Cinco mulheres afegãs, incluindo uma com três filhos, aterraram esta segunda-feira à tarde no aeroporto Charles-de-Gaulle, em Paris, depois de terem sido "ameaçadas pelos taliban" e estarem exiladas há meses no Paquistão. Uma luz ao fundo do túnel - encontrada por ativistas e defensores dos Direitos Humanos Humanos que apelam à implementação de um corredor humanitário "feminista" - para centenas de mulheres nesta situação.
Particularmente expostas e ameaçadas pelo regime taliban, as mulheres que chegaram hoje a França têm em comum a posição importante que ocupavam então na sociedade afegã: antiga diretora de uma universidade, consultora em ONG, apresentadora de televisão ou professora numa “escola secreta de Cabul”.
"De acordo com as instruções dadas pelo presidente da República, está a ser dada uma atenção especial às mulheres ameaçadas pelos taliban porque ocupam posições importantes na sociedade afegã (...) ou têm contactos estreitos com ocidentais. É o caso das cinco mulheres que chegaram hoje", avançou Didier Leschi, diretor-geral do Serviço Francês de Imigração e Integração (OFII, sigla em francês), organismo tutelado pelo ministério do Interior, à agência noticiosa France Presse.
Operação Apagan - exfiltração de afegãs para França
Num primeiro momento, estas mulheres serão alojadas num centro de “trânsito” na região de Paris, registadas como requerentes de asilo e encaminhadas para um alojamento de “longa duração”, enquanto o Gabinete Francês de Proteção dos Refugiados e Apátridas (OFPRA) analisa e toma uma decisão sobre os seus casos, explicou Didier Leschi.
"A operação "Apagan" (de exfiltração de afegãos para França) prossegue silenciosamente", acrescentou.
Após a queda do governo a 15 de agosto de 2021, e consequente deterioração da situação de segurança no país, o presidente francês, Emmanuel Macron, prometeu que a França permaneceria “ao lado das mulheres afegãs”, no meio de uma operação de evacuação.
Autorizou então uma missão de evacuação do Afeganistão, através do envio de meios aéreos, batizada Operação Apagan, realizada pelo Ministério francês das Forças Armas, em estreita coordenação com o Ministério francês da Europa e dos Negócios Estrangeiros.De acordo com as autoridades francesas, entre a primavera de 2021 e o final de julho de 2023, mais de 15 mil pessoas foram evacuadas.
Como parte da operação “Apagan”, trata-se da primeira operação de evacuação de mulheres afegãs para França provenientes do Paquistão, há muito esperada pelos seus defensores, e é “suscetível de ser repetida se outras mulheres com este perfil tiverem encontrado refúgio no Paquistão", confirmou Didier Leschi.
De acordo com Delphine Rouilleault, diretora-geral da associação humanitária France Terre d'Asile, cujo centro as acolherá inicialmente, a chegada destas mulheres é “uma boa notícia”, mas não é “o resultado de uma decisão política”, mas sim “duramente conquistada” por ativistas que lutaram “para obter vistos” para estas mulheres.
Centenas de mulheres afegãs negligenciadas
Apesar do apoio prometido pelo presidente francês, dois anos depois "as mulheres, sobretudo as solteiras que não possuem as competências interpessoais necessárias, foram largamente negligenciadas", lamenta o grupo Accueillir les Afghanes, dirigido por jornalistas, num artigo publicado no jornal francês Le Monde, no final do mês de abril.
LE SOURIRE DE L’APRÈS. Cet aprem, 5 baddass que nous avions rencontré avec @B_Margaux Zakia, coiffeuse, Naveen, chercheuse, Muzghan, star TV, et Najla, présidente de fac arrivent à Paris. Un dispositif d asile féministe est donc possible. #accueillirlesafghanes @Franceterdasile pic.twitter.com/GahiKUNtGa
— SoleneChalvon.Fioriti (@SolchalvonF) September 4, 2023
Merci @gouvernementFR de montrer que c’est possible donc.
— Najat Vallaud-Belkacem (@najatvb) September 4, 2023
Prochaine étape : sortir du compte-goutte pour mettre en place un véritable SAS humanitaire à l’attention de ces #afghanes en fuite et coincées dans les pays voisins. @Franceterdasile à votre disposition. https://t.co/Air9SCrxFb