Financiamento prioritário para países em desenvolvimento na UNGA

por Lusa

A Assembleia Geral das Nações Unidas (UNGA, na sigla em inglês) será a melhor oportunidade para os países em desenvolvimento defenderem reformas das instituições financeiras internacionais e alívio da dívida, segundo analistas ouvidos pela Lusa.

Na visão de Richard Gowan, um especialista no sistema das Nações Unidas, Conselho de Segurança e em operações de manutenção da paz, a prioridade atual de muitos países em desenvolvimento é alcançar acordos para reformas no Banco Mundial e no Fundo Monetário Internacional (FMI) de forma a facilitar a obtenção de financiamento.

"Penso que muitos países africanos farão `lobby` para reformas nas instituições financeiras internacionais. O alívio da dívida e a ajuda ao desenvolvimento estarão no topo das suas prioridades", disse Gowan.

Nesse sentido, o analista considera que a reforma da própria ONU e do seu Conselho de Segurança - frequentemente considerado obsoleto - ficará para segundo plano nesta Assembleia Geral e não alcançará qualquer "progresso real".

"Penso que ouviremos muitos países do Sul Global enfatizarem a necessidade de reforma das instituições financeiras internacionais como uma prioridade maior do que a reforma da ONU. (...) Falar-se-á muito sobre a reforma da ONU, e especialmente sobre a reforma do Conselho de Segurança, mas não creio que veremos qualquer progresso real nesta sessão", anteviu Gowan.

Já Sarah Cliffe, diretora do Centro de Cooperação Internacional da Universidade de Nova Iorque, acredita que uma "voz forte" dos países africanos poderá conseguir levantar duas questões durante a UNGA: a urgência de uma política de ação em matéria de assistência socioeconómica e sobreendividamento; e a necessidade de esforços políticos concertados para restaurar a ordem constitucional nos países que sofreram golpes de Estado e prevenir novos casos.

"Este não é apenas um problema africano - o Afeganistão e Myanmar são outros exemplos - mas os recentes golpes de Estado no Níger e no Gabão, somando-se aos do Burkina Faso, Chade, Guiné, Mali e Sudão, fazem deste um desafio regional", apontou Cliffe, em entrevista à Lusa.

De acordo com a analista, na UNGA do ano passado houve "uma desconexão" entre os discursos dos líderes ocidentais, que se centraram na situação na Ucrânia, e dos líderes de países desenvolvimento, que optaram por concentrar os seus discursos nas questões socioeconómicas e na mitigação do impacto das alterações climáticas.

"Este ano é uma oportunidade para obter mais equilíbrio. A guerra na Ucrânia é obviamente importante, mas as pessoas em todo o mundo querem ouvir os seus líderes concentrarem-se nas suas preocupações diárias, desde o aumento da desigualdade e a falta de progresso no desenvolvimento para os jovens, até a eventos climáticos extremos e desastres naturais devido às mudanças climáticas", disse Sarah Cliffe.

Ainda sobre a guerra na Ucrânia, Richard Gowan, que é também diretor do departamento da ONU no `International Crisis Group`, indicou que muitos Estados africanos tentarão evitar tomar partido sobre o assunto, "embora alguns falem sobre o impacto da guerra na sua segurança alimentar e sobre a necessidade de se pôr fim às hostilidades em breve".

Gowan acredita ainda que os Estados da África Ocidental usarão a UNGA para concentrar a atenção no agravamento da segurança no Sahel, "que ameaça criar uma instabilidade ainda maior no próximo ano".

 

 

 

 

 

 

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