A aliança de esquerda, que venceu as eleições legislativas em França sem maioria absoluta, afirmou hoje querer implementar o seu programa de rutura, mesmo que com alianças, à medida que emergem candidatos para liderar o governo.
Após a vitória frente à extrema-direita e ao partido presidencial, a Nova Frente Popular - que reúne o Partido Socialista, França Insubmissa (LFI), os Ecologistas e o Partido Comunista Francês - iniciou hoje as negociações para encontrar um candidato consensual para ser primeiro-ministro, dificultadas pelas divisões internas.
Olivier Faure, líder dos socialistas, disse hoje estar "pronto para assumir o papel" de chefe do governo, sendo descrito por um alto funcionário do partido citado pela AFP como "o único perfil que pode tranquilizar".
A LFI, esquerda radical, com mais representação na aliança, apresenta como candidata Clémence Guetté, deputada de 33 anos, popular entre os ativistas e muito menos divisiva do que o líder Jean-Luc Mélenchon, que é indesejado mesmo entre alguns no seu próprio campo.
Também a dissidente do LFI, Clémentine Autain, e a ecologista Marine Tondelier são por vezes mencionadas em meios ligados às negociações.
François Hollande, que após ter sido Presidente francês entre 2012 a 2017 voltou ao cenário político sendo eleito na sua cidade natal de Tulle, no sudoeste de França, juntou-se a outros membros do Partido Socialista diante de dezenas de jornalistas.
O antigo Presidente francês é agora visto como um ator-chave na política, já que a coligação de esquerda e os centristas de Macron estão em contactos para tentar formar um governo.
"Na minha opinião, o povo francês enviou-nos uma mensagem clara. Não quiseram dar a maioria absoluta a nenhum bloco político específico e estão a ordenar-nos que nos ouçamos uns aos outros, que trabalhemos em conjunto e é isso que temos de fazer", disse Yael Braun-Pivet, membro da aliança centrista de Macron e ex-presidente do parlamento, acrescentando que os partidos de esquerda "não podem ter a pretensão de governar sozinhos".
No entanto, a deputada da LFI Mathilde Panot afirmou que os deputados do seu partido "vão à Assembleia Nacional não como uma força de oposição... mas como uma força que pretende governar o país".
A Nova Frente Popular "é a principal força republicana neste país e é, portanto, sua responsabilidade formar um governo (...) para implementar as políticas públicas esperadas pelo povo francês", disse a deputada Verde Cyrielle Chatelain.
O coordenador do LFI, Manuel Bompard, avisou que a esquerda vai aplicar o seu programa, deixando ao critério de cada grupo votar a favor das propostas do partido ou anularem-nas, querendo rever várias medidas emblemáticas do Governo cessante, como a reforma das pensões, a lei da imigração, bem como aumentar o salário mínimo.
Na segunda-feira, o Presidente francês, Emmanuel Macron, antecipou a complexidade das discussões, pedindo ao seu chefe de governo Gabriel Attal que não se demitisse para "garantir a estabilidade do país", que irá receber os Jogos Olímpicos em menos de três semanas.
Emmanuel Macron parte na quarta-feira, 10 de julho, para uma cimeira da NATO em Washington, numa altura em que o país vive uma situação sem precedentes, que pode aumentar o risco de paralisia na segunda maior economia da União Europeia.
Já no partido de extrema-direita União Nacional (RN), que esperava nomear o seu presidente, Jordan Bardella, como primeiro-ministro antes de ficar em terceiro lugar nas eleições, reconheceu "erros" na sua campanha, marcada por comentários racistas por parte de muitos candidatos.
As eleições, que elegem os 577 deputados do Parlamento, resultaram na eleição de 182 deputados de esquerda, 168 da coligação presidencial Juntos (Ensemble, em francês) e 143 do RN, e nenhum dos principais blocos conseguiu obter uma maioria absoluta (289 lugares).