O mais recente Relatório Mundial da Felicidade, publicado na quinta-feira, Dia Internacional da Felicidade, dá conta de que a Finlândia mantém o estatuto de país mais feliz do mundo pela oitava vez seguida. No top 5 figuram ainda Dinamarca, Islândia, Suécia e Países Baixos.
A quebrar a geografia está a Costa Rica, pela primeira vez. Porém, logo a seguir surge novamente a região nórdica a pontuar com a Noruega. Segue-se Israel, no oitavo lugar, depois o Luxemburgo e, na 10ª posição, o México.
No lado oposto do índice, o país mais infeliz é o Afeganistão. No grupo dos dez mais tristes figuram a Serra Leoa, Líbano, Malawi, Zimbábue, Botsuana, República Democrática do Congo, Iémen, Comores e Lesoto.
Portugal ocupa o 60.º lugar.
Este relatório da
Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da ONU, com 260 páginas, é elaborado pelo Centro de Investigação de Bem-Estar da Universidade de Oxford, em parceria com a Gallup World, empresa norte-americana de sondagens. O estudo avalia diversas variáveis como a saúde, riqueza, liberdade, generosidade e ausência de corrupção, para medir a felicidade geral nas sociedades com base em avaliações autorrelatadas de
147 países.
Todos os anos, os autores investigam tópicos relacionados com felicidade para construir um quadro amplo de questões que afetam as pessoas. O foco, em 2025, é “o impacto do cuidado e da partilha na felicidade das pessoas”.
Infelicidade dos EUA
O relatório destaca o 24.º lugar ocupado pelos Estados Unidos, que continua na trajetória descendente desde o 11ª posição em 2012, quando esta análise começou.
O estudo sublinha a sensação de isolamento social nos EUA, contrastando com países como o México, que está entre os dez países mais felizes deste ano.É apontado que fatores como partilhar refeições regularmente ou viver em casas maiores contribuem para o bem-estar das pessoas.
De acordo com o relatório, o índice de pouca felicidade norte-americana deve-se à solidão, sobretudo “comer sozinho”. “Em 2023, aproximadamente um em cada quatro americanos relatou ter feito todas as refeições sozinho – um aumento de 53 por cento desde 2003”, reporta o documento.
“Jantar sozinho tornou-se mais comum em todas as faixas etárias, mas especialmente entre os jovens”, refere o relatório. “Partilhar refeições tem um forte impacto no bem-estar subjetivo – a par da influência do rendimento e do desemprego”. E “isso é uma realidade em todas as idades, géneros, países, culturas e regiões”.
Em contrapartida, as refeições em família continuam a ser uma forte tradição na Finlândia: 81 por cento dos agregados familiares com crianças comem juntos, pelo menos uma vez por dia.
As famílias maiores também “oferecem uma vantagem potencial no fomento de interações sociais positivas”, o que pode explicar a razão pela qual México e Costa Rica – classificados em sexto e décimo lugar neste ano – figuram à frente de muitos países europeus, apesar de terem menor riqueza geral", de acordo com o relatório.
“As sociedades latino-americanas, caracterizadas por famílias maiores e fortes laços familiares, oferecem lições valiosas para outras nações que procuram um bem-estar maior e mais sustentável”.
"Mortes por desespero"
As “mortes por desespero” diminuíram em 75 por cento em 59 países, embora permaneçam altas em nações como Coreia do Sul e Eslovénia.
Porém, os Estados Unidos têm visto um aumento médio anual de 1,3 mortes por 100 mim habitantes. Portanto, são caracterizados "por níveis altos e crescentes de mortes por desespero. A República da Coreia e a Eslováquia têm o segundo e o terceiro maior aumento anual em mortes por desespero, com aumentos médios anuais abaixo de um", explica o documento.
"Entre os países da Europa Ocidental, as taxas de crescimento anual nos Países Baixos, Portugal, Grécia e Reino Unido são positivas, mas muito próximas de zero" acrescenta.
Atração pelos extremos
O relatório observa também que a insatisfação entre várias fações da sociedade contribui para uma infelicidade generalizada, desencadeando uma crescente polarização política – uma tendência observada nos EUA e também na Europa.
“O declínio na satisfação com a vida explica o aumento geral nos votos antissistema, mas a confiança nos outros entra na equação. Entre os indivíduos infelizes atraídos pelos extremos do espectro político, aqueles com baixa confiança são mais frequentemente encontrados na extrema direita, enquanto os indivíduos com alta confiança são mais inclinados a votar na extrema esquerda”, sustenta o estudo.
Receita finlandesa
“A felicidade não é apenas sobre riqueza ou crescimento económico – é sobre confiança, segurança, laços e saber que as pessoas estão ao seu lado”, realça Jon Clifton, CEO da Gallup. “Se quisermos comunidades e economias mais fortes, precisamos de investir no que realmente importa: cuidar e estar uns com os outros".
Estas relações humanas, ao serem reforçadas e ampliadas, refletem-se em maior coesão social.
Citado na BBC, Jeffrey D. Sachs, presidente da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da ONU, sublinha que os dados apurados reconfirmam que "a felicidade está enraizada na confiança, na gentileza e na conexão social".
Essa coesão associada a uma rede de segurança social robusta revelou ser uma das principais características comum aos países com classificação mais alta.
A Finlândia “tem sistemas de saúde, educação e apoio social universalmente disponíveis e de alta qualidade”, observa ainda o relatório. Como “a desigualdade de bem-estar é baixa”, há “uma necessidade correspondente menor de caridade privada”.
“Indicador da carteira”
Neste estudo foram destacadas respostas a perguntas sobre a benevolência dos outros. "Se perdeu a carteira e um estranho ou um vizinho ou um policia a encontrou, espera que eles a devolvam?". A esta questão a Finlândia pontuou bastante. Ou seja, no que os autores chamaram de “indicador de carteira”, foi demonstrado que as pessoas confiam nos seus concidadãos.
Desta forma, a investigação aponta outra descoberta importante. Existe uma forte correlação entre felicidade e a crença de que alguém poderá devolver uma carteira perdida, ou seja, salienta-se mais uma vez do indicador confiança. Embora pareça uma pequena ação, Clifton enfatizou que esse comportamento reflete forças sociais mais profundas.
John F. Helliwell, economista da Universidade da Colúmbia Britânica e editor fundador do relatório, argumentou também que os dados retirados das ações que implicou devolver a carteira mostraram que "os cidadãos são muito mais felizes vivendo onde acham que as pessoas se importam umas com as outras".
Múltiplas experiências e relatos internacionais de perda do porta-moedas recolhidos para esta investigação mostraram que a Finlândia e os outros países nórdicos estão entre os melhores sítios para se perder a dita carteira.