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Forças de segurança do Senegal dispersam manifestantes com gás lacrimogéneo

por Lusa

As forças de segurança senegalesas dispersaram hoje com gás lacrimogéneo grupos de manifestantes em Dacar, num dia marcado por protestos que testam o equilíbrio de forças entre o Governo do Presidente, a sociedade civil e a oposição.

Grupos que tentavam aproximar-se de uma zona central na capital foram mantidos à distância por polícias com equipamento antimotim que dispararam gás lacrimogéneo. Alguns manifestantes responderam, atirando pedras.

Todos os acessos à praça foram encerrados, segundo a agência de notícias France-Presse (AFP).

"A situação é deplorável, viemos rezar e fomos atingidos por gás lacrimogéneo, o que é intolerável. O povo senegalês deve indignar-se, e não apenas nas redes sociais", declarou à AFP um dos candidatos presidenciais, Thierno Alassane Sall.

Esta mobilização é o primeiro grande protesto desde o adiamento das eleições presidenciais, inicialmente previstas para 25 de fevereiro, decisão que desencadeou uma grave crise política no Senegal e mergulhou o país num período de incerteza.

Na mesquita de Masjidounnour, em Dacar, para a principal oração muçulmana de hoje, apenas alguns fiéis estavam vestidos de branco e com as cores nacionais, em resposta à proposta de um coletivo de grupos de cidadãos, organizações religiosas e profissionais que se opõem ao adiamento.

Na sua pregação, o imã Ahmed Dame Ndiaye denunciou a situação política. "Até o Presidente pode cometer erros e, nesse caso, cabe-nos a nós dizer-lhe a verdade", afirmou, acrescentando que "ninguém tem o direito de assistir à destruição da sociedade".

Para Souleymane Ndiaye, o Presidente, Macky Sall, "voltou atrás na sua palavra e isso é uma vergonha para todos os senegaleses", concluindo: "A sua palavra é sagrada".

De manhã, os professores já tinham dado o mote com greves nas escolas. No Liceu Blaise Diagne, em Dacar, centenas de estudantes abandonaram as aulas pela manhã, como Seynabou Ba, de 18 anos, que disse "já não ter esperança" na democracia do seu país.

"Não se trata apenas de um problema de educação, é um problema geral", disse Assane Sene, professora de história e geografia na escola. "Isto é apenas o início de uma luta. Se o Governo persistir, seremos obrigados a tomar outras medidas", afirmou.

O decorrer do dia mostrará a força do protesto contra a decisão, sem precedentes desde a independência em 1960, de adiar as eleições presidenciais por 10 meses.

A indignação foi amplamente partilhada nas redes sociais. A oposição grita "golpe constitucional" e suspeita de uma conspiração para impedir a derrota do candidato do campo presidencial, ou mesmo para manter o Presidente à frente do país por mais alguns anos.

Um grupo de candidatos da oposição interpôs um recurso junto do Supremo Tribunal durante a tarde.

Desde o anúncio do adiamento, no sábado, dia em que se deveria ter iniciado a campanha eleitoral, as tentativas de manifestação foram reprimidas e dezenas de pessoas foram detidas.

As manifestações estão sujeitas a autorização e não há qualquer indicação de que tenha sido apresentado um pedido para a manifestação na zona central da capital. Nos últimos anos, as autoridades têm proibido e impedido sistematicamente a realização de manifestações deste tipo.

Uma dezena de candidatos que se opõem à mudança de calendário, dos 20 selecionados pelo Conselho Constitucional, manifestaram o desejo de convergir com a sociedade civil.

No sábado, o Presidente decretou o adiamento das eleições presidenciais, apenas três semanas antes da data prevista, quando se vive uma batalha política sobre os candidatos que seriam aceites ou rejeitados para o escrutínio.

Na segunda-feira, a Assembleia Nacional aprovou um adiamento para 15 de dezembro, com os votos do campo presidencial e dos apoiantes de um candidato que tinha sido rejeitado, e sob a proteção das forças de segurança, que retiraram do hemiciclo os deputado da oposição que contestaram a votação.

O mesmo órgão votou igualmente a favor da manutenção do Presidente no poder até à tomada de posse do sucessor, provavelmente no início de 2025. O segundo mandato de Sall terminaria oficialmente a 02 de abril.

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