Fazendeiro que mandou matar freira americana condenado a 30 anos de prisão

por António Carneiro,RTP
O fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, guardado por agentes federais em Belém, depois de ter sido preso em 2005. Foi agora condenado a 30 anos de prisão por ter mandado matar uma freira americana de 73 anos, defensora da Amazónia. Paulo Santos, EPA

Um fazendeiro brasileiro acusado de ter mandado assassinar uma freira que trabalhava para defender a floresta amazónica, foi condenado a 30 anos de prisão. Vitalmiro Bastos Moura terá mandado assassinar a religiosa americana, porque esta o impedia a ele e a outro rancheiro, de se apropriarem de terras que o Governo tinha destinado aos pequenos agricultores.

O veredicto foi conhecido quando já era noite na cidade de Belém. O júri precisou de 15 horas de deliberações para declarar o fazendeiro culpado de mandar matar a irmã Dorothy Stang.

É a terceira vez que Vitalmiro Bastos Moura é julgado por este crime. Em 2007 tinha sido condenado a 38 anos de prisão, mas foi absolvido num segundo julgamento no ano seguinte. Suspeitas de que o fazendeiro tinha subornado uma das testemunhas-chave, levaram a que o tribunal o mantivesse na prisão

Dorothy Stang foi abatida a tiro em 2005, quando caminhava num trilho da floresta. O crime deu-se em Anapu, no Estado do Pará, junto à fronteira norte do Brasil onde fazendeiros e madeireiros tem vindo a desbastar grandes porções da floresta. 

A morte provocou reacções de indignação a nível internacional. A freira de 73 anos era natural de Dayton no Ohio e trabalhava desde há mais de três décadas para proteger a floresta tropical e defender os direitos dos mais pobres..

Os dois homens que apertaram o gatilho foram presos e condenados a pesadas penas de prisão. Durante o julgamento confessaram ter sido contratados por Vitalmiro Moura e por outro fazendeiro para matarem a freira.

Impunidade tem sido a regraO caso está a ser visto como um teste à capacidade das autoridades brasileiras, de combaterem a quase total impunidade que reina na região amazónica, tanto no que respeita ao assassínio de activistas, como à desflorestação ilegal.

Estima-se que nas últimas duas décadas, mais de 1200 pessoas foram mortas em conflitos por causa de terras no território do Brasil, a maior parte delas na região amazónica. Oitenta por cento dos executores dos crimes estão por trás das grades, mas os poderosos fazendeiros que, segundo a acusação, encomendaram os assassínios nunca foram condenados.

Se a condenação de Vitalmiro Bastos Moura não for anulada, será a primeira vez que o mandante da morte de um activista é condenado prisão efectiva pela justiça brasileira.

Regivaldo Galvão, o outro fazendeiro que terá ajudado a orquestrar o assassínio de Dorothy Stang, deve ser começar a ser julgado no final do mês.

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