresentaram uma ação no Tribunal de Recursos a acusar o chefe de Estado de graves violações constitucionais, Alkatiri disse tratar-se de "uma manobra".
"É uma contradição, mas com intenção por trás. Não é ingenuidade. É uma manobra dilatória, uma tentativa de fazer parecer como estando cheios de vontade de resolver os problemas quando penso que ainda não chegaram lá mesmo", afirmou.