Há mais de uma década que a NASA sobrevoa a massa polar ártica e o mar circundante, registando imagens da evolução do gelo. Este ano, contudo, a Operation IceBridge registou fenómenos até agora desconhecidos cuja explicação científica não é imediata.
Os investigadores nunca viram nada semelhante e reconhecem que não sabem o que são nem uns nem outros, ignorando como se formaram.
“Vimos esta espécie de formas circulares apenas durante uns minutos, hoje”, escreveu um dos membros da equipa, John Sonntag. “Não me lembro de ter visto isto noutro lado qualquer”, acrescentou.
Foi o próprio Sonntag quem tirou a fotografia a partir da janela do avião de pesquisas P-3, quando sobrevoava o Mar de Beaufort.
Na altura, as coordenadas apontavam 69.71°norte e 138.22° oeste, cerca de 50 milhas a noroeste do delta do rio MacKenzie, no Canadá.
O objetivo principal nesse dia era observar o gelo formado no mar numa área estudada pela última vez em 2013.
Gelo muito fino e flexível
Para já, os fenómenos são apenas intrigantes e algumas hipóteses de explicação científica já estão a ser avançadas.
Os membros da equipa da NASA acreditam desde já, com algum grau de certeza, que a área está a ficar coberta por gelo relativamente recente, “novo”, tão fino que esteja ainda flexível, o que explicaria as ondulações na superfície.
"O gelo é provavelmente muito fino, suave e lamacento, de certa forma maleável", adiantou Don Perovich, geofísico especialista em gelo marinho, na Universidade de Dartmouth. "Isto pode ser observado nas formações semelhantes a ondas à frente das amoebas do meio".
Explicar os buracos e a sua envolvente - as amoebas da foto - é mais complicado.
Envolventes intrigantes
Perovich notou que pode estar a ocorrer um movimento geral do novo gelo da esquerda para a direita, tal como indicam linhas entrelaçadas - as finger rafting - à direita na imagem.
Estas linhas de gelo ocorrem quando duas correntes de gelo fino se encontram e chocam. Em resultado dessa colisão, blocos de gelo deslizam uns sobre os outros num padrão que parece um fecho de correr ou dedos entrelaçados.
“É, definitivamente, uma área de gelo fino, já que se podem observar linhas entrelaçadas perto da orla dos buracos e a cor é suficientemente cinzenta para indicar uma cobertura de neve escassa”, afirmou um dos cientistas que segue a missão, Nathan Kurtz.
“Não tenho a certeza que dinâmicas poderiam levar à formação das características semicirculares que envolvem os buracos. Nunca tinha visto nada assim”, acrescentou.
Focas ou água quente
Os buracos em si poderão ter sido feitos por mamíferos, por exemplo focas, que furam o gelo para poderem respirar. Não foram observados quaisquer animais nas proximidades durante a missão pelo que, se foram eles, já não se encontram nas imediações.
"As formações envolventes podem dever-se a ondas de água empurradas para cima da neve e do gelo quando as focas vêem à superfície", adianta Walt Meier, cientista de Centro Nacional de Dados sobre Neve e Gelo.
"Ou pode ser uma espécie de drenagem resultante de quando o buraco foi feito na superfície", acrescenta.
Outra explicação possível para os buracos é água mais quente sob o gelo e que derreta a superfície, o que é difícil confirmar numa observação aérea.
Chris Polashenski, um cientista de gelo marinho no Laboratório de Pesquisa de Regiões Geladas, diz que já viu padrões semelhantes mas não tem nenhuma explicação científica sólida.
Concorda com a possibilidade de buracos para respiração mas também admite que sejam causados por convexão.
“Esta é geralmente água muito superficial, por isso a probabilidade é grande que sejam apenas fontes termais ou infiltrações de água vinda das montanhas cuja presença se revela nesta área", diz por seu lado Chris Shuman, um glaciologista da Universidade de Maryland, em Baltimore County destacado para o Centro de Voos Espaciais da NASA.
"A outra possibilidade é que água mais quente das correntes do Beaufort ou vindas do rio Mackenzie consigam chegar à superfície devido à interação com a profundidade" ali verificada.