Fotografia de cadastro é histórica mas não deverá reduzir peso político de Trump

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Gabinete do Xerife do Condado de Fulton via Reuters

Donald Trump vai ficar para a história dos Estados Unidos como o primeiro ex-presidente a ter uma fotografia com registo criminal. Mas a mugshot dificilmente prejudicará Trump politicamente e está já a ser usada pelo republicano como uma alavanca política.

Trump entregou-se, na quinta-feira, às autoridades da Geórgia, Estado onde é acusado de reverter os resultados das eleições presidenciais de 2020.

O ex-presidente dos EUA ouviu a acusação, foi fotografado e, meia hora depois, saiu em liberdade após pagar a caução de 200 mil dólares.
Afinal, Trump continua a ser o candidato favorito nas primárias do Partido Republicano, apesar de enfrentar um total de 91 acusações criminais em quatro processos. Para qualquer outro político, ser alvo de acusações criminais e ter uma mugshot seria uma sentença de morte para a sua carreira. Mas para Donald Trump pode ser uma alavanca.


Para os milhões de apoiantes que acreditam que Trump é vítima de perseguição, as recentes acusações apenas reforçam a sua imagem como mártir político e as sondagens confirmam-no.

As recentes sondagens mostram que o apoio a Donald Trump aumentou durante os processos criminais de que é alvo.

Segundo os dados desta sondagem da Associated Press, 63 por cento dos republicanos querem que Trump concorra novamente às eleições presidenciais norte-americanas de 2024 – um aumento em relação a abril, quando o apoio era de apenas 55%.

A reputação de Trump também parece continuar consolidada entre os republicanos, já que a maioria dos candidatos levantou a mão, durante o debate de quarta-feira, quando questionados se apoiariam o ex-presidente como candidato presidencial caso este fosse condenado. A Constituição dos EUA permite que um candidato possa concorrer à presidência e ser eleito mesmo que seja condenado num processo criminal.

Trump tem consciência de que os recentes eventos podem jogar a seu favor politicamente. Prova disso foi o seu regresso à rede social X (antigo Twitter) na quinta-feira.

O ex-chefe de Estado partilhou a histórica fotografia tirada na prisão de Atlanta, naquela que foi a sua primeira publicação naquela rede social desde janeiro de 2021, quando o Twitter suspendeu a conta do político indefinidamente, alguns dias depois do ataque ao Congresso norte-americano, cometido por apoiantes.


Trump publicou a fotografia e escreveu: "Interferência eleitoral. Nunca se render!", juntamente com uma ligação para a sua página na Internet.

Menos de uma hora depois de publicado, o post de Trump contava já com mais de 14 milhões de visualizações.
“Não vou desistir da nossa missão de salvar a América”
Na sua página da Internet, Trump nega ter cometido qualquer irregularidade e insiste que as acusações de que é alvo têm motivações políticas.

“Hoje fui detido apesar de não ter cometido nenhum crime”, diz Trump.

“A esquerda quer intimidar-vos para que não votem num político que coloca o povo americano em primeiro lugar”, acrescenta. “Não vou desistir da nossa missão de salvar a América”, garante.

Trump apela aos donativos “para expulsar o desonesto Joe Biden da Casa Branca e salvar a América durante este capítulo sombrio da história da nossa nação”.

Indiciado de tentativa de fraude nos resultados das eleições no Estado da Geórgia, Donald Trump enfrenta 13 acusações, entre as quais a violação de uma lei de anticorrupção que implica pena de prisão.

O ex-presidente norte-americano é ainda alvo de outros três processos criminais por alegada tentativa de alterar o resultado das eleições presidenciais de 2020.
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