O agente da polícia francesa que disparou sobre Nahel M., de 17 anos, na sequência de uma operação stop no subúrbio parisiense de Nanterres, foi presente a juiz ao fim da tarde e acusado de homicídio voluntário, confirmando-se a sua prisão preventiva.
A procuradoria de Nanterres já tinha considerado que o agente de segurança, entretanto detido e colocado sob prisão preventiva, tinha disparado de forma abusiva sobre o adolescente, quando este se pôs em fuga ao volante de uma viatura por não ter carta de condução.
"O agente referido hoje como parte de uma investigação judicial por homicídio doloso foi indiciado por este crime e colocado em prisão preventiva ”, referiu a procuradoria de Nanterre em comunicado de imprensa.
Os sindicatos policiais já contestaram as palavras do procurador e do próprio Presidente sobre a conduta do polícia motorizado, considerando-as uma "ingerência num processo criminal em curso" e denunciando a "pressão" feita sobre os magistrado. "Estamos aterrados com estas requisições aberrantes", reagiu Davido Reverdy, do sindicato Aliance.
"A justiça da rua e das redes sociais faz vacilar o poder, que se engana ao pensar que consegue a paz social com declarações com as do Presidente da República, que condenou de antemão o nosso colega", acrescentou Reverdy.
Marcha branca termina em confrontos
O incidente ocorrido terça-feira tem estado a provocar violentos protestos, sobretudo em Paris. Foram detidas mais de 150 pessoas.
Esta quinta-feira, uma "marcha branca" convocada pela mãe do rapaz, e em honra de Nahel, atraiu mais de seis mil pessoas.
No final ocorreram novos confrontos com a polícia nas franjas do cortejo. Jovens vestidos de negro destruíram uma paragem de autocarros, incendiaram caixotes de lixo e forçaram a porta de entrada de um Crédit Mutuel.
No final ocorreram novos confrontos com a polícia nas franjas do cortejo. Jovens vestidos de negro destruíram uma paragem de autocarros, incendiaram caixotes de lixo e forçaram a porta de entrada de um Crédit Mutuel.
"Não me zango com eles mas perdemos toda a legitimidade" comentou um participante na marcha ao ver os desacatos a um jornalista do Le Monde.
As autoridades de Paris decretaram entretanto a paragem de elétricos e autocarros a partir das 21h00 locais (19h00 GMT) na região da Ile-de-France, para tentar controlar os protestos que agitam a cidade,
e encerrou a estação de metro de Porte-de-Douai. A circulação de
autocarros nocturnos não se irá realizar estas quinta e sexta-feiras.
Apelo à calma
Mais de 40.000 polícias foram mobilizados em toda a França, para controlar e evitar distúrbios. A polícia de intervenção foi enviada para Nanterre.
A primeira-ministra francesa em exercício, Elisabeth Borne, apelou à calma de forma a "deixar a justiça fazer o seu trabalho". "É a Justiça e somente ela que pode estabelecer a verdade e acalmar a cólera", sublinhou.
"Apelo ao apaziguamento e à calma. Destruir o seu próprio bairro, os seus equipamentos - escolas, transportes públicos, edifícios camarários, não irá resolver nada. Hoje a investigação está a avançar, deixemo-la prosseguir serenamente", apelou Elisabeth Borne.
O reitor da Grande Mesquita de Paris pediu igualmente em comunicado, "particularmente aos jovens", para não reagir "com violência à morte" de Nahel, apesar de considerar "legítimas a incompreensão, a dor e a cólera" expressas. Chems-eddine Hafiz recomendou mobilizações pacíficas e com respeito pela memória de Nahel, "para que seja feita justiça".
Foi entretanto decretado o recolher obrigatório em Clamart, Haut-de-Seine, como medida preventiva de desacatos. Em Toulouse, os responsáveis municipais apelaram "à responsabilidade", quando está marcada uma nova manifestação no bairro de Mirail.